VEJA
Os órfãos da impunidade
Enquanto o governo e as ONGs de preocupam em amparar os assassinos de todas as idades, uma geração de vítimas invisíveis cresce sem pais e sem apoio
Exclusivo: Caso Rosemary, a tentativa de sabotar a investigação.
Secretaria-Geral da Presidência da República tentou sabotar a sindicância da Casa Civil que investigou a ex-secretária e amiga de Lula, uma operação considerada mal-intencionada pelo próprio governo
Há duas semanas, VEJA revelou as conclusões de uma sindicância do governo que investigou as traficâncias de Rosemary Noronha no período em que ela chefiava o escritório da Presidência da República em São Paulo. Coordenada pela Casa Civil, a apuração desvendou como a ex-funcionária usava a influência e a intimidade que desfrutava com o ex-presidente Lula para se locupletar do poder. Ao fim de dois meses de trabalho, os técnicos reuniram provas que resultaram na abertura de um processo disciplinar contra ela por enriquecimento ilícito. A investigação chamou atenção pela celeridade, profundidade e contundência com que se esmiuçaram os malfeitos da ex-chefe de gabinete – um ponto fora da curva na tradição petista de poupar os companheiros pilhados em falcatruas. O desfecho, porém, não deveria ter sido esse. Desde o primeiro dia de investigações, forças poderosas dentro do próprio governo atuaram para impedir a sindicância de chegar ao fim. Essas forças tentaram, felizmente em vão, evitar que a sindicância terminasse da maneira como terminou. VEJA teve acesso a um documento que mostra como a Secretaria-Geral da Presidência da República montou um processo paralelo com a falsa intenção de “acompanhar e orientar” a apuração da Casa Civil – mas que não passava de um ardiloso instrumento de sabotagem do trabalho de investigação.
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Aécio Neves: “Estou preparado para iniciar um novo tempo no Brasil”
Para levar os tucanos de volta ao poder, o senador mineiro prepara um novo projeto para o PSDB. Saiba quais são suas principais propostas, as ideias para a economia e os parceiros preferenciais
Logo depois das eleições municipais de 2012, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) teve uma conversa decisiva com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Foi direto ao assunto: “Geraldo, você quer ser novamente candidato a presidente da República?”, indagou o mineiro. “Se quiser, terá todo o meu apoio.” Alckmin respondeu que não e disse que trabalharia para o PSDB chegar unido em 2014. Era tudo o que Aécio queria ouvir. Sua pergunta tinha algo de retórica, pois ele já sabia que não estava nos planos do governador disputar a sucessão de Dilma Rousseff e que chegara a sua hora na fila tucana. O que Aécio buscava mesmo era a certeza de que movimentos ressentidos do recém-derrotado José Serra não abalariam a unidade partidária em São Paulo, Estado que concentra a maior parte do eleitorado brasileiro. Com a resposta de Alckmin e o aval do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves começou a colocar em prática uma série de ações que se tornarão mais visíveis nas próximas semanas, quando ele assumir a presidência nacional do partido. Nos últimos meses, o senador mineiro se debruçou sobre diversas pesquisas, conversou com os empresários que costumam liderar as listas de doadores nas campanhas eleitorais, reuniu prefeitos e governadores de todas as regiões do País e vem mantendo encontros frequentes com economistas e analistas políticos. No comando do tucanato, Aécio pretende liderar uma oposição bem mais aguerrida. Irá correr o País e promete finalizar até dezembro o que vem chamando de um novo projeto para o Brasil.
Se depender do roteiro traçado pelo senador, a eleição presidencial de 2014 poderá ser bem diferente das duas últimas. Tanto em 2006 quanto em 2010, o PSDB não conseguiu se colocar como alternativa real na cabeça do eleitor. Não trouxe ideias capazes de animar o debate político e não conseguiu se descolar da pauta imposta pela gestão petista. Aécio trabalha agora para formular outra agenda e começa a esboçar o programa para a campanha. Do ponto de vista da economia, estarão de volta as bandeiras de corte liberal dos tucanos, agora apimentadas por críticas a políticas executadas pelo governo Dilma. Metas de inflação desleixadas, isenções fiscais seletivas, ingerências na economia, crescimento irrisório e paralisia nas obras de infraestrutura serão os alvos prediletos dos tucanos. A contundência das propostas, contudo, ainda parece depender demasiado de um eventual fracasso da atual política econômica, obviamente descartado pelo governo. É como se, para dar certo, tudo tivesse de dar errado. O índice inflacionário é o cavalo de batalha do momento. Na quarta-feira 1º, no palanque da Força Sindical, em São Paulo, Aécio jogou no colo do governo a responsabilidade pela alta dos preços: “A leniência do governo coloca em risco uma das maiores conquistas das últimas décadas: o controle da inflação. Não vamos permitir que esse fantasma volte a nos assombrar”, disse Aécio.
Lula: “O PT precisa provar que é possível fazer política com seriedade”
Em entrevista a livro sobre a era petista no poder, Lula reconhece os erros do partido e diz que a tarefa do PT é voltar a acreditar em valores banalizados pela disputa eleitoral
O ex-presidente Lula atravessou as turbulências políticas dos últimos oito meses esquivando-se das polêmicas. Antes, durante e depois do julgamento de cabeças coroadas do PT no STF, período em que tanto ele quanto o seu governo foram questionados ética, moralmente e por práticas de corrupção, Lula limitou-se às articulações políticas e a proferir discursos para plateias específicas ao lado da presidenta Dilma Rousseff. Na única vez em que falou com a imprensa, ele preferiu não discorrer sobre temas espinhosos envolvendo o PT e sua gestão. O silêncio foi quebrado em entrevista de 20 páginas para o livro “Lula e Dilma, 10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil”, da Editora Boitempo. Ao fazer um balanço sobre a era petista no poder, Lula referiu-se ao momento seguinte à denúncia do mensalão como o mais delicado do governo e voltou a reconhecer os erros cometidos pelo PT, reeditando postura adotada durante a eclosão do escândalo em 2005. “O PT cometeu os mesmos desvios que criticava. O PT precisa voltar a acreditar em valores banalizados por conta da disputa eleitoral. É provar que é possível fazer política com seriedade. Pode fazer o jogo político, mas não precisa estabelecer uma relação promíscua para fazer política”, disse Lula. Na avaliação do ex-presidente, o PT deveria “reagir” e empunhar a bandeira da reforma política para aprovar o financiamento público de campanha, caso contrário “a política vai virar mais pervertida do que já foi em qualquer outro momento”. “Às vezes eu tenho a impressão de que partido político é um negócio”, emendou.
Temer combate os incêndios
Vice-presidente Michel Temer atua como bombeiro e consegue aplacar a crise entre o Legislativo e o Judiciário. Escalado por Dilma, o peemedebista conquista espaço de destaque nas costuras políticas do governo.
Nas últimas semanas, uma disputa de forças entre Legislativo e Judiciário desenhou um cenário preocupante para as relações entre os Poderes. Os embates se agravavam a cada dia, com congressistas tentando reduzir poderes dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), e estes usando o poder de juízes para emperrar a votação de um projeto que inibe a criação de novos partidos. A crise ameaçava ganhar contornos sombrios até que o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), entrou em cena, a pedido da presidenta Dilma Rousseff, com a missão de impedir que uma pequena labareda se transformasse em incêndio.
Em um único dia, Temer falou quatro vezes com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e duas com o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Pediu cautela e espírito conciliador nas conversas com o ministro Gilmar Mendes, que havia concedido a liminar para paralisar a tramitação do projeto sobre novos partidos. Disse aos colegas que era preciso apresentar argumentos jurídicos para sustentar seus pontos de vista e dar demonstrações de que não compactuam com atitudes e gestos que poderiam ser considerados extremados.
A vidraça comunista
Acostumado a denunciar práticas de corrupção, o PCdoB passa a conviver com seguidos escândalos envolvendo seus dirigentes.
Na última semana, depois de quase um ano de investigações sigilosas, a Polícia Federal mobilizou mais de 150 agentes e voltou a levar comunistas para a cadeia. Desta vez não com base em uma famigerada lei de segurança nacional, mas por violações ao código penal. Na segunda-feira 29, o secretário do Meio Ambiente do Rio Grande Sul, Carlos Fernando Niedersberg, líder do PCdoB no Estado e homem de confiança do governador Tarso Genro (PT), foi preso sob a acusação de ser um dos comandantes de uma máfia especializada na concessão fraudulenta de licenças ambientais para a construção de condomínios de luxo, autorizações para atuação de empresas no setor de mineração e lavagem de dinheiro. O grupo, segundo os delegados da PF, era composto por funcionários públicos e consultores ambientais e atuava não só no governo estadual como em diversas prefeituras. “Em pouco tempo, esse homem aparelhou a Secretaria do Meio Ambiente e a transformou em uma central de cobrança de propinas”, disse um dos delegados da PF que lideraram a chamada Operação Concutare. Eles não revelaram o total de recursos movimentados pela quadrilha, mas asseguram que cada autorização irregular custava cerca de R$ 70 mil. Agora, a PF deve iniciar uma nova investigação para saber qual o destino dado ao dinheiro obtido com a corrupção. Há suspeitas de que parte dele possa ter irrigado as finanças comunistas.
A prisão de Niedersberg não foi um fato isolado para o PCdoB. Também na última semana, um outro líder do partido foi colocado na alça de mira da Polícia Federal. Trata-se de Daniel Nolasco, sócio da RCA Assessoria. A empresa é acusada de cometer fraudes para a obtenção de recursos do Programa Minha Casa Minha Vida. Segundo as investigações, a RCA interferia no sistema de seleção das construtoras escolhidas para participar do programa habitacional do governo e depois recebia parte dos superfaturamentos. Também nesse caso, a PF quer saber se o partido foi beneficiado com parte dos recursos obtidos de forma irregular. Tem chamado a atenção dos delegados e também de membros dos tribunais de contas a frequência com que integrantes do PCdoB são descobertos cometendo falcatruas, embora muitas vezes não apresentem sinais exteriores de riqueza. Há apenas dois anos, denúncias de desvio nos convênios do Ministério do Esporte com prefeituras e ONGs levaram à queda do ministro Orlando Silva. Investigação da Polícia Federal iniciada após denúncia publicada na ISTOÉ resultou ainda no indiciamento da ex-atleta e vereadora Karina Rodrigues, conhecida como Karina do Basquete, filiada ao partido, acusada de participar do desvio de R$ 27 milhões dos cofres do Ministério para a ONG Pra Frente Brasil.
Oportunista e atrasado
O deputado Paulinho da Força tenta fazer demagogia com proposta de recriação do gatilho salarial, indexação que já se provou fracassada nos anos de inflação galopante. Felizmente, a ideia não tem a menor chance de prosperar.
Entre políticos e sindicalistas, o deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT), é conhecido pela virulência com que defende os seus interesses. Nos últimos dias, porém, ele conseguiu se superar. Diante de milhares de pessoas que assistiam à comemoração do Dia do Trabalho promovida pelas principais centrais sindicais, com exceção da CUT, na capital paulista, Paulinho da Força defendeu a volta de uma arma retrógrada aposentada há mais de duas décadas da economia do Brasil: o chamado gatilho salarial. O político propõe que os trabalhadores tenham os salários reajustados trimestralmente para repor as perdas com a inflação. Trata-se de uma esperteza política. À primeira vista, a demagógica proposta do líder da Força Sindical seduz qualquer assalariado. Afinal, todos querem mais poder de compra. Ocorre que, ao se indexar salários, os custos salariais automaticamente são repassados aos custos de produção retroalimentando os aumentos de preços. Aí, sim, o Brasil terá um problema inflacionário real. No passado, ficou provado que quem paga essa conta é sempre o trabalhador, uma vez que seu reajuste ocorre em cima de aumentos já estabelecidos. Paulinho da Força, no entanto, parece não se preocupar com os efeitos da medida. Questionado por ISTOÉ se o gatilho salarial geraria inflação, respondeu: “Não é problema nosso. Quem tem de lidar com isso é a equipe da Dilma.”
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Pai gordo, filho obeso… e neto acima do peso
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Eleições
A divisão do Nordeste entre PT e Eduardo Campos
O Nordeste, que cresce mais que o Brasil e ainda sofre com a seca, deve ser decisivo nas eleições de 2014. Se disputar a Presidência, Eduardo Campos dividirá a região, hoje fiel ao PT
A viagem ao sertão, a partir do litoral pernambucano, é marcada pela mudança na paisagem. De início, a grama é verde, e o gado pasta. Perto da chegada, a vegetação é seca, e as carcaças de animais na beira da estrada se tornam comuns. Assolado pela maior seca dos últimos 50 anos, o Nordeste está devastado. Mais de 1.000 municípios já declararam estado de calamidade pública, e 20 milhões de pessoas sofrem com a escassez de chuvas. O Nordeste está também dividido. Entre as agruras da seca e a recente bonança econômica. Entre a morte do gado e o Bolsa Família. Entre Dilma e Eduardo. No sertão de Pernambuco, a cidade de Calumbi, a 415 quilômetros do Recife, deu em 2010 96,5% de seus votos a Dilma Rousseff (PT). No mesmo ano, 98,5% de seus eleitores votaram em Eduardo Campos (PSB) para governador. Em 2014, é provável que tenham de escolher entre um e outro.
Calumbi é um exemplo vivo da lua de mel entre nordestinos e o Partido dos Trabalhadores e seus aliados na última década – que garantiu ao PT as vitórias nas duas últimas eleições presidenciais. Em 2006, Luiz Inácio Lula da Silva obtivera 95,1% dos votos em Calumbi, praticamente o mesmo índice que ajudou a levar Dilma à Presidência. O desempenho de Campos em 2010, quando era aliado fiel de Lula, impressiona ainda mais em números absolutos: 3.577 votos na cidade, contra 55 de todos os adversários. “Sempre votei nos três (Lula, Dilma e Campos), mas, se no ano que vem for Dilma contra Eduardo, não sei o que fazer”, diz Ailton Moura, dono de um pequeno mercado no centro de Calumbi. “Hoje, votaria no Eduardo, mas acho que o pessoal vai com Dilma por causa do Fome Zero.” Moura passou a vender 20% mais após a introdução do Bolsa Família. “É mais dinheiro girando, e o pessoal vindo da roça para comprar.”
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Sob inspiração dos princípios da Escola Superior de Guerra, instituição das Forças Armadas, está sendo criado mais um partido político brasileiro. Desta vez trata-se do Partido do Brasil Forte (PBF) que realiza neste sábado em Brasília a sua convenção para a escolha do diretório nacional. Tudo ainda é provisório porque o partido não conseguiu o registro definitivo na Justiça Eleitoral. A legenda tenta se formalizar desde 1989, mas ainda precisa cumprir as exigências legais, entre elas a organização em, pelo menos, nove estados. Criada em 1949, a escola militar é considerada um centro de excelência, com alunos também civis e até de outros países, mas ficou carimbada como entidade “de direita” e criadora da doutrina de segurança nacional que serviu de base ideológica para o golpe militar de 1964. A legenda defende o imposto único e o voto facultativo. Se autoproclama nacionalista e de cunho cívico e patriótico, e mistura referências como Othon Pio de Abreu, Joaquim Gonçalves Ledo, Francisco Clementino, Tiradentes, Santiago Dantas, Juscelino Kubitscheck e Darcy Ribeiro.
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