Mário Coelho
Jornalista e empresário, o ex-deputado Silvio Torres (PSDB-SP) ficou conhecido no mundo da bola ao ser o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou, entre 2000 e 2001, o contrato da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Nike.
Após o encerramento da comissão, Torres publicou o relatório final em um livro. Mas sua atuação no futebol não terminou aí. Em 2007, voltou à carga. Por conta do nebuloso contrato do Corinthians com a empresa MSI, o tucano fez um novo pedido de CPI. Daquela vez, entretanto, o lobby da bancada da bola foi mais forte e o requerimento acabou sendo enterrado.
Em rápida entrevista por telefone ao Congresso em Foco, o tucano, que hoje é secretário estadual de Habitação de São Paulo, afirmou que ainda existem muitos casos obscuros no futebol brasileiro que precisam ser investigados pelo Congresso Nacional. E comparou a resistência à criação da CPI da CBF, proposta pelo deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), com a derrubada do seu pedido de investigação da lavagem de dinheiro no esporte mais popular do país.
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Congresso em Foco – O que levou os deputados a instalarem a CPI da CBF-Nike dez anos atrás?
Silvio Torres – A iniciativa foi do Aldo Rebelo. Ele se baseou numa denúncia de que o contrato da CBF com a Nike tinha sido feito sem transparência, tinha sido registrado num lugar fora do Rio de Janeiro. Sobre os valores também, o contrato não tinha sido divulgado corretamente. A denúncia ocorreu um ano antes da instalação da CPI.
Houve muita resistência à instalação da CPI?
Teve muita resistência. Havia pessoas que faziam parte da chamada bancada da bola que atuaram. Na CCJ, por exemplo, deputados da bancada da bola ficavam discutindo se a questão do contrato era um fato determinado ou não. Ficou se arrastando até que o Michel (Michel Temer, então presidente da Câmara), resolveu instalar a CPI.
A atuação política do senhor sempre foi muito relacionada à moralidade na área esportiva, em especial no futebol. O senhor ainda vê como necessária a investigação de entidades como a CBF, por parte do Parlamento?
Sim, eu acredito que sim, apesar das dificuldades existentes. Em 2007, eu apresentei um requerimento de CPI para investigar a lavagem de dinheiro no futebol brasileiro. Naquele esquema do MSI-Corinthians. E também houve a mesma resistência que está ocorrendo agora. É preciso também uma investigação mais profunda sobre os negócios do futebol brasileiro, que não mudaram muito. Houve avanços. A legislação melhorou, existe uma atenção maior por parte da sociedade. Há muitos casos obscuros ocorrendo no futebol brasileiro e que a investigação parlamentar possa levantar. O futebol brasileiro merecia uma investigação mais ampla.
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