— Este é o momento de definitivamente moralizarmos o nosso futebol, e não podemos perder a oportunidade. Esperamos desmontar de uma vez por todas essa caixa-preta que existe dentro da CBF — afirmou o senador.
Na manhã desta quarta-feira, a Agência Federal de Investigação dos Estados Unidos (FBI), através da polícia da Suíça, prendeu sete dirigentes ligados à Federação Internacional de Futebol (Fifa) por suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro e extorsão envolvendo a organização de competições e contratos de marketing e televisionamento. Entre eles está o ex-presidente da CBF José Maria Marin, que deixou o cargo em abril deste ano. Ele atualmente ocupa uma das cinco vice-presidências da entidade.
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Marin é acusado de negociar propinas no valor de R$ 346 milhões pela cessão dos direitos de transmissão da Copa América até 2023, enquanto presidiu a CBF. A entidade também será investigada por contratos de patrocínio firmados com a multinacional americana Nike e intermediados pela Traffic, empresa brasileira de marketing esportivo. Essas negociações datam do mandato do antecessor de Marin na presidência da CBF, Ricardo Teixeira – que ainda não foi citado judicialmente.
— Tudo que aconteceu hoje já vem tarde, mas antes tarde do que nunca. O mais importante é que daqui para frente essas pessoas que estão envolvidas vão pagar pelo mal que vêm fazendo ao nosso futebol — declarou Romário.
O senador adiantou que conversará com o presidente do Senado, Renan Calheiros, a respeito da possibilidade de ser o relator da futura CPI. Renan já manifestou apoio pela iniciativa de criação da comissão.
— Esse assunto mobiliza a sociedade e o país cobra respostas. Se o caminho for o da CPI, nós temos que estimular — disse, Renan.
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que tentou criar uma CPI para investigar a CBF em 2014, louvou a proposta e dirigiu críticas à condução da CBF.
— Fico feliz com uma iniciativa para colocar a limpo o futebol brasileiro. Eu subscrevo e espero que ninguém mais se intimide com o lobby da CBF. Essa é uma empresa dirigida há 30 anos por uma gangue de corruptos. Essa casa tinha que cair em algum momento — afirmou Randolfe.
O senador Magno Malta (PR-ES) confirmou que assinou o requerimento de Romário para criação da CPI e manifestou a vontade de integrá-la.
— Quero ajudar porque é uma tarefa árdua. O pedido passou de 50 assinaturas, o que revela a insatisfação de um povo. A sociedade rejeita o que fizeram com o futebol brasileiro. O 7 a 1 [placar da derrota do Brasil para a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo de 2014] foi a gota d’água de uma desarrumação que ele, Romário, já havia denunciado.
O líder do PT, senador Humberto Costa (PE), também manifestou apoio, mas recomendou cautela na condução de uma investigação parlamentar sobre a entidade máxima do futebol brasileiro.
— É preciso que o resultado leve em conta o caráter de autonomia e de instituição privada que a CBF tem. Porém, se houver elementos que permitam uma investigação que redunde em mudanças para o futebol brasileiro, poderemos apoiar.
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) mostrou-se favorável, mas, em sua visão, seria mais eficaz que o Congresso discutisse a elaboração de uma legislação que reforce o controle público sobre a confederação. Em 2000, Alvaro presidiu a CPI da CBF/Nike, uma comissão mista que investigou os contratos da entidade com a empresa americana.
— Já fizemos uma CPI que revelou muita coisa, e agora é hora das providências. Creio que é mais oportuno discutirmos uma legislação que dê nova configuração jurídica à CBF, obrigando-a a prestar contas com fiscalização do TCU [Tribunal de Contas da União] e encaminhamento das informações financeiras ao Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras].
Mais cedo nesta quarta-feira o senador Zezé Perrella (PDT-MG) anunciou em Plenário que também iniciaria coleta de assinaturas para criar uma CPI com o mesmo objetivo. Em 2013, Perrella foi contra a criação de uma CPI da CBF no Senado, e agiu para convencer colegas a retirar assinaturas do requerimento. Desta vez, contudo, ele disse entender que as circunstâncias são diferentes.
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