Renata Camargo
O
cabo de guerra entre a pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma
Rousseff, e o pré-candidato do PSDB, José Serra (SP), vai se esticar ainda mais
a partir de hoje (10). Neste sábado, em Brasília, o ex-governador de São Paulo
oficializa a sua pré-candidatura ao cargo máximo do Executivo. E para não deixar
a concorrência brilhar sozinha sob os holofotes da mídia, a pré-candidata
petista vai ao ABC Paulista participar também nesta manhã de um encontro com
sindicalistas.
O encontro tucano será realizado no auditório do Centro
de Convenções Brasil 21, a partir das 9h. O PSDB aguarda 4 mil pessoas no
evento. Mais de mil apartamentos foram reservados nos hotéis da capital federal
para receber lideranças do PSDB, do DEM e do PPS. Em São Paulo, seis centrais
sindicais prometem milhares no evento que irá discutir sobre “emprego e
qualificação profissional”. Os petistas não escondem que a ofensiva é para
bombardear o encontro do PSDB.
“Não devemos entrar nessa competição
insana. Primeiro, a Dilma vai ao túmulo de Tancredo, depois de tudo o PT fez
para combatê-lo. Depois vem com essa proposta da ‘Dilmasia’, que não revela
muito equilíbrio. Eu, sinceramente, não dou a menor bola para esse evento do PT.
O Serra não se apoia em ombro de ninguém, apoia-se no que ele já fez”, disse o
líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
Corpo a corpo
A polarização das eleições entre tucanos e petistas promete
intensificar as críticas mútuas entre Dilma e Serra. Segundo tucanos no
Congresso, o discurso do candidato paulista neste sábado será no sentido de
mostrar as diferenças entre ele e Dilma, na perspectiva de um debate mais corpo
a corpo, em contrapartida aos discursos da ex-ministra, baseado em comparações
entre os governos Lula e Fernando Henrique Cardoso.
“O discurso de Serra
vai ter o tom da campanha. Vai ser um tom mais direto de alianças e sobre sua
gestão. Serra deve marcar as diferenças dele com Dilma, não vai ficar comparando
governos. Ele vai fazer esse contraponto de olho no futuro”, considerou o líder
da Minoria na Câmara, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).
O encontro dos
tucanos foi convocado pela aliança PSDB, DEM e PPS. O discurso de Serra está
previsto para as 12h. Antes do pré-candidato, falarão ao público os presidentes
do PPS, Roberto Freire (SP), do DEM, Rodrigo Maia (RJ), e do PSDB, Sérgio Guerra
(PE), nessa ordem. Também irão discursar o ex-governador Aécio Neves (MG) e o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Os discursos de FHC e
do ex-governador mineiro são aguardados com grande expectativa. Aécio é
considerado peça-chave na campanha de Serra. O ex-governador de Minas, que
queria disputar a Presidência, é visto pelos tucanos como um reforço de peso
para angariar eleitores mineiros para Serra. Os petistas, por outro lado,
apostam na popularidade de Lula em Minas para se contrapor à influência de Aécio
no estado, segundo maior colégio eleitoral do país, com 14 milhões de eleitores.
Fernando Henrique tem manifestado confiança de que Aécio irá
apoiar plenamente a campanha de Serra, sem fazer corpo-mole. Em 2002,
o mineiro foi acusado por tucanos de fazer pouco esforço em favor da
candidatura de Geraldo Alckmin ao Planalto. O ex-presidente justifica que Aécio
tem interesse na vitória de Serra para concretizar outro desejo: ser presidente
do Senado.
“Só vai faltar a Ana Hickmann”
O
encontro de apoio a Dilma será realizado no Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. O presidente da Força Sindical,
deputado Paulinho da Força (PDT-SP), definiu o evento como uma “arrancada de
campanha da Dilma partindo do berço político de Lula”, o ABC Paulista, onde o
petista começou sua atuação sindical. “Vamos ter de tudo. Só vai faltar a Ana
Hickmann”, disse Paulinho em tom de brincadeira, em alusão ao fato de a
apresentadora da TV Record Ana Hickmann ser a mestre de cerimônia do lançamento
da pré-candidatura de Serra.
O PT espera por um evento de proporções
grandiosas. Segundo o diretório local do partido, a rua em frente ao sindicato
deve ser fechada e serão instalados telões para o público. Os sindicalistas vão
debater questões trabalhistas, como redução da jornada de trabalho para 40 horas
semanais e o fator previdenciário.
Dilma chegará ao encontro
acompanhada do presidente Lula e, assim como ele, também falará à multidão.
Participam do evento membros da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da Força
Sindical, da União Geral dos Trabalhadores (UGT), da Central dos Trabalhadores e
Trabalhadoras do Brasil (CTB), da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil
(CGTB), e da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), além de outros
sindicalistas e representantes de movimentos sociais.
A expectativa é
que Dilma seja ovacionada pelos companheiros do ABC. Esta não será a primeira
vez que a pré-candidata terá receptividade efusiva entre sindicalistas na
região. Em maio do ano passado, nas comemorações dos 50 anos do sindicato, a
então ministra da Casa Civil foi recebida com o coro “olê, olê, olê, olá, Dilma,
Dilma” e um buquê de lírios. Naquela ocasião, Dilma teve mais atenção do que o
próprio Lula. No evento de hoje, não deve ser diferente.