Por unanimidade, os senadores sepultaram ontem a criação de uma CPI mista para apurar denúncias de formação de cartel por frigoríficos. Os parlamentares admitem que os indícios de irregularidades são graves, mas afirmam que as investigar do caso no Congresso poderia prejudicar a imagem do país no exterior.
“Isso deixaria o mercado nervoso porque ficaríamos vulneráveis lá fora, o que poderia afetar nossa posição nas exportações”, argumentou o presidente da Comissão de Agricultura do Senado, Sérgio Guerra (PSDB-PE).
A oposição concordou com a não-criação de uma CPI, mas defende que seja aberta uma investigação paralela. “Não podemos fechar os olhos para esse fato grave. Vamos tentar uma solução negociada. Se não der, aí vou defender a CPI”, afirmou o senador Osmar Dias (PDT-PR).
No mês passado, uma gravação divulgada pela imprensa revelou conversas reservadas entre o dono do frigorífico Friboi, João Batista Júnior, e outros dois empresários do ramo para negociar a formação de um cartel.
Ontem, no debate em que decidiu não criar a CPI da Carne, os senadores defenderam os argumentos da associação dos exportadores de carne (Abiec) e da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), que previam impacto nas exportações caso fosse aberta uma comissão para apurar o suposto cartel. “Gente de responsabilidade falou sobre isso”, afirmou Guerra.
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A decisão gerou protestos entre os deputados. O presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Ronaldo Caiado (PFL-GO), disse que pedirá a instalação de uma CPI na Casa e já começou a colher assinaturas. A idéia é criá-la por um projeto de resolução e, assim, escapar da fila de 32 pedidos de abertura de CPIs que aguardam análise da Mesa Diretora.
Mas, para ser aprovada, a proposta precisa passar pelas comissões de Agricultura, de Constituição e Justiça (CCJ) e ser aprovada em plenário. Como hoje é o último dia de votações na Câmara, o projeto só começa a tramitar em fevereiro do ano que vem. Até lá, Caiado teme que o assunto já tenha esfriado. “Mas vamos com essa disposição até o fim”, reforçou.