Como indicado na última coluna, o Café com Política promoveu instigante debate sobre “Qual o tamanho do Estado?”, convergindo com os tópicos discutidos no meu texto. O evento durou quase três horas e tocou em pontos importantes para o processo de avaliação do Estado brasileiro. O debate ocorreu justamente em meio ao turbilhão de emoções que tomaram de assalto a política brasileira, logo após a divulgação de trechos e materiais pertencentes à delação premiada do dono da JBS, Joesley Batista.
O cenário político sucumbiu em meio a essas informações e viu surgir, dos mais variados setores, pedidos de renúncia, impeachment ou cassação do presidente Michel Temer, que agora possui inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes de corrupção e obstrução de justiça – ele agora está listado entre os mais de 50 políticos investigados pela Operação Lava Jato, em meio àqueles que possuem ou não possuem foro privilegiado.
Como consequência, presenciamos o surgimento de manifestações populares – algumas delas violentas, com degradação do patrimônio público pelos manifestantes e excesso de força repressiva pelos policiais – pedindo a saída do presidente e a convocação de eleições diretas, o que fez lembrar os movimentos que marcaram o início do processo de redemocratização do Brasil, cujo slogan foi “Diretas Já”.
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Contudo, pouco se discute sobre o custo político das “Diretas Já”, pois para que ocorra é necessário que seja aprovada, pelo Congresso Nacional, Proposta de Emenda Constitucional (PEC). A proposição nós já temos – a Miro Teixeira (PEC 227/2016) – que está pronta para tramitar na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Mas, será que teremos tempo para sua aprovação e posterior convocação das eleições? A todo vapor, geralmente o período de aprovação de uma PEC dura cerca de 100 dias.
![michel_temer_fotos_publicas](https://static.congressoemfoco.uol.com.br/2017/05/michel_temer_fotos_publicas-e1494953831786.jpg)
A face da crise: haverá saída para o Brasil com Temer na Presidência?
Diante disso, retomo a menção feita à última edição do Café com Política. Nosso debate contrastou duas visões com olhares distintos sobre qual deve ser o tamanho do Estado, as perspectivas liberal e social-democrática. A despeito do que vemos em inúmeros debates, em especial no Congresso Nacional, o Café com Política teve como resultado a qualificação das discussões sobre o tamanho Estado, o florescimento de ideias conjuntas que podem ser viabilizadas; e a sinalização de que o diálogo é o caminho amistoso para o enriquecimento de perspectivas políticas e promove em nós maior senso de civilidade.
Talvez seja o diálogo a saída que temos para fugirmos do wishful thinking e assimilarmos melhor o contexto político caótico em que vivemos. Não falo apenas de diálogos convencionais, mas também daqueles não convencionais, que ocorrem entre familiares e amigos. Faz parte da cidadania discutirmos o futuro do nosso país.
Atualmente, falar de política tem se tornado o centro das conversas, o que desagrada a alguns por conta das intrigas que surgem ocasionalmente. Minha dica para que a amizade permaneça e o diálogo político ainda esteja presente, é se informar sobre as técnicas de comunicação não-violenta. Fugir das fake news também é uma boa dica para não propagar notícias inverídicas.
Por fim, listo abaixo algumas das minhas opiniões sobre os últimos acontecimentos. Elas são frutos dos inúmeros diálogos que tive com familiares e amigos, atreladas às minhas análises e averiguações dos fatos. É a forma que encontrei para fugir do wishful thinking:
- A situação de Temer está insustentável. Ficar no poder, diante das provas levantadas, é inviável. Apesar disso, não acredito que haja tempo hábil para eleição direta, mesmo caso ocorra cassação da chapa pelo TSE. A saída precisa ser constitucional – e isso demanda tempo que não temos para ofertar. O melhor cenário (ou o menos pior) são as eleições indiretas pelo Congresso Nacional. Por mais que o grau de confiança popular nos parlamentares esteja negativo, não podemos esquecer que eles representam o povo e buscarão reeleição em 2018. Averiguar quais serão os candidatos disponíveis, escolher o melhor (ou o menos pior) dentre eles e pressionar os parlamentares no momento do voto, é a saída mais provável que temos;
- As reformas Previdenciária e Trabalhista são necessárias, por mais que possamos discutir alguns pontos das propostas. Não podemos usar da fragilidade política do governo Temer para enfraquecer as reformas e obstruí-las. Pelo contrário, precisamos protegê-las e discutir seus méritos, para que possamos viabilizar a retomada do crescimento do país. A aprovação das reformas é a melhor sinalização que temos para o mercado financeiro – sem eles não temos capital para investir;
- Por mais que o poder judiciário esteja ajudando a higienizar a política, não podemos inocentar o STF, e demais instâncias do Judiciário, pelos erros cometidos durante as investigações da Lava Jato. O episódio envolvendo o jornalista Reinaldo Azevedo – que teve conversa com a irmã de Aécio Neves liberada para a imprensa, sem que o conteúdo fizesse parte da investigação – fere a liberdade de expressão e não pode sair impune;
Mesmo que ainda não tenhamos chegado ao final deste ano, é possível afirmar sem hesitar: neste momento, dois assuntos precisam ser cautelosamente protegidos, a restauração da economia brasileira e o cenário eleitoral de 2018. É necessário que o Congresso agilize as reformas, tanto previdenciária quanto trabalhista e eleitoral.