Edson Sardinha
O termômetro da crise política no Senado atingiu seu indicador máximo em agosto. Troca de insultos em plenário, protestos nas ruas, ameaça de renúncia, “dedo sujo” em riste, cartão vermelho. A crise no Senado ganhava símbolos, enquanto seu principal ícone, José Sarney, se livrava de qualquer punição política. “Por que mereço punição?”, questionava o peemedebista.
As cenas protagonizadas pelos senadores na primeira semana de trabalho no semestre quase se tornaram capítulo de comédia pastelão. Aos olhos de quem viu de perto ou pela televisão, o temor era de que as “excelências” fossem resolver com socos e pontapés suas divergências sobre a permanência de Sarney no comando da Casa.
Citado pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS) num bate-boca com Renan Calheiros (PMDB-AL), Fernando Collor (PTB-AL) radicalizou contra o colega gaúcho: “Eu lhe peço, encarecidamente, que, antes de citar o meu nome desta tribuna, engula, digira, e faça dela [a palavra] o uso que julgar conveniente. Da próxima vez que o senhor pronunciar meu nome nesta Casa, vou ser obrigado a relembrar alguns fatos, alguns momentos talvez extremamente incômodos para vossa excelência”.
Dedo sujo
Na mesma semana, Renan protagonizou outra discussão em plenário ao defender Sarney. Dessa vez, com Tasso Jereissati (PSDB-CE):
Tasso: “Senador Renan, não aponte seu dedo sujo para mim”.
Renan: “O dedo sujo, infelizmente, é o de vossa excelência. Dedo sujo é o dos jatinhos que você anda [sic] com dinheiro público, que o Senado pagou”.
Tasso: “Pelo menos era com meu dinheiro, o jato é meu, sou eu quem paga. Não ando em jatinho pago por empreiteiros, seu cangaceiro de terceira categoria!”
Renan: “Seu merda. Coronel de merda”.
Tasso: “Seu o quê? Repita, repita o que você disse aí! O senhor Renan Calheiros quebrou o decoro. Exijo que seja apresentada representação contra ele.”
Uma semana para não esquecer
O alvo não é Simon. Somos nós – 4/8/2009
Renan e Tasso trocam agressões em plenário
Partidos fecham questão por afastamento de Sarney – 4/8/2009
Sarney se defende: “Por que mereço punição?” – 5/8/2009
Preço da absolvição
A tropa de choque de Sarney atropelava a oposição e arquivava as 11 denúncias movidas no Conselho de Ética contra o peemedebista. Inconformados com a decisão, os oposicionistas abandonavam o colegiado.
A orientação do Planalto à bancada petista para livrar o aliado da cassação provocava estragos. O senador Flávio Arns (PR) anunciava sua desfiliação da legenda, e o líder, Aloizio Mercadante (PT-SP), anuncia sua saída da liderança em “caráter irrevogável”. Ambos alegavam discordar da recomendação do presidente Lula. Depois de uma conversa com o presidente, Mercadante voltou atrás em sua decisão.
Oposição abandona Conselho de Ética do Senado – 25/8/2009
Mercadante decide deixar liderança do PT no Senado
Mercadante recua e segue na liderança do PT
Lula volta a defender Sarney e critica “denuncismo” – 19/8/2009
Conselho de Ética mantém arquivadas todas as acusações contra Sarney
Crise no Senado serve para enfraquecer Lula, diz Sarney – 11/8/2009
Arns faz discurso de saída do PT e formaliza desfiliação – 27/8/2009
Suplicy dá cartão vermelho a Sarney
Suplicy dá cartão vermelho também a Heráclito Fortes
Sábado de protestos contra José Sarney – 22/8/2009
Ainda no rastro da crise, o Congresso em Foco publicou, em primeira mão, que uma ação do Ministério Público Federal denunciava desvio de R$ 4,7 milhões na construção de um prédio do Senado. A criação do espaço, que custou mais de R$ 9 milhões, foi autorizada por ato secreto.
Obra do Interlegis foi superfaturada, diz MPF
Damas em colisão
A ebulição política também atravessava a Esplanada e chegava ao Palácio do Planalto. A oposição fazia da declaração da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira uma trincheira. Levada à Comissão de Constituição e Justiça, a ex-secretária reafirmou o que já dissera à imprensa: que havia recebido um pedido da ministra Dilma Rousseff para “agilizar” as investigações sobre os negócios do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.
Sem apresentar prova do encontro, Lina disse que havia entendido a orientação como um pedido para abafar o caso. A oposição requisitou ao Gabinete da Segurança Institucional (GSI) os vídeos do circuito-interno. Mas se deparou com uma surpresa:
Lina Vieira reafirma na CCJ encontro com Dilma Rousseff
DEM entra com representação contra o GSI
GSI: não há registro de encontro entre Dilma e Lina – 21/8/2009
Deputados investigados
Na Câmara, a Corregedoria decidia investigar cinco deputados citados em relatório da comissão de sindicância, suspeitos de terem vendido créditos da cota aérea parlamentar. O Congresso em Foco lançava novas luzes sobre o caso ao apresentar um personagem investigado pela Casa: um agente de viagens que prestava serviços – gratuitos, segundo ele – para cerca de 30 deputados.
O trabalho era marcar as passagens e enfrentar filas nos guichês das companhias aéreas. Além disso, emitia bilhetes para parlamentares que ficavam com a cota estourada. Segundo ele, nada era cobrado por seus serviços. Mas, em troca, ele obtia clientes por indicação de amizades feitas nos gabinetes.
Um deputado licenciado também se complicava com a acusação feita por um servidor de que havia vendido créditos a mando de seu chefe de gabinete, que, por sua vez, teria dito estar cumprindo ordens do parlamentar.
Corregedoria vai investigar pelo menos cinco deputados – 06/08/2009, 13h12