Um dia antes de começar a valer as novas regras trabalhistas aprovadas pelo Congresso, centrais sindicais realizam manifestações em várias regiões do país. O ato também contesta a reforma da Previdência em discussão na Câmara. Para as entidades sindicais, a reforma trabalhista proposta pelo presidente Michel Temer (PMDB), que modificou mais de cem artigos da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), retira a proteção da classe trabalhadora e abre caminho para a terceirização de todos os setores.
Em Brasília, a Central Única do Trabalhador (CUT) fez um ato separado das demais centrais sindicais. A discordância sobre um item da reforma, que diz respeito ao imposto sindical, que pela nova legislação deixa de ser obrigatório, levou à separação. Rodrigo Brito, presidente da CUT no DF, defendeu a nova legislação nesse ponto do texto. “Se é que podemos dizer que houve uma coisa boa nessas mudanças, foi exatamente o fim do imposto sindical, porque quem deve decidir se vai colaborar é o trabalhador, por meio de assembleias, e não o governo”, disse.
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Pela manhã, a tímida manifestação da CUT aconteceu no Espaço do Servidor da Esplanada dos Ministérios. De acordo com a Polícia Militar (PM), reuniu 150 pessoas. Um outro ato, organizado pelas demais centrais sindicais, está previsto para esta tarde na capital.
Para a presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores do Distrito Federal, Vera Moraes, a retirada do imposto sindical funciona como uma forma de inviabilizar as entidades na defesa do trabalhador, já que as entidades se sustentam dessa contribuição. “Essa é a forma que o governo encontrou de estrangular as representações sindicais, que ainda é quem se mobiliza para ir fazer frente aos desmandos que o Executivo e o Legislativo fazem sobre os trabalhadores”, afirmou.
Ela ressaltou ainda que a proposta da convocação é fortalecer o movimento e buscar a revogação da nova lei trabalhista. “Essa reforma trouxe sérios prejuízos para as conquistas dos trabalhadores”, disse Vera, que também afirma que o movimento luta contra a reforma da Previdência. “Essa CPI que foi aberta teve o relatório demonstrando que não tem débito na Previdência. O trabalhador não pode ficar com uma conta que não existe”.
De acordo com a dirigente da Nova Central Sindical do DF, a falta de mobilização social se dá ao contexto do mercado de trabalho no país, com o número de desempregados em alta. “Nós temos um fantasma em nossas cabeças. Um fantasma chamado desemprego, com 14 milhões de desempregados. Então o trabalhador está em pânico e com medo de ser o próximo. Daí a dificuldade de se fazer mobilização”, explicou.
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Em São Paulo, o ato se concentrou na Praça da Sé. Os sindicatos fizeram uma “Marcha em Defesa dos Direitos, da Soberania e da Democracia” com a distribuição de panfletos e uma cartilha explicando as consequências da reforma para os empregados. De acordo com os organizadores da Nova Central Sindical, pelo menos 10 mil pessoas participaram. A entidades esperava 40 mil pessoas no local. O número diverge da organização da Força Sindical, que estimou o público em 15 mil.
Para o Secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, as entidades vão lutar contra a reforma da Previdência. “A manifestação foi unitária, em protesto contra a lei aprovada da reforma trabalhista, e também uma preparação para o que vem pela frente que é a reforma da previdência: se o governo colocar para votar, vamos parar o Brasil”, alertou.
Ao Congresso em Foco, o presidente nacional da Nova Central Sindical de Trabalhadores, José Calixto Ramos, também garantiu que as entidades se mobilizaram mais ativamente contra a reforma da Previdência. “Somente uma mobilização ampla e irrestrita de trabalhadores, sindicatos, federações, confederações e centrais sindicais será capaz de reverter o cenário nebuloso que se apresenta. Essa é só a primeira de muitas manifestações que faremos em todo o País para dar nosso recado ao Congresso: não aceitamos essa ‘deforma’ trabalhista. Além disso, estamos indo nas fábricas, conversando com a base e conscientizando toda a classe trabalhadora, para que se façam valer os acordos coletivos e para que os direitos trabalhistas, conquistados com anos de luta, não sejam reduzidos com uma canetada”, disse.
Intitulado “Dia Nacional de Paralisação contra a reforma da Previdência”, cidades como Belo Horizonte, Fortaleza, Salvador, Recife, Petrolina e Belém aderiram ao movimento, considerado tímido se comparados aos atos organizados ainda no governo da petista Dilma Rousseff.
Em Belo Horizonte a concentração foi na Praça Sete. Apesar da chuva, milhares de pessoas compareceram. Em Fortaleza, o ato foi intitulado #DerrubaTemer e os manifestantes marcharam pelo centro da capital cearense. Participaram trabalhadores do campo e da cidade.
Nova lei trabalhista
Neste sábado (11) entra em vigor a nova lei trabalhista. As alterações mudam a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e valerão para todos os contratos de trabalho vigentes, tanto antigos como novos, segundo o Ministério do Trabalho. Uma das novidades da proposta diz respeito ao acordo coletivo e às convenções, que passam a prevalecer nas negociações de trabalho entre empregado e empregador. Na Câmara, os deputados aliados de Temer se mobilizam para aprovar a reforma da Previdência, apesar de afirmarem que o texto será mais enxuto.
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