Um dos fundadores do PMDB, o senador Pedro Simon (RS) subiu hoje (quinta, 11) à tribuna do Plenário do Senado para refletir sobre a crise que atinge há meses o governo Dilma Rousseff, com ministérios estratégicos no papel de fonte de denúncias de corrupção e malversação dos recursos públicos. Simon mencionou a manchete publicada nesta quinta-feita pelo Congresso em Foco sobre o “susto” que o PMDB planeja dar em Dilma no âmbito legislativo, descontente com os rumos das investigações sobre dois de seus ministérios – o da Agricultura, capitaneado por Wagner Rossi, indicação do vice-presidente Michel Temer; e o do Turismo, chefiado por Pedro Novais, indicado ao posto pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
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Com críticas à falta de ação do presidente Lula no combate aos desmandos ministeriais, razão do legado negativo deixado para a sucessora petista, Simon lembrou da época em que foi chamado para integrar a “CPI do Collor” – comissão parlamentar de inquérito que levaria ao primeiro impeachment de um presidente da República.
“Aqui está o Congresso em Foco, mostrando que as bases do governo estão agitadíssimas, estão na ameaça de começarem a implodir. O líder [do PMDB no Senado, Renan Calheiros – AL] propõe a votação de um projeto polêmico, a questão do vencimento de militar [referência à PEC 300/2008], e aquele deputado Eduardo Cunha [PMDB-RJ], que já tem polêmica com a presidente da República, que tem restrições a ele, quer votar aquela questão da saúde, a Emenda 29, que é altamente polêmica no seu desenvolvimento”, discursou o peemedebista, mostrando versão impressa da reportagem do Congresso em Foco às câmeras da TV Senado.
Ele observa que, enquanto Dilma quer moralizar as ações da equipe ministerial, a própria base governista dificulta o trabalho. E ainda ameaça com estratégias pouco democráticas. “Está lá a presidenta, que quer moralizar, quer colocar a casa em dia, mas a classe política não deixa. O MDB, o próprio PT, não deixam e ameaçam a presidenta com votações aqui no Congresso”, destaca.
De acordo com a matéria, o silencioso levante do PMDB foi urdido em jantar que reuniu, na noite da última terça-feira (9), a cúpula do partido na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Irritados com a prisão de apadrinhados que indicaram para o Ministério do Turismo, os peemedebistas traçaram a seguinte estratégia: dar um “susto” na presidenta Dilma que consistia em duas ações, em que a mais drástica seria dar apoio à criação da CPI da Corrupção, proposta pela oposição. Mais tarde, a assessoria de Sarney negou que tenha havido o jantar, confirmado ao site por dois parlamentares do PMDB.
Em outra frente, esta mais suave, os correligionários permitiriam a votação – e a aprovação – de algum projeto que traga fortes prejuízos ao governo. Dois projetos encabeçam essa lista: a Emenda 29 – que aumenta o valor dos repasses orçamentários obrigatórios para a área da saúde – e a Proposta de Emenda à Constituição 300/2008 – que estabelece um piso nacional para policiais e bombeiros tomando como base o que eles ganham no Distrito Federal.
Confira a reportagem:
PMDB planeja dar “susto” em Dilma Rousseff
“O MDB está magoado porque estão fazendo essa onda em cima de um ministro do partido, de fatos que ocorreram quando o ministro do Turismo era do PT [referência à senadora petista Marta Suplicy, que chefiou a pasta entre março de 2006 e junho de 2007]. Mas daí a reagirmos dessa maneira, não pode. Creio que o MDB deve parar para pensar”, acrescentou Simon, que falou também à reportagem depois de deixar o plenário. Ele se disse contra a “chantagem” do PMDB a Dilma com projetos caros ao governo.
Para o senador, o governo Dilma tem agido corretamente ao fazer a alardeada “faxina” na Esplanada dos Ministérios. “O governo começou bem, começa fazendo o que Fernando Henrique e Lula não tiveram coragem de fazer. Quando apareceram focos comprovados de corrupção, a Dilma agiu. Repare que ela não tem culpa nenhuma. Nem foi no governo dela”, declarou Simon, em menção ao suposto loteamento que o PR fez no Ministério dos Transportes, e o PMDB, na Agricultura e no Turismo.
Ele citou ainda baixas anteriores do governo Dilma, que tirou do cargo de ministro dos Transportes, em julho, o senador Alfredo Nascimento (PR-AM). “Quando o chefe da Casa Civil [Antonio Palocci, demitido em junho] aparece comprando um apartamento de R$ 6 milhões, e registrou no nome dele na véspera de assumir a chefia da Casa Civil, isso é um fato grave demais”, acrescentou Simon, dizendo que falta diálogo e “jogo de cintura” a Dilma para resolver intrigas entre parlamentares da base. “Ela não pode se isolar, ficar apenas com aquelas três mulheres que estão ali – uma melhor do que a outra, mas que não têm penetração no PMDB, no PDT, no PT e companhia”, emendou, referindo-se às ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Helena Chagas (Secretária de Comunicação da Presidência da República).