O Conselho de Ética do Solidariedade abriu processo contra o diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud, preso por obstrução da Justiça após a quebra do acordo de delação premiada. Filiado desde 2016 ao partido fundado pelo deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, Saud é secretário de Ações Institucionais e Governo do Solidariedade.
A direção nacional do partido diz que o processo foi aberto em razão das “informações à volta da delação da JBS” e que o executivo da J&F não financiou a criação da legenda. Segundo Paulinho da Força, Saud se filiou ao Solidariedade por Minas Gerais porque pretendia se candidatar a deputado e que, a despeito do cargo que ocupa no partido, era pouco atuante.
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Com a expulsão, a cúpula do Solidariedade tenta se desvencilhar da suspeita levantada pela Polícia Federal de que Ricardo Saud ajudou a legenda com recursos ilegais da J&F. Os investigadores apuram se o executivo irrigou de maneira ilícita a criação da sigla, em 2013.
O Solidariedade se reúne em convenção nacional na próxima sexta-feira (22), em São Paulo. Na ocasião, já avisou a direção, Saud não será reconduzido ao cargo.
Paulinho da Força é investigado em dois inquéritos da Lava Jato abertos com base nas delações da Odebrecht. Delatores da empreiteira afirmam que repassaram ao deputado R$ 200 mil, em 2010, e R$ 1 milhão, em 2014, a pretexto de campanha eleitoral. Parte dessa quantia foi dada, conforme a acusação, em contrapartida para segurar greves no Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira.
Acordo rescindido
O acordo de colaboração premiada do grupo J&F, feito pelos donos da JBS, Joesley e Wesley Batista, Ricardo Saud e outros quatro delatores, previa imunidade total aos delatores, que receberam o direito até de deixar o Brasil. Pelo acordo, entre outros benefícios concedidos, eles não responderiam criminalmente pelo esquema de propinas que revelaram a procuradores da República e teriam dez anos para pagar uma multa de R$ 225 milhões.
Há duas semanas, o procurador anunciou que as delações da JBS poderiam ser anuladas por omissão de informações. Os delatores do grupo empresarial entregaram áudio com gravação de quatro horas, no qual, supostamente sem saber que estavam sendo gravados, relatam, entre outras coisas, suas negociações em torno do acordo de colaboração premiada e citam o envolvimento do ex-procurador Marcelo Miller, que atuava na Lava Jato junto com Janot, como ponte para a delação. Em seguida ao comunicado, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu os benefícios concedidos a Joesley e Saud e determinou a prisão dos dois.
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