Está ainda mais estremecida a relação entre o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) e seu vice Renato Santana (PSD). O governador demitiu Santana do comando da Administração de Vicente Pires, cidade a 15km do centro de Brasília, assim como parte dos assessores da vice-governadoria. O estopim foi o aumento de até 25% nas passagens de ônibus e metrô – criticado duramente por Santana. “Gestor que sugere aumento deve ser demitido”, declarou na véspera o vice em uma crítica direta ao governador.
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Renato Santana se pôs contra o aumento das passagens. Esta não é a primeira vez que o vice entra em choque com o governador. Diante da ameaça da Câmara Legislativa de interromper o recesso parlamentar para derrubar sua decisão, Rollemberg teve de interromper suas férias de final de ano, em Aracaju, e voltar imediatamente a Brasília. No final de semana, cresceram os rumores de que Santana, na condição de governador interino, poderia revogar o decreto assinado pelo governador no último dia 30.
Exonerado
Logo após ser demitido da Regional de Vicente Pires, Renato Santana afirmou, em nota, que foi exonerado apenas apenas porque sugeriu “uma alternativa para reverter a crise com o aumento de passagens”. O vice-governador lamentou também a maneira como foi demitido: “Sem nenhuma ligação do governador”.
Já o governo, por meio da Secretaria de Cidades, afirmou que “a exoneração do vice-governador do comando da Administração Regional de Vicente Pires é um ato administrativo normal que tem como objetivo dar maior dinamismo à gestão de todas as administrações regionais”. Alegou, ainda, que o ajuste foi necessário para aproximar a administração regional e a comunidade.
Crise
Líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF) esteve com Renato Santana logo após a exoneração do vice-governador. O parlamentar evitou colocar lenha na fogueira e afirmou que a “prioridade do partido é o povo do DF” . Nos bastidores, porém, o PSD e o PSB travam uma batalha ferrenha.
O presidente local do PSB, Jaime Recena, criticou a forma com que Renato Santana se refere à gestão – como se não fizesse parte dela. “O vice tem direito de opinar, mas se equivoca na forma como faz isso”, afirmou Recena ao Congresso em Foco. Ele lembra que “a palavra final é do governador” e ressalta que medidas impopulares, apesar do alto custo político, são necessárias e serão reconhecidas em 2018.
Renato Santana era considerado a voz de Rollemberg em várias cidades do Distrito Federal, como a maior delas, Ceilândia, com 400 mil habitantes. É dele a incumbência de estreitar o diálogo entre os administradores e o governador. Recentemente, porém, essa ponte traçada por Santana está sendo ignorada por alguns gestores regionais.
Em entrevista concedida ao Congresso em Foco em outubro, Rollemberg acusou o seu vice de participar de uma “armação” para desgastar sua gestão. O governador atribui a necessidade de aumentar a tarifa das passagens ao fato de um terço dos passageiros do Distrito Federal ter direito a gratuidade no transporte público. Segundo o governo, isso custou R$ 600 milhões aos cofres públicos no ano passado. A crise no relacionamento entre os dois começou no ano passado, quando Santana figurou em áudios investigados pela CPI da Saúde criticando o governador, sugerindo que Rollemberg tinha conhecimento de um esquema de corrupção na área e não havia tomado providências.
Leia a íntegra da nota do vice-governador:
“Sugeri a demissão de quem sugeriu ao governador apenas uma alternativa para reverter a crise com o aumento de passagens! E fui demitido de Vicente Pires sem nenhuma ligação do governador! Estive a frente de 31 regiões administrativas nos últimos 2 anos! Sempre que precisou me acionou e fui prontamente atender, por entender que essa é a forma de colaborar com a cidade, trabalhando! Não vou jamais deixar de dar e expressar meu ponto de vista acerca das coisas que afetam a vida do cidadão na cidade que nasci e hoje tenho a oportunidade, a missão de colaborar com a gestão! Ontem deixei mensagem de Whatsapp ao governador sugerindo a suspensão das tarifas e assumi o compromisso de apontar alternativas que possam minimizar o impacto financeiro e fazer voltar a girar a economia da capital da República! Sugeri uma auditoria/revisão nas gratuidades, porque certamente há um descontrole que vem de anos! Por exemplo, hoje um cidadão que ocupa área pública no Distrito Federal, uma varanda de bar por exemplo, não paga pela utilização por não termos instrumentos que permitam esse pagamento! Quem utiliza área com outdoor nas regiões administrativas passa pela mesma coisa! Sem medo de errar, temos mais de R$ 1 bilhão/ano somente nesse tema! Dá trabalho fazer isso? Dá sim, e é por isso que precisamos contar com a mão-de-obra dos 160 mil servidores que temos no quadro do GDF. O fácil é fazer o óbvio? Não posso concordar, tendo alternativas! Continuarei trabalhando!”.
Renato Santana da Silva, servidor público do GDF há 22 anos e há dois como vice-governador do DF.”
Leia a íntegra da nota da Secretaria de Cidades:
“A exoneração do vice-governador do comando da Administração Regional de Vicente Pires é um ato administrativo normal que tem como objetivo dar maior dinamismo a gestão de todas as administrações regionais.
É um ajuste necessário até porque é preciso que elas estejam mais sintonizadas com a comunidade e com o projeto político-administrativo do governo.
Um novo gestor seguirá com maior rigor, eficácia e eficiência as orientações e diretrizes governamentais e ao mesmo tempo trará para o governo as reais necessidades da população e não temas de interesse desse ou daquele grupo político-partidário.”