Ricardo Ramos |
Após três frustradas tentativas de instalação, os membros da CPI do Setor Elétrico já admitem que o início dos trabalhos, previsto para esta tarde, deve ser adiado novamente. Desta vez, até o funeral do papa João Paulo II, morto no último sábado, entrou para a lista semanalmente apresentada pelos deputados para justificar o adiamento das atividades. “Queremos a instalação da CPI, mas esta é uma semana difícil por causa das MP’s (medidas provisórias) que estão trancando a pauta (do plenário) e do falecimento do papa”, afirmou o deputado Mauro Passos (PT-SC), co-autor do requerimento que resultou na criação da comissão. “É um momento de consternação para todos”, reforça Osmânio Pereira (PTB-MG), em alusão à morte do Sumo Pontífice. Além do deputado Marcello Siqueira (PMDB-MG), que acompanha no Vaticano o funeral de Karol Wojtyla, outro deputado já anunciou que não estará na reunião prevista para as 15h, o petista Fernando Ferro (PE). O pernambucano viajou para o México, onde participa de reunião da Comissão de Energia e Minas do Parlamento Latino-Americano. Leia também Dos 23 membros da comissão, sete reconheceram ao Congresso em Foco que a instalação da CPI pode ser adiada mais uma vez por falta de quorum. Para começar a reunião, é necessária a presença de, no mínimo, 12 deputados. Na semana passada, apenas quatro assinaram a lista do colegiado. Os consecutivos adiamentos da CPI já começam a suscitar especulações sobre possíveis manobras entre os partidos para minar as investigações. O deputado Wladimir Costa (PMDB-PA), que renunciou à relatoria após pressão dos líderes partidários, ameaça fazer barulho caso os trabalhos da comissão não comecem esta semana. “Vou à imprensa, à tribuna do plenário e enviarei um requerimento ao presidente da Câmara pedindo esclarecimentos do porquê de essa CPI ainda não ter saído”, disparou. Indicado relator por Severino, Wladimir teve seu nome vetado pelos líderes dos partidos, que alegaram preocupação com o rumo que a CPI poderia tomar caso as investigações fossem conduzidas pelo peemedebista, que não teria familiaridade com o assunto. Um dia antes da primeira tentativa de instalação da comissão, o deputado disse, em plenário, que faltaria “cadeia” para tanta gente envolvida em irregularidades nas privatizações do governo FHC. Autor do requerimento de criação da CPI e, por isso mesmo, virtual presidente do colegiado, o deputado João Pizzolatti (PP-SC) nega a ocorrência de qualquer manobra dos partidos. “Há disposição para que a comissão seja criada, mas ainda falta acertar detalhes para a instalação”, disse o deputado, sem, contudo, revelar que “detalhes” são esses. Para Wladimir, não é possível fazer balão de ensaio com uma CPI. “O Ministério Público, a Polícia Federal e o Tribunal de Contas da União já estão investigando os erros das privatizações”, afirma. “A Câmara deve uma resposta à sociedade”, completa. O desinteresse pelo assunto, até o momento, pode ser medido pelo grau de produtividade de outra comissão parlamentar de inquérito em funcionamento na Casa. Instalada um dia antes da data prevista para o início das investigações sobre as privatizações do setor elétrico, a CPI do Tráfico de Armas já se reuniu seis vezes desde o dia 15 de março. De lá pra cá, a comissão aprovou 26 pedidos de explicações de autoridades e realizou duas audiências públicas.
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