Geraldo Magela/ Agência Senado
Carol Ferrare e Rodolfo Torres
Em um pronunciamento sem apartes lido na tribuna do Senado há pouco, um emocionado Joaquim Roriz (PMDB-DF) apelou à religião e a seu passado como "defensor dos pobres" para negar qualquer envolvimento com as fraudes no Banco Regional de Brasília (BRB) reveladas pela Operação Aquarela, da Polícia Civil do DF.
Durante as investigações, a polícia interceptou uma ligação telefônica em que Roriz tratava com Tarcísio Franklin de Moura, ex-presidente do BRB, a divisão de R$ 2,2 milhões. Segundo o senador, o dinheiro seria do empresário Nenê Constantino, dono da Gol Linhas Aéreas. Ele afirma que descontou o cheque, do Banco do Brasil, no BRB apenas por uma questão de comodidade e que Nenê lhe emprestou R$ 300 mil e ficou com o restante da quantia.
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"Tantas denuncias que me faziam chorar dores profundas. A vontade era de vir aqui ao Senado pedir desculpa a esses homens maravilhosos. Lembrava do meu pai, pensava se meus amigos estavam acreditando naquilo, se minha mulher achava que eu era um cafajeste. Eu tinha vergonha de sair de casa. Só a oração me reestabeleceu", disse.
Para Roriz, as acusações contra ele são fruto da "malícia" da oposição, que estaria tentando antecipar a disputa eleitoral de 2010, e da "maldade" da imprensa. "Graças a meu bom Deus, até hoje não conheci o sabor da derrota. A imprensa, quando quer, ela massacra, destrói. Vejam o que está acontecendo ao nosso amigo, ao nosso presidente dessa casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Será que é justo tanta maldade com um homem que tem um relevante passado dedicado ao seu país?".
Ao comentar uma briga com o jornal Correio Braziliense, que, quando era dirigido pelo jornalista Ricardo Noblat, fazia oposição ferrenha ao seu governo, Roriz constatou: "O povo fez com que eu vencesse". "Sempre procurei fazer o bem, nunca demiti um funcionário que seja, dei leite e pão para crianças subnutridas, casa e moradia para quem morava nas favelas. Só pensava dia e noite em quem passava necessidade e fome. Pergunte nas periferias.de Brasília se algum dia eu tive algum comportamento que não fosse ético. Eu nunca sofri tanto", acrescentou.
Roriz ofereceu à Mesa Diretora do Senado duas folhas em branco assinadas que, disse, poderiam ser utilizadas pelo Supremo Tribunal Federal e pela Polícia Federal para quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico seus e de sua família.
"Está assinada uma folha em branco autorizando os ministros do Supremo a escreverem qualquer texto que se refira à quebra do meu sigilo bancário, fiscal e telefônico. Ao meu, ao da minha esposa e ao das minhas filhas. Do mesmo modo, assino outra folha em branco para ser entregue à presidência autorizando a PF a escrever o texto que achar conveniente para pesquisar, em qualquer lugar do mundo, do planeta Terra, se eu tenho alguma conta bancária internacional ou conta bancária nacional que não seja a conta aqui do BRB e conta aqui do Senado. Está aqui autorizado, escrevam o que quiserem".
O senador Tião Viana (PT-AC), que presidia a sessão no momento, pediu a Roriz que, em lugar das folhas em branco, entregasse à mesa uma procuração disponibilizando as informações.
Empréstimo
Roriz confirmou ser amigo do empresário Nenê Constantino "desde quando ele era caminhoneiro e eu [Roriz] vendedor de areia" e disponibilizou "para quem quiser ver" documentos que, segundo ele, comprovam o empréstimo de R$ 300 mil feito a ele para que pagasse uma bezerra.
Após criticar o vazamento de informações relativas ao inquérito da Operação Aquarela, o ex-governador do DF contou: "Aquela aberração que eu fui pego falando, eu que tinha autorizado a abrir aquela investigação. E quem eu determinei hoje é deputado federal, o Laerte Bessa (PMDB-DF), chefe da Polícia Federal durante o meu governo. Mas é o destino, é o acaso que acontece".
Declarando-se profundamente constrangido por subir à tribuna para tratar de questões pessoais, Roriz questionou: "Será que um senador não poderia pedir um empréstimo a um amigo de longa data? Que censura poderia ser feita a alguém que assim agisse? Pedir dinheiro emprestado é crime, é ilegal?".
E acrescentou: "Nem sempre as expressões utilizadas numa ligação telefônica têm exata correspondência com a mensagem pretendida. Sou homem simples. Ao afirmar que o dinheiro estava destinado a muitas pessoas, o objetivo era apenas informar que o valor não deveria ser entregue apenas ao beneficiário do cheque, o Nenê. O objetivo era apenas ressaltar que deveria ser retirado o empréstimo e a parte para o amigo que tinha problemas de saúde".
O senador acrescentou que, apesar das denúncias que pesam contra Tarcísio Franklin de Moura, confia no ex-presidente do BRB que, disse, fez com que o banco, então falido, "se tornasse maravilhoso".
Ao encerrar a fala, o parlamentar disse que iria à Catedral de Brasília “prostrar-se de joelhos e orar até o anoitecer, agradecendo a Deus e à Nossa Senhora por ter ido ao Senado dizer a verdade, somente a verdade”.
Processo no Conselho de Ética
O senador que sucedeu Roriz na tribuna foi José Nery (Psol-PA), que falou da representação contra o ex-governador do DF protocolada hoje pelo seu partido (leia mais). Nery afirmou que as denúncias contra o peemedebista devem ser investigadas, “mas isso não representa de forma alguma uma condenação antecipada, seja ao senador Roriz, seja ao senador Renan, seja a qualquer um de nós”.
O parlamentar paraense declarou que o Psol entrou com representação contra Roriz no Conselho de Ética “por entender que a gravidade das denúncias exige investigação"." A representação que fizemos é simplesmente para apuração dos fatos”, disse.
Nery afirmou que recebeu documentos oferecendo “algumas explicações” para a operação do desconto do cheque de R$ 2,2 milhões. Contudo, o senador do Psol questionou alguns pontos da defesa. Entre outros, indagou sobre o motivo de o saque “só ter sido comunicado seis dias após o cheque ter passado pelo BRB, justamente quando o BRB passava por uma inspeçã