Roseann Kennedy
O presidente Lula participou nesta terça-feira do último desfile de 7 de Setembro frente à Presidência da República. E o clima já foi de despedida.
O próprio Lula, vez por outra, tem falado sobre esse momento, em que o foco das atenções não é mais ele mas o próximo gestor que vier a assumir. Ou seja, agora ele percebe, no dia a dia, o que no meio político significa ‘café frio’.
Apesar de toda a popularidade do presidente, ao chegar à Esplanada dos Ministérios nesta terça, ele foi aplaudido timidamente. Uma situação bem diferente de lá do começo de seu Governo em 2003, quando Lula foi ovacionado no evento. Foram feitas várias manifestações diretamente à pessoa do presidente e várias bandeiras partidárias eram sacudidas para saudá-lo.
Na ocasião, o Planalto preparou o “primeiro 7 de Setembro popular’. A festa foi tão elaborada que contou até com o trabalho do publicitário Duda Mendonça. Também foi amplamente divulgada em propagandas, chamando a população a participar da parada cívica.
Aliás, vale observar que ao longo de todos os seus oito anos de Governo, o desfile da Independência deixou muito claro qual é a situação política do ano e o prestígio político pela lista de convidados presentes.
Porque, se em 2003 o evento foi esse sucesso e em 2004 atraiu público recorde de 60 mil, de acordo com os dados da Polícia Militar à época, em 2005 o desfile já teve um peso negativo. Naquele momento, o Governo enfrentava o escândalo do mensalão e Lula chegou a ser vaiado ao chegar no carro aberto.
Em 2006, o clima antecedia as urnas, num prenúncio do segundo mandato de Lula. Já no ano seguinte, o assunto mais comentado no palanque das autoridades era o escândalo envolvendo o então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), que não foi ao evento. Outro presidente do Senado, José Sarney (PMDB), também não compareceu em 2009, porque estava enfrentando a avalanche de denúncias dos atos secretos.
Este ano, foi o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB) quem compareceu e não saiu um minuto sequer do lado do presidente Lula. Temer, que é candidato a vice na chapa da presidenciável petista Dilma Roussef. Esta, por sua vez, adotou uma postura prudente: não compareceu ao desfile. No palanque, ela não poderia mesmo estar, por se tratar de um evento oficial.
É fato que ela não estaria impedida de comparecer como brasileira, mas seria inevitável o enfrentamento de questionamentos na Justiça eleitoral. Não valeria a pena. Sempre haveria o risco de ser acusada de tentar associar sua imagem à do presidente em evento público, bancado com dinheiro do Governo.
Eu acompanhei todos os desfiles de 7 de Setembro desde o início da gestão petista, à exceção de um. Esse foi o último com Lula à frente da Presidência. E deu para ver que não havia realmente mais o clima de euforia em torno dele como no início.
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