Edson Sardinha
O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, disse hoje (10) que se considera um político de “esquerda do ponto de vista convencional” e que as insinuações de que retomará as privatizações, caso seja eleito, é “trololó, arma de campanha eleitoral”. Em entrevista à rádio CBN, Serra disse que a declaração do presidente Lula de que, qualquer que seja o próximo presidente, o país não sofrerá grandes transformações mostra que o petista não está tão preocupado com uma eventual derrota de sua candidata, Dilma Rousseff (PT).
O tucano se irritou com questionamentos da jornalista Miriam Leitão sobre a eventual falta de autonomia do Banco Central durante seu governo caso seja eleito. “Peraí um pouquinho, Miriam, o Banco Central não é a Santa Sé. Você acha sinceramente que o Banco Central nunca erra? Tenha paciência. Quem acha que o BC erra é contra dar condições de autonomia para o BC? Claro que não. De repente, monta-se um grupo que é acima do bem e do mal, que é o dono da verdade, qualquer criticazinha já vem algum jornalista e outro e ficam nervosinhos por causa disso. Conheço economia, sou responsável, fundamento todas as coisas que penso a esse respeito. A esse propósito, você e o pessoal do sistema financeiro podem ficar absolutamente tranquilos, que não vai ter nenhuma virada de mesa”, afirmou.
A jornalista insistiu na pergunta, ressaltando que o tucano tem feito críticas à resistência do Banco Central em baixar a taxa básica de juros. Segundo ela, há receio no mercado de que ele venha a interferir nas decisões do BC quando julgar que elas estiverem equivocadas. Serra, que é economista, classificou como uma “bobagem” a pergunta da jornalista. Para ele, os diretores do Banco Central não são “sacerdotes”.
“Imagina, Miriam, que bobagem. O que você está dizendo, você vai me perdoar, é uma grande bobagem. Você vê o Banco Central errando e fala ‘não, eu não posso falar porque são sacerdotes’. Eles têm algum talento, alguma coisa divina, alguma coisa secreta, mesmo não sendo eleitos, que você não pode nem falar ‘oh, pessoal, vocês estão errados’? Tenha paciência”, rebateu, antes de pedir ao âncora, Heródoto Barbeiro, que passasse para a pergunta seguinte.
O ex-governador paulista disse que não há chance de ele “virar a mesa” da política econômica e que a redução das taxas de juros será algo a médio e longo prazo. “Se alguém se assusta porque eu acho que a taxa de juros deve cair quando a inflação está caindo, quando tem quase deflação, é porque tem uma posição muito surpreendente do ponto de vista dos interesses do Brasil. Por outro lado, a mesa da economia brasileira eu ajudei erguer, a mesa estava no chão. Todo mundo sabe que não vou virar mesa coisa nenhuma.
Esquerda convencional
No começo da entrevista, Heródoto perguntou a Serra se ele se classificava como um político de esquerda. “Não é uma categoria que hoje em dia eu uso, mas do ponto de vista convencional, sim”, afirmou. “No sentido que eu defendo um projeto de desenvolvimento nacional para o país, que eu defendo o Estado com um governo forte, não obeso, mas musculoso”, acrescentou.
Serra disse que, se eleito, vai manter o programa Bolsa Família, carro-chefe das ações sociais do governo Lula e alvo de críticas de tucanos, que acusam o atual governo de fazer político e eleitoreiro da distribuição do benefício. “Assistencialista ou não, o Bolsa Família deve ser mantido”, declarou. “Deve reforçar os vínculos da natureza educacional, não apenas de comparecimento de criança na escola, mas também no encaminhamento dos jovens para o ensino profissionalizante”, emendou.
Quase terrorismo
O tucano também disse não ter visto nada demais na declaração do presidente Lula, em entrevista ao jornal espanhol El País, de que Dilma Rousseff vencerá as eleições de outubro. Para Serra, Lula não poderia dizer o contrário sobre a candidata petista. O mais importante, ressaltou o tucano, foi que o presidente disse que não haverá nenhuma “calamidade” qualquer que seja o candidato eleito.
“Ele disse que qualquer dos que ganhar não vai haver nada de anormal no país. É uma afirmação importante porque há um jogo de quase terrorismo de dizer se não ganha a candidata do Lula vai dar problema. Agora mesmo o Lula está dizendo que não vai ter nenhuma calamidade se ganhar outro. Quanto a declarar que vai ganhar a candidata dele, você esperava que ele dissesse o contrário? Não é razoável imaginar que Lula iria dizer ‘o candidato José Serra pode ganhar ou vai ganhar’. Ele tem de dizer que ganha a candidata que ele prefere. Ele praticamente foi quem construiu essa candidatura. Mas esse outro lado da declaração é muito importante. As manchetes estão no sentido de quem ele acha que vai ganhar. E não podia ter dito outra coisa. Mas se você ler, vai ver que ele disse que não seria nada calamitoso que ganhasse outro candidato. Ou seja, Lula não deve estar tão preocupado quanto se imagina, se ganhar um candidato que não seja o dele”, declarou José Serra.
Ouça a íntegra da entrevista à CBN:
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