A via crucis do líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), acusado de envolvimento com o contraventor Carlinhos Cachoeira, continua a render constrangimento entre seus pares.
No princípio, muitos deles manifestaram solidariedade quando Demóstenes, defrontado com as primeiras notícias sobre sua relação com Cachoeira, subiu à tribuna do plenário em 6 de março para se defender, dizendo que nada havia de errado na “amizade” entre um promotor de Justiça e um bicheiro. Agora, diante do agravamento das denúncias, visivelmente contrariados, alguns aproveitaram a sessão esvaziada desta segunda-feira (26) e, revezando-se em discursos, cobraram novos esclarecimentos do senador.
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Manifestando contrariedade ao “pré-julgamento” com base em notícias, Jorge Viana (PT-AC) fez questão de registrar a posição de “respeito” de que Demóstenes gozava no meio político, mas admitiu que a situação “está se agravando” com o transcorrer das investigações e das revelações da imprensa.
“Não acho que seja adequado para o país nós seguirmos nesse clima onde há um questionamento sobre uma atitude, sobre uma pessoa e imediatamente esse questionamento virar julgamento e virar condenação. Venho solicitar que ele volte à tribuna em respeito não à minha pessoa, mas em respeito aos brasileiros que o admiram, em respeito à opinião pública nacional e em respeito a este Plenário”, pediu Jorge Vianna.
No âmbito da Operação Monte Carlo, a PF investiga uma rede de exploração clandestina de máquinas caça-níqueis na periferia de Brasília e em Goiás, segundo a denúncia, capitaneada por Carlinhos Cachoeira. Além de Demóstenes, a polícia investiga o envolvimento dos deputados Carlos Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO) na quadrilha do jogo ilegal. No mais recente desdobramento do assunto, a revista CartaCapital afirmou que Demóstenes, segundo relatórios da Polícia Federal em Goiânia, “tinha direito a 30% da arrecadação geral do esquema”, tendo embolsado cerca de R$ 50 milhões desde 2006, via caixa dois, para estruturar a agora incerta campanha ao governo de Goiás.
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Neste fim de semana, depois de ter evitado ir ao Senado nos últimos dias da última semana, Demóstenes resolver deixar a estratégia do silêncio e, por meio do Twitter, negou envolvimento com o grupo criminoso. “As injúrias, as calúnias e as difamações minam a resistência até de quem nada teme, mas permaneço firme na fé de que a verdade triunfará. A tudo suporto porque nada fiz para envergonhar meu partido, o Senado, Goiás e o Brasil. Essa é a verdade que, ao final, prevalecerá”, discursou o demista.
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Demóstenes nega participação em esquema de Carlinhos Cachoeira
Um dos mais enfáticos na cobrança a Demóstenes, Pedro Taques (PDT-MT) disse que, se não houver uma postura firme no Senado em relação ao caso, a própria Casa não terá mais “moral” para questionar acusados de corrupção. “Nós não podemos tapar o sol com a peneira. O caso é grave. E esta Casa da Federação não terá moral para notificar, para convidar, para intimar qualquer cidadão a depor em suas comissões se nós não ouvirmos os esclarecimentos do senador Demóstenes”, declarou o pedetista, acrescentando não aceitar que uma figura pública do porte do colega seja flagrado ao trocar telefonemas com “cidadãos voltados para a prática do crime”.
Taques é um dos senadores que, diante da informação de que Cachoeira havia habilitado em Miami 15 aparelhos de rádio e distribuídos a pessoas de sua confiança – entre eles Demóstenes –, cogitaram ajuizar ação no Supremo Tribunal Federal, tendo o senador como um dos alvos da investigação. A informação foi adiantada por este site no último dia 15, depois da repercussão de reportagem da revista Época sobre o assunto.
Ana Amélia (PP-RS) também se manifestou em plenário na sessão não deliberativa desta segunda-feira. Ao subir à tribuna para mencionar casos de corrupção noticiados nas últimas semanas, destacando registros do Fantástico (TV Globo), a senadora disse que não tinha “compromisso com o erro” e adiantou que vai exigir “investigação exemplar” sobre as denúncias envolvendo Demóstenes.
“Não podemos, de forma alguma, deixar escorrer pelo ralo da corrupção o dinheiro público que deveria garantir melhor qualidade do nosso ensino público, o pagamento do piso dos professores, a qualidade do atendimento na saúde e a segurança pública”, disse a parlamentar gaúcha, contextualizando a relação entre desvio de dinheiro e suas implicações na sociedade.
Defesa
O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), foi o único a adotar uma linha de defesa de Demóstenes ao discursar no plenário. Para o tucano, não procede a hipótese aventada de comissão de inquérito para investigar o caso Demóstenes-Cachoeira, bem como são infundadas as acusações de que o processo aberto na Procuradoria Geral da República (PGR) tem sido negligenciado.
“A investigação se dá, portanto, há cerca de três anos, e o próprio Senador, no dia 6 de março, daquela tribuna, pediu que fosse investigado. (…) não nos cabe o prejulgamento, mas a prudência recomenda que aguardemos a conclusão do inquérito para qualquer manifestação posterior”, argumentou Alvaro, para quem a CPI só é pertinente “quando não há investigação em curso”.
Paralelamente à manifestação dos senadores, a Corregedoria do Senado encaminhou ofício à PGR solicitando acesso ao teor dos relatórios da PF sobre as conversas telefônicas entre Demóstenes e Cachoeira, que está preso desde 29 de fevereiro, em Goiânia. Segundo o corregedor, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), a Casa só poderá tomar providências em relação a Demóstenes depois que senadores tomem conhecimento do conteúdo das investigações na PGR, que não concede informações sobre o caso desde 2009.
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