Fábio Góis
A cada dia mais pressionado a deixar o posto, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), divulgou nesta segunda-feira (29) uma carta aos seus 80 colegas de instituição por meio da qual contesta as acusações de que um de seus netos, o economista José Adriano Cordeiro Sarney, agenciava irregularmente no Senado operações de empréstimo consignado. A iniciativa de Sarney é uma tentativa de amenizar sua situação na presidência (posto por ele exercido pela terceira vez), que se tornou delicada com o surgimento do mais recente escândalo da Casa – a emissão de atos administrativos secretos que beneficiaram parlamentares, servidores, parentes e aliados.
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Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo publicada na última quinta-feira (25) aponta que o esquema do crédito consignado no Senado inclui José Adriano entre seus operadores. Segundo a matéria, a partir de 2007 a Sarcris Consultoria, Serviços e Participações Ltda, que tem o neto de Sarney entre os sócios, recebeu autorização de seis bancos para intermediar a concessão de empréstimos aos servidores da Casa, com desconto na folha de pagamento.
Novamente se eximindo de culpa por movimentações administrativas na instituição, o cacique peemedebista argumenta que “nenhuma ligação” poderia ser aventada entre o exercício da presidência e o objeto da reportagem. Além disso, o senador alega incompatibilidade de datas para reforçar sua isenção acerca da suposta facilitação ao neto (leia a íntegra da carta abaixo). Na última sexta-feira (26), tanto Sarney quanto o neto divulgaram nota desqualificando as informações publicadas pelo jornal paulista.
“Nunca tive qualquer favorecimento, sou profissional qualificado, cuidando da minha vida. Em defesa do meu conceito profissional, informo que, em relação à reportagem, vou adotar as medidas judiciais necessárias”, diz trecho da nota de José Adriano. Já Sarney diz estar em curso na imprensa uma “campanha midiática” que seria resultado do apoio político a Lula no Parlamento.
Confira a íntegra da carta de Sarney:
“Em face da reportagem do jornal O Estado de S. Paulo em sua edição do último dia 25, julguei do meu dever pedir um pouco de atenção para repor a verdade dos fatos ali deturpados por imprecisões, omissões e falsas ilações.
No mesmo dia da publicação da reportagem, quinta feira, o HSBC divulgou uma nota que, lamentavelmente, não mereceu o mesmo destaque da falsa denúncia. Nela, o banco esclarece a cronologia dos fatos e os modestos resultados empresariais que, por si só, calam quaisquer insinuações de favorecimento. Peço-lhe ler a nota do HSBC.
A autorização do Senado – peço para fixar essa data – para operar em crédito consignado com o HSBC foi em maio de 2005 quando eu não ocupava nenhum cargo na Casa. A empresa da qual é sócio José Adriano Sarney, a Sarcris, começou a operar em 11 de setembro de 2007, portanto, dois anos depois da autorização.
A empresa atuou como parceira do banco num mercado que inclui empresas privadas e instituições públicas. Quando assumi a presidência em fevereiro, a Sarcris já estava descredenciada pelo HSBC e não operava mais no Senado.
Assim, nenhuma ligação pode ser feita entre a minha presidência e o fato objeto da reportagem. Quero também comunicar-lhe que pedi à Polícia Federal que investigue todos os empréstimos consignados no Senado e as empresas que os operam.
Faço juntar, para seu conhecimento, a carta encaminhada por meu neto ao Estado de S. Paulo, a nota do HSBC com mais detalhes sobre o assunto e o meu pedido de investigação à Polícia Federal.
Quero reafirmar que nenhuma denúncia ficará sem apuração e que todas as medidas estão sendo adotadas com firmeza e decisão.
Com os meus cumprimentos.”
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