Rudolfo Lago
Ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), o candidato do PSDB, José Serra, viu-se obrigado a passar anos no exílio para fugir da perseguição da ditadura militar. No mesmo período, sua adversária Dilma Rousseff, do PT, estava engajada à luta armada. Acabou presa e torturada. Quem é mais de esquerda? Esse foi um dos principais temas da sabatina que o canal de TV por assinatura Record News e o Portal R7 faz agora com Serra. A partir de perguntas de internautas, os jornalistas que conduzem a sabatina perguntaram ao candidato tucano como ele reagia às críticas feitas por integrantes do PT de que os aliados de Serra eram “trogloditas de direita”.
“Troglodita de direita é quem apoia o [Mahmud] Admadinejad [presidente do Irã]”, rebateu Serra. O candidato do PSDB referia-se à posição do governo ao defender o direito do Irã enriquecer urânio para construir uma bomba atômica. “Uma coisa é a autodeterminação dos povos. Mas eu não perderia uma oportunidade para defender os direitos humanos”, completou. Serra disse que os petistas “são muito organizados para ficar todos repetindo a mesma coisa”. E completou que “eles” é que não seriam mais de esquerda. “O Marco Aurélio Garcia [assessor de Lula para assuntos internacionais] é de direita”, tachou. Questionado sobre a aliança com o DEM, um partido conservador, Serra devolveu: “O [ex-presidente Fernando] Collor, que está com eles, é de esquerda”?
Serra rejeitou ainda a ideia de que a forma das relações com a Venezuela de Hugo Chávez e a Bolívia de Evo Morales seja um caminho diferenciar políticos de esquerda e de direita. “O Chávez é dilmista; e o PT é chavista”, alfinetou. Sobre as relações da Bolívia, Serra voltou a atacar o país governado por Evo Morales, pela produção de cocaína. Para ele, o governo boliviano deve estar fazendo “corpo mole”. “Oitenta por cento da cocaína que entra no Brasil vem da Bolívia. O Brasil deveria fazer pressão diplomática para frear o contrabando de cocaína. Eu, no governo, vou atuar diretamente junto aos países vizinhos para que ajudem a combater o contrabando de drogas para o Brasil. Tratar disso não é questão de ser de direita ou de esquerda”.
O PT e as Farc
O candidato do PSDB reiterou as críticas feitas por seu vice, Índio da Costa, sobre as relações do PT com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Os jornalistas perguntaram a Serra se Índio era a “Regina Duarte” da sua atual campanha . Em 2002, Regina Duarte apareceu na campanha de Serra dizendo que tinha “medo” de uma eventual vitória de Lula. “Índio falou o que todo mundo sabe: o PT tem relações com as Farc. O PT errou ao tratar as Farc como força política quando, na verdade, ela é do narcotráfico”.
Entre as várias propostas abordadas, Serra defendeu uma reforma política, com a adoção do voto distrital no país. Sua ideia é instituir o sistema paulatinamente, a partir das eleições nas grandes cidades. Pela sua proposta, as eleições para vereador nos municípios maiores deixariam de ser proporcionais para serem distritais. Se um município tem, por exemplo, 37 vereadores, ele passaria a ter 37 distritos. Cada distrito elegeria um vereador. “A vantagem é que o eleitor tem melhores condições de fiscalizar o vereador, porque o conhece, mora perto dele. O número de candidatos diminui, porque cada partido teria apenas um candidato em cada distrito. E o custo da eleição cai”, defendeu.
Sobre a possibilidade de voltar a fazer privatizações, Serra respondeu: “ Lula privatizou dois bancos, está privatizando hidrelétricas. Eu quero estatizar os Correios, o Dnit [Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes], porque servem a partidos, além de nacionalizar as agências reguladoras, que foram apropriadas por empresas e partidos”.
Saias justas
Algumas saias justas pegaram Serra durante a sabatina. Logo no começo do programa, ele foi questionado sobre a presença que fizera, ao ser eleito prefeito de São Paulo, de que não deixaria a administração do município dois anos depois para ser governador de São Paulo. “Eu, naquele momento, estava falando a verdade”, respondeu. Emendou em seguida que nunca foi cobrado por isso. E brincou sobre possibilidade semelhante agora: “Não vou deixar a Presidência para disputar algum cargo na ONU”.
Depois, questionado sobre o chamado “mensalão mineiro”, ocorrido em Minas Gerais na campanha do senador Eduardo Azeredo ao governo em 1988, Serra disse ser um “exagero” chamar o que houve ali de mensalão. “O que houve foi um problema de financiamento de campanha”, afirmou. O PT também repete que seu mensalão foi um problema de caixa dois em campanha. Os jornalistas questionaram a diferença no tratamento dos dois problemas. Mas Serra insistiu: “Ele e o Walfrido Mares Guia, que está com o governo, foram acusados de falta de registro de despesa eleitoral. Outra coisa é você ir no banco e ficar tirando dinheiro mensalmente, pago do seu bolso, para encaminhar votações. São fenômenos de natureza diferente, e ambos estão na Justiça.”