Em dezembro a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) acertou com vários colegas do seu novo partido (ela deixou o PT em abril de 2015) a sua candidatura à vice-presidência do Senado. Ela apoiava a eleição de Eunício Oliveira (PMDB-CE) e, em troca, a legenda a indicaria como concorrente ao segundo cargo do Senado. Para conseguir a vaga, Marta também prometeu apoiar o então presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), para a liderança da legenda. Em contrapartida, Renan apoiaria a colega.
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Sarney entrou no circuito na virada do ano. Morando em Brasília, o antigo parlamentar participou de conversas e ofereceu um nome da sua confiança para o mesmo cargo disputado por Marta. Tirou da manga João Alberto, o quase eterno presidente do conselho de Ética do Senado, acusado de engavetar denúncias contra os colegas. Pressionada e sem força para enfrentar o grupo de Sarney, Renan e Romero Jucá (RR), Marta trocou de desejo e passou a articular sua eleição para a presidência da CCJ.
Novamente Sarney entrou em campo e ofereceu o nome de Lobão como alternativa a Marta. A senadora não resistiu e abriu mão do desejo pela presidência da Comissão de Assuntos Sociais. Com João Alberto na Mesa Diretora e sem Marta no caminho, restava o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) que ainda atrapalhava o grupo Sarney-Renan-Jucá de garantir um amigão na presidência do colegiado que escolheria do novo ministro do STF. Lobão e João Alberto foram assessores de Sarney e nada decidem sem consultar o ex-chefe.
“Interferência externa”
Lira retirou a candidatura nesta quarta-feira (8) depois que ameaçou, na reunião da bancada do PMDB, se lançar candidato avulso à presidência da CCJ e concorrer com Lobão. Foi um constrangimento no colegiado. A reação de Renan beirou o desespero. Se Lira mantivesse a candidatura, a liderança de Renan seria comprometida porque o paraibano tinha chances concretas de se eleger.
Publicidade“Houve interferência externa à bancada”, comentou Lira com amigos. A interferência tem nome: Sarney. Os aliados do ex-presidente comemoraram.
Na segunda-feira (6), o Ministério Público pediu abertura de inquérito para investigar Sarney, Romero Jucá e Renan Calheiros pelo crime de tentativa de embaraçar as investigações da Lava Jato. Sarney foi gravado por Machado prometendo ajudar a livrá-lo das investigações coordenadas pelo juiz Sergio Moro. O MP quer o inquérito por causa das gravações feitas por Machado.
Nos diálogos, Sarney promete a Machado falar com o presidente Michel Temer para saber o que estava acontecendo na Lava Jato, interceder junto ao ex-ministro do STJ Cezar Asfor Rocha, seu amigo, para que pedisse arrego ao então ministro responsável pela Lava Jato, Teori Zavaski. E perguntou: “Mas alguém sabe que você me ajudou?”. Machado garantiu que não.
Fator Moraes
O colegiado que será coordenado por Lobão a partir da próxima semana vai sabatinar e votar se o ex-titular da Justiça Alexandre Moraes atende as pré-condições de notório saber e idoneidade, o que é preciso para que seja confirmado como novo ministro do Supremo. Lobão, ex-ministro de Minas e Energia do segundo governo Lula e em um pequeno período da gestão Dilma, é hoje um dos mais fortes apoiadores da gestão Michel Temer. Ele vai definir agenda e o ritmo da sabatina de Moraes na CCJ, terá o poder de dar ou cortar a palavra nos debates na comissão, deferir ou arquivar recursos, ou ainda barrar protestos de parlamentares da oposição. Não é pouco.
O governo quer aprovação urgente do nome de Moraes no Senado. Até porque ele será de uma turma, no STF, encarregada de revisar as decisões do colegiado que fará o primeiro julgamento dos investigados e réus envolvidos em operações policiais.
O poder de Sarney é inconteste. No Legislativo, com uma bancada fiel de senadores e deputados, no Executivo, com o filho ministro do Meio Ambiente e ascendência sobre Temer e outros ministros, e principalmente no Judiciário, onde o tamanho da sua “bancada” é incalculável.