Fábio Góis
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) subiu à tribuna do plenário para responder, com palavras de impacto, declarações do Demóstenes Torres (DEM-TO) publicadas na edição de hoje (terça, 21) do jornal amazonense A Crítica. Em visita a Manaus para participar do I Congresso Mestiço Brasileiro na Assembleia Legislativa do Estado, Demóstenes declarou que é ?vergonhoso que a bancada amazonense não tenha voz opositora ao governo federal para que haja uma melhor defesa dos interesses do estado? ? crítica que não poupou nem seu colega de partido, deputado Pauderney Avelino (AM). Ao todo, a bancada amazonense conta com três senadores e oito deputados federais.
?Os parlamentares amazonenses foram obrigados a se abster de votar contra o governo e, consequentemente, a favor do Amazonas no caso da MP 534. Isso é uma vergonha. A falta de uma oposição, ainda mais no Senado, engessa o poder de negociação política do Amazonas?, registra o jornal, em transcrição confirmada pelo senador. Ele se referia ao artigo 15º, parágrafo 7º, da medida provisória, que dispõe sobre a produção dos tablets (componentes eletrônicos), segundo Demóstenes um dispositivo constante de uma lista de procedimentos que ameaçariam o modelo econômico da Zona Franca de Manaus (ZFM).
O destaque dado às declarações do senador ocupou toda uma página do jornal amazonense, como lembrou Vanessa. Para Demóstenes, as ?amarras políticas? de parlamentares amazonenses com o Executivo os impediram de contestar a matéria, de interesse do governo”. ?Outro dia o senador Mário Couto [PSDB-PA] comentou que a falta de uma oposição mais representativa no Congresso Nacional da bancada amazonense, faz com que o Amazonas fique à mercê das vontades do governo?, acrescentou o senador goiano.
Em cerca de 20 minutos de pronunciamento sobre o tema ?pouco agradável?, Vanessa foi paciente e silenciosamente observada por Demóstenes ? que falou apenas depois do aparte igualmente contundente do senador amazonense João Pedro (PT). ?Quem é este senhor para falar isso da bancada do Amazonas e do Estado do Amazonas? Mesmo porque o que falou demonstra, já de imediato, que não tem o menor domínio sobre a política e a economia do Amazonas?, esbravejou a senadora, para quem o gesto de Demóstenes foi não só deselegante, mas desrespeitoso.
?Ele não desrespeita apenas a bancada de parlamentares, não. Desrespeita a população do estado do Amazonas, que soube e sabe escolher os seus representantes?, acrescentou a senadora, dizendo ter tido a precaução de telefonar ao jornal e falar com o repórter responsável pela publicação. ?Que vossa excelência não meça a prática dos outros pela sua. Não tenho amarras com ninguém; nunca tive na minha vida. Tenho certeza de que nenhum dos senadores e dos deputados amazonenses tem. Nenhum!?
Olhando fixamente para o alvo de suas críticas, Vanessa disse ainda ter reunido em seu gabinete ?números e tópicos? que demonstrariam o progresso e o ?prestígio? verificado na Zona Franca de Manaus durante as gestões de Lula e, atualmente, Dilma Rousseff.
?Vossa excelência deveria olhar um pouquinho mais para trás. Aliás, no período do governo Fernando Henrique, havia muitos amazonenses influentes, ministros de Estado inclusive. Nunca conseguimos a prorrogação da Zona Franca de Manaus. E o incentivo fiscal dado à Zona Franca é muito diferente de outros dados no Brasil, porque não é para a fábrica se instalar, como muitos Estados fazem ? não são cobrados ICMS, ISS e IPTU. O incentivo dado é ao produto. Só recebe incentivo quem produzir?, fustigou a senadora, para quem a Lei de Informática, sancionada em 2001 por Fernando Henrique Cardoso, ?acabou com a Zona Franca?. ?Ela tirou fábricas. Ela suprimiu empregos do nosso Estado.?
Resposta
Apenas João Pedro aparteou Vanessa. Também demonstrando indignação, o senador também ressaltou a atenção dispensada por Lula à questão da Zona Franca. ?Quando o Presidente Lula assumiu, em 2003, esse grande parque industrial tinha 35 mil trabalhadores. [José] Serra era o Ministro do Planejamento. Pois ele não ia às reuniões do Conselho Administrativo da Suframa [Superintendência da ZFM]. Tentaram acabar com a Zona Franca. Fernando Henrique, os seus ministros, todos tentaram acabar!?, bradou o petista, lembrando que Lula prorrogou por dez anos a política de incentivos para a Zona Franca, o que teria gerado o emprego direto de 115 mil trabalhadores.
Depois da intervenção de João Pedro, e percebendo que Demóstenes estava de pé há minutos, Vanessa quis lhe repassar a palavra. ?De pé, senadora Vanessa Grazziotin, não se pede aparte. Estou de pé para ouvir vossa excelência?, respondeu Demóstenes, acrescentando que daria as ?explicações necessárias? por meio do artigo 14, que garante réplica a quem é citado em plenário.
?A senadora Vanezza Grazziotin me conhece pouco. O senador João Pedro me conhece mais. Quando tenho de apontar o dedo, eu não uso a bancada. Eu não ajo de maneira dissimulada. Não fui lá para falar contra quem quer que seja e não o fiz. Não falei de fulano, não agredi e não mencionei?, rebateu Demóstenes, ressalvando ter mencionado nominalmente, e apenas ?para elogiar?, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM). ?Não faltei com o respeito, não fui leviano.?
Bobagem
Demóstenes manteve a crítica ao comportamento dos senadores amazonenses na votação da questão dos tablets. ?Não votaram contra, mas se abstiverem. Na prática, votaram contra os interesses do Estado do Amazonas?, completou o senador, referindo-se às ?amarras políticas? que teriam impedido os senadores amazonense de votar contra os interesses do governo na ocasião da MP 534. Era uma menção ao disposto na MP sobre bens de informática e automação ? item que, segundo Demóstenes, na prática estendeu um benefício até então exclusivo da ZFM.
Demóstenes disse ainda ter ido a Manaus para receber uma comenda do Nação Mestiça, grupo de classe amazonense. ?Não esperava que o jornal fosse colocar isso na primeira página. Para quê? Uma bobagem! Não houve desrespeito, não vou ligar pra jornal coisa nenhuma ? eu disse mesmo e o meu objetivo lá era outro?, concluiu o senador, voltando a criticar, sem dar nomes, a subserviência de determinados parlamentares ao Executivo. ?Infelizmente, há muitos senadores aqui são manietados pelo Planalto. Agora, é culpa minha??
Ao final do discurso, Vanessa lembrou que os votos da bancada amazonense sobre qualquer matéria são públicos, e ponderou que, ?se fosse pelas explicações ouvidas, não teria problema nenhum?. ?O problema é que foi muito além, chamou a atuação da bancada de vergonhosa. É somente contra isso que nós estamos nos insurgindo?, concluiu a senadora.
Depois dela, apenas o senador Mário Couto (PSDB-PA) ocupou a tribuna para falar sobre o assunto, mas para defender Demóstenes ? quando chegou a elogiar a beleza física de Vanessa, já deixando de lado as declarações do colega de oposição e agora tratando da carta que Dilma enviou a Fernando Henrique por ocasião de seu 80º aniversário. ?Olhe para mim, querida. Você é tão bonita. Olhe para mim?, suplicou, sem sucesso ? constrangida em meio a gargalhadas de senadores e profissionais da notícia, Vanessa limitou-se a sorrir e trocar comentários com João Pedro.