Diego Moraes e Edson Sardinha
O ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB), que alega ter sido o primeiro a alertar o presidente Lula sobre a existência do mensalão, diz, em uma conversa informal com jornalistas, que teria aceitado dinheiro de Marcos Valério Fernandes de Souza se o empresário mineiro tivesse lhe oferecido uma doação de campanha.
O vídeo, exibido no horário eleitoral do candidato a governador Demóstenes Torres (PFL-GO), acirrou o clima entre dois dos principais aliados de Geraldo Alckmin (PSDB) no estado. Marconi lidera a disputa ao Senado com quase 70% das intenções de voto, segundo as últimas pesquisas.
Na abertura do vídeo, o tucano comenta com um grupo de repórteres sobre uma licitação do governo goiano vencida pela agência de publicidade SMP&B, de Valério. O contrato – firmado em 2000, no valor de R$ 2,8 milhões – recebeu dois aditivos de R$ 700 mil nos dois anos seguintes, e foi alvo de investigação do Ministério Público Estadual. O ex-governador diz que, se houvesse fraude na concorrência, a empresa vencedora não seria de fora do estado.
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"Se tivesse esquema aqui dentro, cê acha que ia ganhar gente de fora? E do jeito que eu estava apertadão na campanha, se ele [Valério] tivesse oferecido, eu tinha até recebido", disse o governador aos jornalistas, ressalvando em seguida que o comentário havia sido feito em off – jargão do jornalismo para assegurar o sigilo de alguma informação.
"Ninguém sabia quem era Marcos Valério. Sou filho de Deus. Você está apertado, perdendo a eleição, chega um caboclo falando: ‘vou te dar uma ajuda, vou formalizar", justifica o tucano, em tom descontraído, no vídeo que pode ser acessado na internet (clique aqui).
Marconi entrou com pedido de liminar no Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) para suspender a veiculação do vídeo, mas ainda não obteve resposta. Em entrevista ao jornal O Popular, de Goiânia, o ex-governador classificou a atitude de Demóstenes como um ato de "desespero de quem sabe que vai perder as eleições". O pefelista foi secretário de Segurança Pública durante o primeiro governo do tucano (1999-2002).
O ex-governador sustenta que a conversa informal com os jornalistas, mostrada na denúncia, refletia apenas sua ironia diante do escândalo do mensalão. Procurada pelo Congresso em Foco, a assessoria do candidato a senador deu outra versão para o episódio. Disse que a conversa teria sido gravada ainda em 2002. E que Marconi teria falado sobre Valério ao comentar denúncias de irregularidades em contratos do empresário mineiro com o governo tucano de Eduardo Azeredo em Minas.
A explicação tem dois problemas. Em 2002, Marcos Valério era um completo desconhecido. No vídeo, cuja data de gravação não é possível precisar, Marconi se refere ao operador do mensalão como "carequinha", apelido dado ao empresário apenas no ano passado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Em segundo lugar, o próprio Marconi admitiu à imprensa goiana que a conversa ocorreu durante a crise do mensalão (2005). O ex-governador disse que tudo não passou de brincadeira.