As apostas estão feitas. Ao estrearem hoje à tarde no horário eleitoral na televisão, os candidatos a presidente colocaram na mesa as principais características com as quais pretendem se identificar, na disputa pelo voto do eleitor. Como havia ocorrido na estréia do programa de rádio, transmitido às 7h, todos investiram na apresentação das candidaturas e evitaram ataques aos adversários.
Ocupando o maior tempo de propaganda, o programa de Geraldo Alckmin (PSDB) concentrou-se na descrição da sua vida pública e na ênfase às suas realizações como governador de São Paulo. Entre elas, obras viárias, de saneamento e programas de distribuição gratuita de medicamentos e de alimentação popular.
Tratado como "Geraldo", Alckmin ficou mudo na maior parte do seu programa de estréia. Foram o locutor e diversos eleitores, originários de outros estados do país mas residentes em São Paulo, que falaram sobre ele quase todo o tempo. A idéia era mostrar que o ex-governador é aprovado pelos "brasileiros que vivem em São Paulo".
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Em sua fala, Alckmin defendeu o Bolsa Família e prometeu ampliá-lo. O programa, um dos carros-chefes da campanha de Lula, tinha sido sutilmente criticado antes por uma eleitora do ex-governador, beneficiada por um curso de reciclagem profissional promovido pelo governo paulista. "Melhor que dar dinheiro, é dar uma profissão", disse ela.
Alckmin também defendeu a redução de impostos ("menos impostos, mais emprego") e, sem falar em corrupção, criticou a ineficiência na aplicação de recursos públicos. "Sou candidato a presidente porque acredito em um Brasil mais justo. Porque tem tanto dinheiro para desperdício e quase nada para pagar aposentado, para melhorar a saúde", afirmou o tucano. "Sem promessa mágica. É trabalho passo a passo".
O programa do presidente Lula (PT), candidato à reeleição, colocou em cena três apresentadores, uma mulher negra, um homem branco e outro de traços indígenas, para falar do "presidente que tem a cara dos brasileiros". Além de relembrar a biografia de Lula, o programa ressaltou as principais realizações do seu governo.
Entre elas, a criação de 6 milhões de empregos, a ascensão de 7 milhões de brasileiros que passaram da pobreza para a classe média, o pagamento do Bolsa Família a 45 milhões, a criação de dez universidades federais, além de várias obras e dos sucessivos recordes das exportações. Editadas com grande rapidez, as imagens mal permitiram visualizar o que foi dito.
Lula apareceu prometendo "aumentar o apoio para a classe média" e dizendo que "vivemos hoje a melhor combinação das últimas décadas". Referiu-se ainda aos escândalos que macularam o PT e seu governo: "A crise ética que se abateu sobre o país é a crise de todo o sistema político". Mais pela música do que pela letra, o melhor do programa foi o jingle final, em ritmo nordestino. "Não adianta tentarem me calar/Nunca ninguém vai abafar minha voz", diz a canção, segundo a qual Lula é "o presidente que governo com o coração".
Com um minúsculo tempo de propaganda, Heloísa Helena (Psol) convocou as mulheres a ajudá-la na busca por um país melhor e repisou em uma das principais teclas de sua campanha: a honestidade no trato da coisa pública.
Cristovam Buarque (PDT), com um bom jingle e programa dinâmico, foi apresentado como "o único candidato que tem projeto para o país". Seu projeto, claro, é a revolução pela educação, da qual o senador pedetista não se cansa de falar. O programa citou vários países "que hoje estão na frente do Brasil" porque fizeram a reforma educacional defendida pelo candidato.
O candidato a vice de Cristovam, o também senador Jefferson Péres (PDT-AM), foi o único a aparecer no primeiro dia de horário eleitoral. Jefferson destacou a honestidade do seu companheiro de chapa e o bom trabalho que ele realizou como governador do Distrito Federal.
José Maria Eymael (PSDC) tirou do baú tanto o jingle ("Ei, ei, Eymael, um democrata cristão") quanto a mensagem de outras campanhas. Ela se baseia, sobretudo, na referência a propostas legislativas que o candidato patrocinou quando foi deputado federal.
Rui Pimenta (PCO) defendeu salário mínimo de R$ 1,9 mil e a redução da jornada de trabalho para 35 horas semanais, "sem diminuição dos salários, para criar milhões de empregos".
Luciano Bivar (PSL) afirmou que, se até 28 de setembro não atingir o mínimo de aceitação pelo eleitorado, abrirá mão da candidatura. Também criticou a mídia, em especial o jornal Folha de São Paulo, por acusá-lo de querer apenas aparecer e de ter acordo com a Rede Globo para conseguir isso. Mesmo com um diminuto tempo de propaganda e com a possibilidade de gravar e regravar o programa, o candidato não fugiu ao hábito de cometer erros de concordância verbal.