Fábio Góis
Depois de ser absolvido pelo Conselho de Ética, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), voltou a afirmar que não se afastará do comando da Casa, até porque diz não se sentir culpado de nada. Epicentro da crise que atrapalha desde o início do ano a produção da Casa legislativa, Sarney diz que paga um preço por procurar “ajeitar” a instituição, mas nega que haja pressão por sua saída.
“Não existe pressão porque eu não me sinto culpado de nada. Estou procurando servir ao país, procurando ajeitar esta Casa. Estou pagando por isso, e vou continuar até o fim”, disse Sarney, em entrevista à Globonews. “Não posso deixar [a presidênicaa] porque não me deram nenhuma saída que não de cumprir o meu dever até o fim.”
Segundo Sarney – acusado no Conselho de Ética por irregularidades que vão desde desvio de dinheiro público por meio de patrocínio da Petrobras à Fundação José Sarney, no Maranhão, até o suposto envolvimento na emissão de atos administrativos clandestinos –, só seus próprios colegas do Senado podem tirá-lo da presidência. “No dia em que os colegas […] me destituírem, muito bem. Eles me elegeram, [então] podem me destituir”, disse o cacique peemedebista, que não respondeu se estaria arrependido de disputar a presidência do Senado, função que exerce pela terceira vez (as outras foram entre 1995 e 1997 e entre 2003 e 2005).
O que se viu nesta semana foi uma verdadeira operação de salvamento de Sarney no Conselho de Ética, inclusive com o voto dos três membros titulares do PT. Tais votos decidiriam o destino das investigações em um colegiado dividido, com cinco senadores oposicionistas e sete da base de apoio ao governo (sem contar com os petistas).
Conselho de Ética mantém arquivadas todas as acusações contra Sarney
Caso houvesse rebelião na base, o PT garantiria a manutenção do arquivamento dos pedidos de investigação contra Sarney. A postura dos três petistas que votaram, na quarta-feira (19) a favor do peemedebista – Ideli Salvatti (SC), Delcídio Amaral (MS) e João Pedro (AM) –, pressionados por nota assinada pelo presidente nacional da legenda, Ricardo Berzoini, causou um racha no partido, com a saída de Flávio Arns (PR) e a ameaça de saída de Aloizio Mercadante (SP) do cargo de líder da base. Mais cedo, a senadora Marina Silva (AC) já havia anunciado sua desfiliação (leia mais).
Ontem (20), o Psol, que teve duas representações arquivadas pelo presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), aliado de Sarney, e rejeitados os recursos para desarquivá-las, recorreu à Mesa Diretora contra a decisão do colegiado (leia mais). A intenção era levar a votação em plenário os recursos para desengavetar os pedidos de investigação contra o ex-presidente da República.
Mas a segunda vice-presidente do Senado, a petista Serys Shlessarenko (MT), acatou parecer técnico da Secretaria Gera da Mesa e rejeitou a solicitação do Psol. O líder do partido, José Nery (PA), já avisou que vai ao Supremo Tribunal Federal contestar a postura da Mesa.
Mesa rejeita recurso do Psol contra arquivamento de ações sobre Sarney
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