Cada qual vai julgar por sua inconsciência (perdoe, Mia Couto) se foi ou não uma epopeia. Algumas ou mesmo muitas pessoas poderiam achar que é um abuso ou excesso escrever que a Caravana Lula foi uma epopeia.
Os militantes do fascismo e da direita em geral, os inimigos e adversários de Lula dirão que estou exorbitando, cometendo abuso, e que estou usando a palavra errada para uma simples viagem de Lula e sua comitiva. Alguns dirão isso por ódio, outros com inveja de Lula, afinal o líder deles não consegue colocar mais que mil pessoas em qualquer manifestação de apoio. Nas manifestações de ódio, talvez coloquem.
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Não serei eu, mas cada qual vai julgar se é ou não uma epopeia. Muitos dirão que foi uma epopeia, que necessariamente deve ser narrada em um extenso poema. Não sou poeta e tampouco um narrador adequado. Ou melhor, não sou narrador de fatos e de histórias, mesmo das que participo. Somente escrevo o pouco que vi, vivi e vivo.
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O dicionário do Houaiss conceitua epopeia como um “poema extenso que narra as ações, os feitos memoráveis de um herói histórico ou lendário que representa uma coletividade”.
Não precisamos de um extenso poema, tampouco de um extenso texto para afirmar que a Caravana Lula pelo Brasil foi uma epopeia. Há uma “sucessão de eventos extraordinários…” (Houaiss) “…capazes de provocar a admiração, a surpresa, a maravilha” (Houaiss) que poderia ser descrita, em verso ou não, como uma epopeia. É uma “aventura fabulosa” (Houaiss).
Sei que alguém escreverá sobre esta fabulosa aventura que foi a Caravana Lula pelo Brasil. Sobre a Caravana no Sul, posso dar um testemunho do pouco que acompanhei e vivi. Nos dias 26, 27 e 28 de março, acompanhei a Caravana pelo Paraná. Acompanhei com a presença física ou na angústia da desinformação, na ansiedade de que tudo corresse bem e da espera nos locais do evento.
Apreensivo esperava, torcia para que nada de grave ocorresse com a Caravana, com Lula ou com qualquer um que com ele vive a epopeia de percorrer mais uma vez o Brasil. A apreensão aumentava com as informações desencontradas: foi assim o início da Caravana. A Caravana Lula chegava ao Paraná ameaçada. A principal ameaça era para a integridade física do Lula. Infelizmente, continuou ameaçada.
Rodovias obstruídas por ensandecidos fascistas. Alguns sequer sabem que são fascistas, estão mais para idiotas. Bom dizer: os idiotas podem ser perigosos tanto quanto os fascistas.
A violência que começou no início da Caravana no Rio Grande do Sul serviu para estimular os catarinenses e os paranaenses a seguir o mesmo caminho: o da intolerância e da violência.
Nas redes sociais, o verdadeiro horror de fúria: troca de mensagens sobre como obstruir a passagem da caravana, de como espancar pessoas e ameaçá-las de morte tendo como alvo principal o Lula. E assim, ao longo do caminho, muitas pessoas foram agredidas e feridas. Pessoas que só queriam ver o Lula. Pessoas que ainda levam esperança no peito e alegria e brilhos nos olhos. Pessoas que sonham viver uma vida melhor.
Porém, o Brasil atual criado pela mídia privada, encabeçada pela Rede Globo e pelas redes sociais, não tolera a diversidade de pensamento. Criaram e alimentaram verdadeiros monstros. Ou você pensa como eles, ou morre. Querem matar as opiniões diferentes e, se não conseguem matá-las, tem que matar a pessoa que pensa diferente.
Ao longo da Caravana, a inatividade, omissão e a conivência dos órgãos de segurança, somadas ao estímulo de lideres irresponsáveis, como a senadora Ana Amélia (PP-RS), que afirmou que “levantar um rebenque não é um ato violento”, e os deputados Bolsonaro, (PSL-RJ), Francischini (PSL-PR). Ambos os deputados estimularam a violência e pregaram o assassinato de Lula em gestos e palavras.
A violência culminou em uma tocaia. Tiros foram disparados contra os ônibus da Caravana, e três deles atingiram dois ônibus. Foram atingidos em suas laterais e de lados diferentes, ou seja, foi armada uma tocaia. Em muitas epopeias, são descritas tocaias.
Não é abuso nem excesso escrever que a Caravana Lula foi uma epopeia.
Do mesmo autor:
<< Marielle