O senador Pedro Simon (PMDB-RS) assinou o requerimento de instalação da CPI para investigar as relações entre o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, Waldomiro Diniz, com bicheiros.
Apesar de o senador pertencer a um partido da base do governo – e do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), ter pedido pessoalmente para ele não assinar o requerimento –, a atitude dificilmente vai piorar a situação dele no partido. Afinal, Simon tem uma aura de intocável no PMDB. Não participa das decisões da cúpula, não é indicado para cargos importantes, mas em compensação costuma falar o que quer, sem ser incomodado.
A adesão de Simon à campanha pró-CPI colocou Calheiros em situação delicada. O líder tem agora que justificar para os demais senadores do partido porque Simon pode assinar e os demais – como Maguito Vilela (GO), irritadíssimo com o governo por ter sido preterido na reforma ministerial – não podem.
Na prática, a assinatura de Simon tem um valor simbólico que pode abrir a porteira para que outros senadores façam o mesmo. O que talvez não seja mais necessário. No final da tarde, o senador Magno Malta (PL-ES) anunciou ter obtido 32 assinaturas para a instalação de uma CPI para investigar bingos no país. E o primeiro a depor, segundo ele, seria Waldomiro Diniz.
Waldomiro foi flagrado por uma câmera de TV pedindo dinheiro ao bicheiro goiano Carlinhos Cachoeira quando ocupava a presidência da Loterj, no Rio de Janeiro. O dinheiro, segundo ele, iria para as campanhas petistas de Benedita da Silva, no Rio, e Geraldo Magela, em Brasília – além da de Rosinha Garotinho, do PSB.
Pela manhã, antes de assinar o requerimento apresentado pelo senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), Simon justificou o ato ao Congresso em Foco: “Confirmo que vou assinar a CPI, que considero ser do interesse do próprio governo, para que não pairem dúvidas sobre sua conduta ética. Considero as CPIs um instrumento legítimo das minorias, além de se constituir em instância apropriada para investigações completas”.
Simon é sempre lembrado quando alguém quer ter a seu lado algum representante da chamada “ala ética” do PMDB. O tucano José Serra pensou nele quando precisou de um vice para sua chapa, em 2002. O presidente Lula pensou nele quando precisou de um ministro do PMDB há dois meses. Dessa vez, quem precisou dele foi a oposição.
Segunda-feira (16), o senador deu uma amostra do que estava por vir. Do plenário, desafiou Lula. “Se há outras coisas a descobrir sobre corrupção na campanha eleitoral, vamos fazê-lo. Tope a parada, não coloque panos quentes, presidente. Se houver preço político a pagar, o PT deve arcar com ele, pois será infinitamente menor do que o preço do desgaste político que virá pelo arquivamento do pedido de instalação”, disse, se referindo à CPI.
Aos 74 anos, Simon continua disparando sua ironia afiada até sobre os colegas de partido, não poupando nem o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), classificado por Simon como um dos quatro homens mais fortes do governo Lula.
Presente de grego
Há quarenta e quatro anos na vida pública, com mandatos consecutivos desde que foi eleito vereador em Caxias do Sul (RS), Simon faz pouco caso dos ministérios que o PMDB ganhou de presente do presidente Lula em troca do apoio ao governo.
“Se tu analisares, os dois ministérios, Previdência e Comunicações, são o mesmo que nada”. Pode ser que o ministro vá arrumar verba para um ou outro, regularizar as rádios dele, mas tudo sem significado. Não tem peso nenhum para o partido, para o governo Lula nem para a sociedade”, disse, referindo-se ao ex-líder do PMDB na Câmara, Eunício Oliveira, que assumiu o Ministério das Comunicações.
Ex-ministro da Agricultura do governo Sarney, ele faz questão de deixar claro que chegou ao cargo por escolha do falecido presidente Tancredo Neves, que ganhou as eleições no Colégio Eleitoral, em janeiro de 1985, com 480 votos contra os 180 de Paulo Maluf.
Com a sua habitual língua ferina, ele acha injusto dizer que o líder do PMDB no senado, Renan Calheiros (AL), seja mais fisiológico que o presidente da casa. “Os dois têm o mesmo estilo. É que o Sarney, com a competência que o caracteriza, nunca briga”.
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