Um acontecimento inusitado tirou há pouco, por breves instantes, o ar de monotonia do Senado, que não tem votação de matérias em plenário hoje (15) e registra baixíssimo número de senadores presentes. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) "passou mal" após longo pronunciamento na tribuna, onde criticava firmemente o excesso na edição de medidas provisórias pelo Executivo, e saiu rapidamente em direção ao posto médico da Casa – que fica a cerca de dez metros do plenário.
Mas não era nada demais: Simon tem o hábito de, quase que diariamente, medir a presão arterial, como também o faz o senador Romeu Tuma (PTB-SP). Diante da quantidade de jornalistas à porta do ambulatório, o médico que atendeu Simon chegou a ficar irritado: "Isso não é notícia", bradou, para espanto dos repórteres.
Ao sair, aparentando bom humor – apesar da evidente tontura –, o peemedebista fez um gracejo ao explicar o porquê de ter entrado no posto médico, onde mediu a pressão. Iniciou a explanação falando sobre o fato de o presidente Lula ter editado, ontem (14), mais duas medidas provisórias de crédito extraordinário, quase que simultaneamente à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou inconstitucional, a pedido do PSDB, a edição de uma MP que liberava R$ 5,4 bilhões (MP 405/07).
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“Eu achei que o Congresso deveria fazer alguma coisa para não cair no ridículo. Já é a segunda vez que a Justiça faz aquilo que o Congresso não teve coragem de fazer”, ensejou Simon, ao deixar o ambulatório do Senado. "Foi a questão da fidelidade partidária, agora a questão das medidas provisórias", completou o senador, prevendo que o próximo sinal de "ridicularização" será o registro de candidatura, "que esteve muito manchado".
Destacando que o Parlamento precisa tomar "providências", Simon disse que, como ninguém "deu bola" para o seu pronunciamento, simulou um problema de saúde com o objetivo de chamar a atenção – para então protestar contra o fato de a Justiça tomar as rédeas dos parlamentares. "Disse para meu secretário: ‘olha, vou correndo lá para o ambulatório, a imprensa vai pensar que eu estou morrendo e aí eu vou poder dizer isso [que o Congresso precisa agir]’. Se não, não vou poder dizer", brincou. "Eu estou ótimo."
Momentos antes, na tribuna, Pedro Simon – que pertence a um partido da base aliada, mas é conhecido por sua postura de independência, e por vezes oposição, em relação ao governo – lembrou que até os presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Garibaldi Alves (PMDB-RN), ambos governistas, criticam e pedem ao governo um freio na edição de MPs. Simon relatou um episódio em que, durante um evento oficial do qual Lula participou, e diante de quatro mil prefeitos ("Um mar de prefeitos!"), Garibaldi se dirigiu ao presidente e disse que ele estava "humilhando" o Congresso. (Fábio Góis)