O senador Otto Alencar (PSD-BA) deixou há pouco a comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) que, instalada na semana passada, investigará a relação dos grupos JBS e J&F com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O colegiado também examinará a delação premiada firmada por executivos da JBS com o Ministério Público Federal, conjunto de informações que levou à denúncia do presidente Michel Temer, do senador Aécio Neves (PSDB-MG), do deputado suplente Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e à investigação de diversos outros políticos.
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Os trabalhos no colegiado tiveram início, efetivamente, nesta terça-feira (12), com a escolha do relator – o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), um dos capitães da tropa de choque de Temer na Câmara. Além da indicação de Marun, causou revolta em Otto o fato de o presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), ter ido ao Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência da República, para uma reunião com Temer neste fim de semana.
“Dentro desta farsa desta CPMI chapa branca, eu estou pedindo a retirada do meu nome para não participar de uma CPMI dessa natureza. Eu não me proponho a isso. Não sou homem para me propor a isso, porque isso é uma farsa chapa branca para fazer aquilo que o Palácio do Planalto deseja e quer. Portanto, estou pedindo a retirada do meu nome. E me retiro agora da sala envergonhado com o procedimento tanto de vossa excelência, que foi lá ao Palácio do Planalto, como também a indicação do deputado Carlos Marun”, disse Otto, levantando-se de sua cadeira depois de chamar Marun de “testa de ferro” de Temer.
Fator Jaburu
Constrangido diante da retirada do colega, Ataídes Oliveira solicitou que Otto o ouvisse antes de deixar a sala da comissão, mas não teve o pedido atendido. Em sua defesa, depois que Otto se retirou do colegiado, o tucano disse ter ido ao Jaburu para falar com Temer sobre problemas em empreendimentos na BR-153, que liga Tocantins ao Pará. “Vossa excelência não poderia agir dessa forma. Está agindo errado. Peço respeito, vossa excelência não poderia se ausentar. Isso é uma falta de respeito com os colegas. Eu não esperava isso do senador Otto”, lamentou o tucano, enquanto o colega se afastava.
Diante da provocação do deputado Glauber Braga (Psol-RJ), para quem a versão de que o assunto da CPI de fato foi tratado no Jaburu com o ministro tucano Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo), Ataídes explicou que a questão foi tratada a caminho do carro oficial que lhe esperava à entrada do palácio. Segundo o senador tucano, vendo que a reunião com Temer havia enveredado para o tema da economia, ele optou por deixar o encontro, quando se deu a conversa informal com Imbassahy.
Carlos Marun preferiu não se manifestar sobre a fala de Otto Alencar. Antes do parlamentar baiano, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) também comunicou sua renúncia ao posto no colegiado. Neste momento, a comissão nada pode deliberar, pois já teve início a ordem do dia no plenário – situação que, segundo o regimento interno, impede qualquer deliberação em comissões.
Alvo certo
Há 95 requerimentos protocolados na CPMI, alguns deles de convocação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e dos executivos da JBS. No círculo do poder em Brasília, comenta-se que Ataídes foi escalado na base governista para atacar Janot, que prepara a segunda denúncia criminal contra Temer, e até atuar para coibir os avanços da Operação Lava Jato.
“[…] a comissão tem basicamente um objetivo: moer a JBS dos irmãos Batista, a ponto de a delação de Joesley e seus compadres ser eliminada da face da terra, e triturar a Lava Jato. O principal beneficiário seria o presidente da República – que esteve longamente com Ataídes no fim de semana e é um dos incentivadores da CPI – mas a estratégia une todos os parlamentares que foram, são ou serão alvo da Lava Jato. Afinal, precisam reduzir a pó a delação de Joesley. O próprio Michel Temer, inclusive, tem força hoje para enterrar denúncias no plenário da Câmara. Mas se verá diante da Justiça daqui a pouco mais de um ano, quando deixar o cargo. Até lá, tem que fazer apodrecer depoimentos e eventuais provas deles originadas”, escreveu no site Os divergentes a jornalista Helena Chagas, ex-ministra-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, na gestão Dilma Rousseff.
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