O ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (PP-PR) confirmou a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) de que o senador Aécio Neves (PSDB), que se tornou réu essa semana, tentou alterar o curso das investigações na Operação Lava Jato. De acordo com Serraglio, Aécio teria pressionado para que ele, quando chefiava a pasta, nomeasse um delegado da Polícia Federal “de sua preferência para investigar suas ações delituosas”. As informações foram publicadas pelo jornal O Globo, na manhã desta sexta-feira (20).
Na última terça-feira (17), após decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), Aécio se tornou réu por corrupção passiva e obstrução de Justiça. A denúncia apresentada contra o senador tucano, pelo então procurador-geral da República Rodrigo Janot, atribui a substituição de Serraglio às pressões do senador e de outros parlamentares.
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Aécio foi gravado admitindo ter pressionado o presidente Michel Temer (MDB) a trocar o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello. Também no diálogo, o político indica que Alexandre de Moraes, recém empossado no Supremo Tribunal Federal (STF), tinha conhecimento das pressões do governo contra a Lava Jato. Além disso, o senador desqualifica a nomeação de Serraglio e se refere ao então ministro com palavrões.
Entre suas declarações, Serraglio afirmou ainda que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) fez pressões semelhantes, conforme publicado pela jornalista Amanda Almeida. Ao jornal, Renan afirmou que a declaração de Osmar Serraglio sobre ele é uma “vingança” e disse ter denunciado que sua nomeação foi feita pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ)). Já a assessoria de Aécio não se manifestou.
Em trecho da gravação, tornada pública no ano passado, Aécio diz ter pressionado Temer. “Foi uma cagada generalizada, mas eu tô, tô querendo apertar de novo amanhã, amanhã, o Michel nessa história. Acho que o Brasil tem que fazer uma operação, tem que fazer uma ‘mea culpa’ pra dar pelo menos mais um instrumento pros negociadores novos, pros embaixadores, pros diplomatas novos. O cara da Polícia Federal chegar e cair, né. Dizer o seguinte: ‘foi um erro de avaliação e tal, eram questões pontuais que não afeta, né, um ‘mea culpa’ do Brasil que o Michel não teve culhão de cobrar do cara pra fazer. [Eu] tava cobrando isso hoje lá, falar com ele pra fazer…” [sic], disse Aécio.
A declaração do senador foi dada a Joesley Batista, dono da JBS, em encontro com o parlamentar no dia 24 de março do ano passado, no hotel Unique, em São Paulo, e foi anexada ao acordo de delação premiada do grupo, nos autos da acusação contra Aécio no Supremo.
Serraglio foi exonerado dias após a divulgação dos áudios e das delações premiadas de executivos do grupo JBS que comprometeram o presidente. Temer o afastou do cargo sem justificar o motivo. Nos bastidores, a informação é de que dois motivos foram determinantes para a saída dele do governo: a falta de controle do então ministro sobre a Polícia Federal e a necessidade do presidente de reforçar a pasta com um jurista com bom trânsito no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde a chapa Dilma/Temer estava sob julgamento.
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