Marcela Thaís Panke,
Especial para o SOS Concurseiro
Os gaúchos estão atentos às oportunidades oferecidas pelos concursos públicos e muitos buscam auxílio profissional para se prepararem para as provas. Embora não exista um número oficial de cursos preparatórios em funcionamento no Rio Grande do Sul, é possível ter uma ideia do tamanho deste mercado em Porto Alegre. De acordo com o banco de dados da Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic), há pelo menos 12 escolas preparatórias para concursos públicos na capital que, pelo último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem 1.409.351 habitantes. A concorrência, no entanto, já foi maior: “Houve um momento em que existiam 20 cursos preparatórios para concursos em Porto Alegre. Hoje não tem mercado para isso, não tem mais tantos editais”, conta Paulo Paz, diretor do ADMI Concursos, que atua há 30 anos na capital gaúcha.
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Em Porto Alegre, um curso em formato de combo, com as disciplinas comuns à maioria das provas – Português, Matemática, Informática e Legislação – costuma durar, em média 60 dias, e custar entre R$ 400 a R$ 800, com aulas de segunda a sexta-feira, com a opção de encontros aos finais de semana e feriados. A maioria dos estabelecimentos oferece ainda turmas modulares, que podem ter carga horária maior e focam um disciplina específica. Duas das empresas especializadas em cursos presenciais dispõe de planos de estudo extensivos. O curso Vigor tem uma opção chamada “Passe do Candidato Persistente”, um contrato com validade de um ano em que o aluno pode participar de quantos e quaisquer cursos da casa, com livre acesso aos turnos. Já no ADMI Concursos há a possibilidade do aluno ser mensalista, assumindo um plano de seis ou de 12 meses, em que pode assistir aulas livremente em qualquer dos cursos preparatórios presenciais, abrangendo conhecimentos básicos.
O concurseiro gaúcho tem, em média, entre 18 e 40 anos e nível médio de escolaridade, muitos cursando o nível superior. O sócio proprietário do curso Líder, de Passo Fundo, Cícero Costa, conta que o público feminino prevalece nas salas de aula. No caso da empresa que administra ele percebe uma proporção de três mulheres para cada homem matriculado, com exceção das seleções da área policial, em que os candidatos do sexo masculino ainda dominam. Cícero comenta do comportamento das concurseiras: “As mulheres se preparam mais, são mais disciplinadas e dedicadas. Se não deu certo desta vez, elas sentem muito, ficam tristes, choram, mas no próximo concurso elas estão lá novamente. Entendem que a o resultado negativo faz parte do processo de aprovação”.
Estratégia dividida
A maior parte das escolas preparatórias do Rio Grande do Sul possui a opção dos cursos não presenciais, com custo de até 50% inferior aos tradicionais. A empresa A Casa do Concurseiro é um deles, como explica o professor e administrador do curso preparatório, Luiz Eduardo de Latorre. “Graças ao curso na modalidade de ensino à distância (EAD), conseguimos atingir o país todo sem precisar abrir franquias ou novas sedes”. Contudo, existem exceções. Em Porto Alegre, o curso Vigor, com mais de 30 anos de atuação na cidade, parece andar na contramão dos concorrentes. A diretora, professora Beatriz Backes, explica a estratégia. “A direção da empresa tem um pensamento firme de que é na troca, na interação momentânea do grupo que se tem um resultado maior. Por enquanto, essa filosofia imperante está dando certo”.
PublicidadeCícero Costa, do curso Líder, de Passo Fundo, pensa de maneira semelhante. “Na nossa região – norte do Rio Grande do Sul -, no contato que temos com o público que busca concursos, é comprovado que a modalidade EAD não tem um bom resultado para a maioria dos casos. A aprovação dos alunos que frequentam os cursos presenciais é maior em relação aos do EAD. Temos até depoimentos de pessoas que fazem as duas modalidades e preferem o presencial, até pelo motivo do contato com o grupo: são pessoas que tem o mesmo interesse, trocam experiências e tem até a palavra de incentivo e a mão amiga que dá forças, um apoio que às vezes falta até no ambiente familiar ou de trabalho”. Cícero comenta ainda que os cursos à distância requerem muita disciplina por parte dos alunos e aponta outra desvantagem. “É muito difícil fazer com que eles se concentrem, aprendam e queiram estar ali de frente para uma tela estudando matemática, por exemplo. Normalmente já trazem um déficit de conteúdo do ensino fundamental e médio que precisamos identificar na sala de aula e procurar corrigir para fazer com que o aluno siga e não desista do curso”.
O gaúcho Humberto Vieira Roehe, 34 anos, já é empregado público, mas não parou de estudar. Atualmente, é assistente administrativo na Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (Ceee), mas optou por trabalhar no teleatendimento da instituição devido à possibilidade de carga horária reduzida, de seis horas por dia, para se preparar para outros concursos. Um dos próximos desafios é a conquista do cargo de auditor fiscal do Ministério do Trabalho. Humberto vê nos cursos à distância uma boa opção para o concurseiro. “Tenho optado pelos cursos EAD principalmente pelo preço, conforto e aproveitamento. Com certeza é possível fazer uma boa preparação através desse tipo de curso! Entretanto, ressalto, é preciso muita disciplina e compromisso, pois um curso EAD é assistido em bem mais tempo que um curso presencial, uma vez que é natural parar a aula para anotar a matéria. Entretanto, também é necessário registrar que o aproveitamento é maior!”.
Humberto não é o único que pretende seguir investindo em concursos públicos: os dirigentes de cursos preparatórios no estado têm, em geral, boas expectativas. A professora Beatriz, do curso Vigor, comenta que a cada ano a procura pela estabilidade e pelos bons salários aumenta. “Há cursos em que lotamos a casa e que locamos salas em outros lugares para atender à demanda, como foi o caso recente dos concursos do Magistério Público Estadual e da Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre”. O representante do curso Líder, de Passo Fundo, também percebe um crescimento na procura pelos cursos preparatórios. “O nível de concorrência está cada vez maior, tanto em número de candidatos quanto em grau de dificuldade das provas. Se há cinco anos uma ‘nota sete’, por exemplo, possibilitava o ingresso no serviço público de um determinado setor, hoje essa mesma nota deixa o candidato muito distante dos que serão convocados. Então, o preparatório é uma necessidade para lograr êxito”, comenta Cícero Costa.