Depois de muita especulação e movimentações intensas nos bastidores, o senador José Sarney (PMDB-AP) deve comunicar ao presidente Lula, ainda hoje (19), que aceita disputar a presidência do Senado pelo seu partido – possibilidade que ganhou força nos últimos dias, inclusive com certa interferência do Palácio do Planalto. Assim, o candidato oficialmente anunciado do PMDB, Garibaldi Alves (RN), atual ocupante do posto, pode sair da disputa a qualquer momento. O encontro entre Lula e Sarney estaria em curso no Planalto, segundo informações do Blog do Josias (Folha de S.Paulo).
Nos últimos meses Sarney vinha descartando a hipótese de concorrer à presidência do Senado – posto que já ocupou por duas vezes (entre 1995 e 1997 e entre 2003 e 2005). Contudo, interlocutores do ex-presidente da República dão conta de que foi intenso o trabalho nos bastidores, em pleno recesso parlamentar, por sua candidatura – bem vista por Lula, que tem estreitado relações com Sarney, forte aliado governista no Senado. Assim, estaria lançado um apoio velado do governo a um aliado, e não ao candidato do próprio partido do presidente, o petista Tião Viana (AC).
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O presidente Lula também já tem um argumento pronto para apresentar a Sarney para não dar apoio declarado à sua candidatura – e, assim, evitar um mal-estar com um dos caciques do partido com a maior bancada no Senado (20 senadores) e na Câmara (90 deputados). Lula dirá a Sarney não ter como pedir a Tião Viana, fiel escudeiro do Planalto nas questões legislativas, que desista do pleito, ainda mais quando cinco partidos já anunciaram apoio à candidatura petista (PTB, PSB, PR, Psol, PRB e PDT).
Lula sabe que, em ano pré-eleitoral, uma indisposição com o partido vitorioso nas eleições municipais de outubro pode ser fatal para seus planos de fazer o sucessor nas presidenciais de 2010. Isso sem falar na possibilidade de candidatura própria do PMDB para a Presidência. Com Lula em cima do muro, tudo leva a uma vendeta entre PMDB e PT no Senado, em cenário oposto ao acordo em curso na Câmara entre as duas siglas em torno na candidatura de Michel Temer (PMDB-SP) – sem a exigência, por parte do PT, de contrapartida de apoio entre os senadores peemedebistas.
Apelo
A desculpa oficial de Sarney para confirmar o não dito – sua conhecida vontade de voltar ao comando da Alta Casa – será o “forte apelo” que vem sofrendo pela bancada peemedebista – que, aliás, só lançou Garibaldi à disputa por conveniência política (não seria bom ter anunciado candidatura própria, mas com o impasse do candidato “virtual”) e para fazer frente à candidatura de Tião Viana. Em entrevista ao Congresso em Foco, na última quarta-feira (14), o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), confirmou que há mesmo um movimento dentro da bancada pela candidatura de Sarney.
“Ele [Sarney] está sendo muito pressionado por parte da bancada, e inclusive por senadores da oposição. Não cem por cento, mas a maioria. Existe um apelo muito forte”, disse Raupp, para quem Sarney é o mais forte candidato do PMDB (leia).
Segundo o Blog do Josias, Sarney teria levado à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) suas razões para aceitar a corrida à presidência do Senado. Além da pressão interna no PMDB, inimigos políticos em nível regional o estariam fustigando ao ponto de exigir dele um retorno à ribalta da alta administração federal em Brasília. O “desabafo” de Sarney teria sido reportado por Dilma a Lula – que, providencialmente, mantém-se fora da briga entre PT e PMDB no Senado. Em que pese o fato de que Tião já disse não aceitar uma “saída honrosa”.
Já Sarney tem a seu favor a “fragilidade” partidária de Garibaldi, nacionalmente, nos quadros do partido. Sarney almejava uma aclamação dentro da legenda – unanimidade inviabilizada pelos “históricos” Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE), fundadores peemedebistas radicalmente contra o alinhamento de Sarney aos interesses do Planalto. Queria o cenário ideal da candidatura única. E, mais difícil do que isso, uma intervenção oficial do presidente Lula em favor de seu nome, declaradamente – o que, somados apenas os votos do PMDB e do PT (32), sem contar com as legendas da base governista, já significaria uma ampla vantagem sobre Tião.
Os próximos presidentes da Câmara e do Senado tomam posse na manhã do dia 2 de fevereiro, quando ocorrem as votações secretas, simultaneamente, na sessão marcada para as 10h. Na tarde do mesmo dia, às 16h, o presidente do Congresso (que também é o presidente do Senado) abre em plenário os trabalhos legislativos de 2009. (Fábio Góis)
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