Celso Lungaretti*
Neste domingo (15) saiu uma nova pesquisa do Datafolha e, sem o Lula na parada, o PT despenca para 2% com o Fernando Haddad e 1% com o Jaques Wagner. Os dirigentes deveriam refletir bem sobre isso. O eleitorado não está nem aí para se o impeachment foi golpe e para se o Lula é vítima de um complô multifacético.
Continua mantendo Lula na dianteira (com menor vantagem do que tinha) se ele for candidato e votará em outros se ele não for. Simples assim. O PT está colhendo os frutos da desideologização que gerou. Fica comprovado que grande parte dos que votavam no Lula eram eleitores do Lula e não do PT. Com ele fora da jogada, não veem nada de errado em transferir os seus votos… até mesmo para o ultradireitista Jair Bolsonaro!
E a estupefação, indignação e revolta que os dirigentes petistas esperavam que a prisão do Lula fosse provocar se reduz a isto: o povo a tudo assistiu indiferente e, em apenas uma semana, já tornou o PT nanico nas intenções de voto, quando se trata de um cenário no qual Lula não consta como candidato.
Tanto por razões humanitárias, quanto éticas e até pragmáticas, é hora de o PT passar a priorizar o futuro do Lula como ser humano, não seu presente como símbolo.
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O homem tem 72 anos e não possui personalidade de quem suporta bem a inatividade e o isolamento, podendo sofrer consequências muito graves da prisão de longa duração em regime fechado.
PublicidadeO símbolo é muito cultuado nas redes sociais, em círculos de classe média e por admiradores no exterior, mas isso nem de longe parece ser suficiente para deter ou atenuar significativamente o encolhimento eleitoral do PT nas eleições deste ano.
Então, é hora de os grãos petistas considerarem com muito carinho a possibilidade de deixarem de incentivar a contestação e denúncia estridentes dos encaminhamentos judiciais, tornando praticamente obrigatória a tomada de decisões rigorosas contra ele, o que (não sejamos ingênuos!) vem acrescentar-se à predisposição que já existia e existe neste sentido.
No lugar dessa guerra propagandística, cujo efeito prático vem sendo uma sucessão interminável de derrotas, mais sensatas seriam as discretas negociações de bastidores, tentando contornar na esfera política os obstáculos intransponíveis que bloqueiam os caminhos judiciais.
Se as análises do próprio PT estiverem certas, o que o inimigo quer é evitar que Lula seja candidato à presidência ou exerça influência marcante nas próximas eleições. Então, supõe-se que tais objetivos já tenham sido alcançados a partir do dia 29 de outubro, abrindo-se então uma brecha para a busca de um entendimento político.
Um indulto presidencial ou a prisão domiciliar são muito difíceis de obter? Precedente há: negociando habilmente com o outro lado, Getúlio Vargas conseguiu evitar o encarceramento ou o exílio em 1945, assumindo o compromisso de recolher-se à sua estância na distante São Borja e lá permanecer nos anos seguintes, sem participação ativa na política e dando raras entrevistas.Viver quase como recluso, mas na sua propriedade e junto com os entes queridos, foi bem melhor para ele do que as outras opções. E não impediu que, ao voltar à tona em 1950, se elegesse de novo.
Perspectivas sombrias
Segundo avaliações que eminentes criminalistas transmitiram em off à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, a tendência é de que Lula seja condenado a seis anos em regime fechado, levando-se em conta apenas a sentença no processo do triplex e os outros casos que estão com o juiz Sergio Moro: o do sítio de Atibaia e o do terreno do Instituto Lula. Afora estes três, existem mais seis processos com outros juízes.
O cálculo dos criminalistas é simples. Em ambos Lula é acusado dos mesmos crimes (corrupção passiva e lavagem de dinheiro) que, no caso do triplex, lhe valeram uma pena de 12 anos e 1 mês. Tudo leva a crer que as duas sentenças vindouras ficarão próximas da primeira. Aí, condenado a cerca de 36 anos, Lula só sairia do regime fechado depois de cumprir a sexta parte, ou seja, seis anos.
Outras avaliações:
— a possibilidade de Lula sair logo da cadeia é bem pequena, salvo ele ficar doente;
— poderá ser libertado caso o STF decida que a condenação em segunda instância é insuficiente para a pena começar a ser cumprida, mas a mudança da regra parece pouco provável após o voto da ministra Rosa Weber no recente julgamento do seu habeas corpus;
— sua defesa poderá pleitear ao STJ uma rediscussão do tamanho de suas penas, mas o tribunal tem se alinhado à Lava Jato;
— o pedido de unificação e consequente diminuição do total das penas é outra cartada possível, só que em médio prazo (e não dá para se projetar, desde já, qual seria a decisão do juiz de execução penal).
*Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. Edita o blog Náufrago da Utopia.
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