ÉPOCA
Laranja de diretor da Petrobras recebeu R$17 milhões de 16 fornecedoras da estatal
As provas da nova fase da operação Lava-Jato, deflagrada nesta sexta-feira (22) pela Polícia Federal e por uma força-tarefa do Ministério Público Federal, são devastadoras para o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e para as empreiteiras acusadas de pagar propina a ele. ÉPOCA obteve acesso exclusivo à íntegra dos documentos (confira trechos abaixo do material produzido pelo MPF). São relatórios da Receita Federal e do MPF. Neles, os investigadores devassam o sigilo fiscal das empresas de Paulo Roberto, de seus familiares e de laranjas associados a eles. Dos documentos, desfia-se uma teia de 18 empresas de “consultoria”, todas ligadas a Paulo Roberto. Elas receberam R$ 17,3 milhões de 13 empreiteiras – quatro delas ainda não haviam aparecido como suspeitas de integrar o esquema. Não são somente empreiteiras. Agora, surgem também entre as suspeitas uma empresa de lixo, outra de tecnologia e uma terceira de equipamentos, além de distribuidoras de combustível. Todas essas empresas ganharam contratos com a Petrobras até 2012, quando Paulo Roberto ainda era diretor da estatal.
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Até agora, sabia-se que Paulo Roberto recebera R$ 7,5 milhões de quase duas dezenas de empreiteiras – além de guardar, ao menos, US$ 23 milhões em contas secretas na Suíça. Havia, ainda, as demais contas dele em paraísos fiscais e o dinheiro repassado pelo doleiro Alberto Youssef. Agora, o esquema parece não ter fim. Quanto mais a investigação avança, mais camadas aparecem – empresas de fachada, empreiteiras, laranjas e dinheiro sujo. Para obter ainda mais provas sobre o esquema de Paulo Roberto, os procuradores da força-tarefa pediram à Justiça Federal a busca por documentos em endereços ligados a ele. A PF cumpriu os mandados de busca e apreensão desta sexta-feira (22), no Rio de Janeiro. Vasculharam-se casas e escritórios das filhas e dos genros de Paulo Roberto. Os policiais também apreenderam documentos com o homem considerado o principal laranja dele: Marcelo Barboza Daniel. A operação de hoje tinha um objetivo secundário: fazer Paulo Roberto falar. Deu certo. Ele avisou que pretende contar o que sabe. Uma possível delação premiada deverá demorar, porém. As autoridades precisam se convencer de que Paulo Roberto entregará mesmo tudo o que sabe. E a Justiça terá de homologar o acordo.
Os procuradores da força-tarefa são contundentes. “Há fortes indícios de que Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef atuaram em conjunto para beneficiar empresas, incluindo empreiteiras, em prejuízo da Petrobras, recebendo propina para tanto. A propina não era recebida diretamente, mas mediante empresas interpostas”, escrevem eles. “Identificaram-se outras empresas e pessoa física, contras as quais há indícios de que participaram do esquema de desvio e lavagem de bens oriundos da Petrobras e de outros bens públicos.”
Até onde Marina pode ir?
Na madrugada do dia 30 de agosto de 2009, Marina Silva despertou num quarto de hotel em São Paulo e não dormiu mais. Ela acabara de romper com o PT – e seus pensamentos foram tomados por rostos e lembranças de bons amigos com quem, nos últimos 30 anos, dividira uma vida de militância política, lutas e sonhos. Chorou até o amanhecer. O descontrole era tanto que uma de suas filhas saltou da cama e seguiu em sua direção. “Mamãe, estou preocupada com você”, disse. Na tentativa de se recompor, Marina levantou, tomou um banho e fez uma oração. Em algumas horas, num bufê sofisticado, uma grande festa a esperava para consagrar sua filiação ao Partido Verde. Marina foi aplaudida de pé por mais de 1.500 pessoas quando chegou. Ao olhar ao redor, numa busca por feições familiares, sentiu-se sozinha em meio a uma multidão de desconhecidos.
Na quarta-feira passada, uma semana depois da súbita morte de Eduardo Campos, Marina se viu em situação semelhante, ao recomeçar em território estranho. Seu desafio agora é maior, por várias razões. A primeira é que, além de construir relações fluidas e de confiança dentro de um partido em que nem bem ingressou, Marina terá de fazê-lo em meio à recente perda do amigo e aliado político. Pior: sem contar com a proteção dele. Até a tragédia que interrompeu seus planos políticos, era Campos o maior conciliador dos conflitos (e eles não são poucos) entre os caciques do PSB e Marina, sua então vice. Sem Campos para pacificar visões políticas e de mundo tão divergentes, Marina precisará domar suas convicções para não se tornar vítima delas.
A segunda razão é que, pela primeira vez, Marina Silva aparece com chances reais de ser presidente da República. Na primeira pesquisa eleitoral posterior à morte de Campos, feita pelo instituto Datafolha e divulgada no início da semana passada, Marina aparece em empate técnico com Aécio Neves num cenário de primeiro turno – 21% contra 20%, para 36% de Dilma Rousseff. Tal cenário levaria a eleição para o segundo turno – e, nesse caso, ela venceria Dilma por 47% a 43%. Trata-se de uma situação bem diferente de 2010, quando Marina era uma espécie de candidata de protesto. Na época, além de empolgar evangélicos e ecologistas, ela cortejava aqueles que estavam cansados tanto de petistas quanto de tucanos. Candidatos de protesto podem ser intransigentes em certos casos, não precisam apresentar propostas viáveis e não precisam de coligações amplas. Candidatos de verdade precisam ser agregadores e ter propostas realistas. E aí surge a pergunta: Marina está preparada para ser uma candidata de verdade?
Kátia Abreu: “Marina fez da questão ambiental uma religião” – trecho de entrevista
A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) é uma das principais porta-vozes do agronegócio. Sua atuação no Congresso em defesa do novo Código Florestal, aprovado em 2012, e contra a criação de áreas de preservação sem dotação orçamentária a aproximou da presidente Dilma Rousseff – e despertou contra ela a ira dos ambientalistas. Segundo Kátia, a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva, indicada como candidata a presidente pelo PSB na semana passada, sempre tratou o agronegócio com antipatia e terá dificuldades para manter o apoio conquistado pelo ex-governador pernambucano Eduardo Campos no setor. “Infelizmente, perdemos Eduardo, e agora Marina é candidata”, diz Kátia.
ÉPOCA – O agronegócio nunca teve boas relações com a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva – e vice-versa. Como a senhora vê a confirmação da candidatura de Marina à Presidência?
Kátia Abreu – Essa desconfiança e essa rejeição do agronegócio em relação a Marina foi ela mesma quem criou. Ao longo de sua vida, ela sempre teve um ativismo ambiental muito forte e uma forte antipatia pelo setor. Ela cultivou essa animosidade de forma proposital, nos tratando com agressividade. Sempre digo que quem planta soja colhe soja; não colhe milho, não. Essa postura que ela teve no passado vai prejudicá-la muito agora, com essa parcela do eleitor.
ÉPOCA – Como essa antipatia de Marina se manifesta?
Kátia – O melhor exemplo que podemos dar foi a mudança do Código Florestal brasileiro, em 2012. Ela simplesmente se recusou a dialogar com o setor. Fincou o pé contra todas as modificações. Numa democracia, a gente tem de ser aberto ao diálogo, principalmente quem pretende governar um país. Os produtores rurais procuraram abrir o coração para sair do radicalismo, mas não havia disposição para conversar. O comportamento da ex-senadora Marina Silva, criticando os produtores rurais, sempre prejudicou nossa imagem nos centros urbanos e também no exterior. Gerou uma imagem nossa de destruidores de meio ambiente e trouxe prejuízos inestimáveis ao país. Durante o período em que ela ficou à frente do ministério (2003-2008), houve uma imobilidade total na área ambiental.
ÉPOCA – Quais são as críticas do setor em relação a Marina?
Kátia – A maior crítica que o agronegócio tem em relação a ela é pelo seu radicalismo. Ela fez da questão ambiental um dogma, uma religião. Esse é o principal motivo. Ela se recusa a dialogar e a abrir sua mente para outras situações que a sociedade demanda. O Código Florestal não ficou perfeito, mas foi possível, porque, numa democracia, todos temos de ceder para a sociedade poder avançar. Ninguém tem absoluta razão sobre nada. Mas ela não quis entender isso. Começou a dizer que o novo código é um retrocesso – e repete isso sem explicar o que quer dizer, sem apontar o artigo, o inciso, o parágrafo que a incomoda, para a gente ver o que pode ser feito. Alguém com o peso dela na área ambiental dizer que o código é um retrocesso beira a irresponsabilidade, porque não é verdadeiro.
Líder em distribuição de etanol no Rio é acusada de sonegação
Devagar, sem alarde, uma empresa pequena tornou-se a estrela no mercado de distribuição de combustíveis do Rio de Janeiro. A empresa se chama Rodopetro, foi fundada em 2004 em São Paulo, transferiu-se dois anos depois para o Rio e hoje lidera as vendas de etanol no Estado. Venceu concorrentes poderosos como a BR Distribuidora (da Petrobras) e a Raizen (fusão das multinacionais Shell e Cosan). De cada 4 litros vendidos nos postos do Rio, 1 vem da Rodopetro. São 250 carretas de álcool todo mês. O slogan da empresa aparece logo na página de abertura do site: “Aqui, o etanol é muito mais barato”. E é mesmo. O litro de álcool vendido pela Rodopetro custa, em média, R$ 0,35 menos que o distribuído por suas concorrentes. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, a Rodopetro, mesmo atuando apenas no Estado do Rio, já responde por 1% do mercado de distribuição de combustíveis no Brasil. Como a Rodopetro consegue?
Se a resposta tivesse a ver com eficiência, seria um caso inspirador de empreendedorismo. A resposta parece ter relação com outra palavra: sonegação. Uma lei estadual de 2007, criada para evitar a evasão, determinou que as distribuidoras têm de pagar seus impostos no momento em que os combustíveis entram no Estado – a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) sobre o etanol é 24%. A Rodopetro entrou na Justiça e, em 2009, ganhou: poderia pagar o imposto no mês seguinte – como era a prática anterior à lei. Na hora de pagar, a Rodopetro simplesmente não pagava. De acordo com a Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro, a quem cabe cobrar a dívida, o papagaio oficial está em R$ 250 milhões. Nem tudo está somado no levantamento dos procuradores. O Sindicato Nacional das Distribuidoras, que reúne as grandes do setor, estima que, desde 2009, a Rodopetro tenha ignorado R$ 70 milhões por ano em impostos, num total de R$ 350 milhões. Essa, dizem os concorrentes, é a única explicação para preços tão baixos.
ISTOÉ
Quem decifra Marina?
Candidata oficial do PSB à Presidência da República desde a quarta-feira 20, Marina Silva vem provocando um reboliço no cenário eleitoral. Pesquisas de opinião indicam que a ex-senadora tem fôlego para superar o desempenho obtido na campanha de 2010 e até chegar a um segundo turno. Tais chances ficarão mais claras quanto maior for o conhecimento do eleitor sobre suas ideias e convicções. É aí que moram os problemas da candidata. Marina é uma personagem ainda enigmática e repleta de contradições – uma espécie de esfinge política. A evangélica fervorosa de aparência frágil esconde uma personalidade forte, geralmente inflexível e com escassa capacidade de articulação política. Essa faceta – combinada a posições radicais e a um comportamento quase messiânico – transforma Marina num enorme ponto de interrogação, praticamente um cheque em branco.
Até a morte de Eduardo Campos no brutal acidente aéreo três semanas atrás, Marina desfrutava da confortável posição de vice na chapa liderada pelo socialista. Funcionava como cabo eleitoral de luxo, tentando transferir para o colega ao menos parte dos 20 milhões de votos que amealhou há quatro anos. Era coadjuvante. Quem ia para os embates públicos, quem participava das sabatinas de entidades do setor produtivo e precisava responder às incômodas perguntas de jornalistas era Campos. Mas a tragédia que ceifou a vida do ex-governador também arrancou o véu que a protegia. Agora, na condição de protagonista, Marina terá de enfrentar esses dilemas.
Evangélica ligada à Assembleia de Deus, a candidata faz da fé religiosa um hábito político. Seja em reuniões partidárias, seja em discursos ou entrevistas, gosta de citar parábolas da “Bíblia” – e sempre carrega um exemplar no qual faz anotações constantes. Quando era ministra do Meio Ambiente, Marina convidava assessores para participar de pequenos cultos, que aconteciam muitas vezes dentro de seu próprio gabinete. Num Estado laico como o Brasil, religião é questão de foro íntimo. Convém não usá-la para justificar atos de gestão e muito menos a construção de políticas públicas, sob o risco de retrocesso à época pré-republicana, quando a Igreja controlava o Estado. O usual no País é ver a fé popular explorada por políticos de viés populista, que apostam no culto à personalidade para se perpetuarem no poder.
Dobradinha de ideias
Não tivesse Eduardo Campos sido tragado pela circunstância trágica e fatal, ele já havia decidido quem apoiar no segundo turno, caso ficasse de fora da corrida presidencial. A interlocutores, Campos havia revelado que declararia voto em Aécio Neves (PSDB), numa eventual derradeira disputa contra Dilma Rousseff (PT). Quem testemunhou o relato do então candidato socialista não se espantou. Desde o ano passado, quando a pré-campanha ainda engatinhava, Campos e Aécio demonstravam estar afinados nos objetivos e nas convicções Além do desejo de apear o PT do poder, o tucano e o socialista convergiam nas críticas ao governo e no receituário para tirar o País da crise.
Ambos batiam forte no aparelhamento e no tamanho exagerado do Estado, marcas registradas da gestão petista, e teciam contundentes reparos à condução da política econômica, notadamente o baixo crescimento aliado à inflação alta e o investimento insuficiente com altos gastos correntes. Atribuíam isso à falta de disciplina macroeconômica do governo Dilma e à constante intervenção estatal na chamada microeconomia (preços da gasolina e eletricidade controlados, crédito subsidiado dos bancos controlados pelo Estado). No rol de promessas de cada um, nova sintonia: ambos planejavam aumentar a independência do Banco Central, simplificar o complicado sistema tributário brasileiro, reduzir o número de ministérios e estimular o investimento da iniciativa privada na precária infraestrutura do País.
A harmonia cada vez mais evidente levou os dois a se encontrarem frente a frente pela primeira vez, desde que Campos havia anunciado o rompimento com o governo e a oficialização de sua candidatura ao Planalto, no dia 8 de dezembro de 2013. O palco do encontro foi o restaurante Gero, em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro. Na reunião, de mais de duas horas de duração, celebraram um acordo tácito. O pacto entre eles rezava que um não se voltaria contra o outro. Mais adiante, em meio à festa de debutante da filha do ex-diretor da Caixa Geddel Vieira Lima, em Salvador, Bahia, Campos e Aécio não só reforçaram o acerto como aperfeiçoaram o que havia sido combinado inicialmente. A partir dali, atuariam no mesmo compasso no que diria respeito ao tom dos ataques ao governo. Também se comprometeram a conversar no mínimo uma vez por semana, nem que o bate-papo, quando necessário, fosse realizado via mensagens de celular. O acerto fez com que os dois emitissem, semanas depois, declarações muito parecidas sobre a gestão da petista. “O Brasil não aguenta mais quatro anos de Dilma”, afirmou Campos. “O sentimento geral dos brasileiros é um só: já deu de governo Dilma”, fez coro Aécio.
O funeral das articulacões
A cena inusitada no final da manhã do domingo 17, em frente ao Palácio das Princesas, sede do governo de Pernambuco, estava fora da agenda dos candidatos na eleição de 2014. Em torno do caixão de Eduardo Campos, misturados com parentes, amigos e uma multidão de milhares de pernambucanos, agruparam-se quase todos os pesos-pesados da política brasileira. A consternação provocada pelo trágico acidente de Santos levou para o mesmo ambiente adversários de Campos, como a presidenta Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves, a companheira de chapa Marina Silva, o ex-aliado Luiz Inácio Lula da Silva, e nomes centrais do jogo eleitoral, a exemplo do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e de José Serra, derrotado por Dilma no segundo turno da disputa de 2010. A ampla constelação de personalidades naquele momento de tristeza reflete o espectro de relações cultivadas pelo candidato do PSB ao longo de sua trajetória pública, interrompida no dia 13 de agosto pelo acidente com o jatinho Cessna Citation. Se, por um lado, não há dúvida de que todos ficaram sinceramente chocados com a morte do candidato socialista, também se pode dizer que, mesmo em clima de tristeza, eles se encontravam em plena campanha eleitoral.
Os movimentos das autoridades foram acompanhados com atenção pelos presentes e por dezenas de câmeras fotográficas e de tevê, que mostraram ao vivo as imagens do velório para todo o Brasil. Assim, o País viu os cumprimentos civilizados entre Aécio, Dilma, Marina e Lula – esse, de longe, o mais abatido com a perda do amigo que se transformou em adversário na eleição deste ano. Um a um, eles chegavam e abraçavam a viúva, Renata Campos, centro das atenções dos presentes e de boa parte dos brasileiros. As imagens do velório tiveram um inegável apelo político. Em maior ou menor grau, funcionaram como peça de marketing dos candidatos. De certo modo, o funeral se tornou o pano de fundo para articulações entre políticos de todos os matizes. Eles estavam, claro, abatidos pela tragédia, mas também dispostos a reorganizar suas estratégias para as eleições de outubro.
Os novos Campos da política
A força com que a família enfrentou o drama de perder o mais influente de seus integrantes surpreendeu a todos. A viúva de Eduardo Campos, Renata, o irmão, Antonio, e os filhos do ex-governador apareceram para o País sem se curvar diante do fato inesperado. Desde o primeiro momento, eles, como se já estivessem refeitos da tragédia, procuraram rapidamente ocupar o imenso espaço aberto pela fatalidade. A explicação para o fenômeno reside na política. Descendentes diretos de Miguel Arraes, um dos grandes líderes da esquerda brasileira na segunda metade do século passado, eles nasceram com a vocação da vida pública. A característica pôde ser observada em vários episódios ocorridos desde que a notícia do acidente de Santos chegou a Pernambuco. Daqui para a frente, a natureza política dos Campos ficará ainda mais clara.
Pelo que ficou evidente nos últimos dias, em breve, os integrantes da família Campos serão incorporados à cena. Um dos lances mais simbólicos dessa disposição ocorreu no final da manhã do domingo 17. Ao desembarcar no velório no Palácio das Princesas, o ex-presidente Lula, amigo e ex-aliado de Campos, conversou com Renata ao lado do caixão, cercado pela multidão. Dois políticos pernambucanos ouviram parte do diálogo, travado com muito carinho. “Presidente, a minha maior preocupação é com meus filhos”, disse a viúva ao líder petista. Lula, então, olhou João Henrique, o mais velho dos rapazes, e disse-lhe em voz alta: “Você contará comigo”. Em seguida, os dois se abraçaram emocionados. Aos que presenciaram a cena ficou a certeza de que o rapaz vai entrar de cabeça na carreira para a qual já se prepara há algum tempo. E, também, que terá o ex-presidente como padrinho. Aos 20 anos, João é filiado ao PSB e herdeiro natural do pai na carreira política.
A disposição de assumir a vocação de Eduardo Campos se revelou logo no dia seguinte à tragédia. O País ainda acompanhava atônito as informações sobre a queda do jatinho usado pelo candidato do PSB na campanha presidencial quando uma frase dita por João Henrique foi tornada pública pelo primo Joaquim Pinheiro: “Perdi um pai e um líder, mas tem que se dar um jeito para que a bandeira dele não caia, porque os ideais dele são o futuro do Brasil”. Para quem é do meio, não resta dúvida de que se trata do discurso de um candidato. No início deste ano, ele chegou a pensar em concorrer a algum cargo eletivo, mas foi demovido por Eduardo sob o argumento de que ele deveria primeiro terminar o curso de engenharia.
Miliciano em campanha por Garotinho
Se eleito, o candidato ao governo do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PR), pode trazer de volta à ativa policiais condenados pela Justiça e ligados às milícias do Estado. É o que indica gravação divulgada a centenas de policiais civis da ativa, na semana passada, por meio do aplicativo de mensagens por celular WhatsApp. Nas escutas, o ex-delegado Álvaro Lins, condenado a 28 anos de prisão por ter chefiado uma quadrilha quando estava à frente da Polícia Civil, exorta a categoria a pedir votos capazes de assegurar o triunfo do ex-governador nas urnas e, como consequência, garantir o regresso de seu grupo aos quadros da corporação. “Vamos para cima desse bando de filhos da p…Varrer essa gente do Rio de Janeiro”, brada. “Vamos ganhar isso, se possível até no primeiro turno. Essa é a minha voz, eu espero que seja a sua também”, diz o ex-delegado. Anexado ao áudio aparece o seguinte texto: “Atenção colegas da PCERJ: pesquisa GPP/12 de agosto! Garotinho 28%. Líder isolado! Estamos voltando!”.
Outro cabo eleitoral de Garotinho e um dos principais aliados de Lins, o ex-inspetor Fábio Leão, conhecido como Fabinho, também escreveu mensagens de texto conclamando milicianos a apoiar o candidato do PR. Em uma delas, afirma: “Irmãos, estive com nosso chefe, Dr. Álvaro (Lins), essa manhã, e o que ele me pediu para passar é o seguinte: com o apoio dos amigos das Vans, das comunidades que foram impedidas de terem suas próprias seguranças… provavelmente o nosso Gov. Garotinho ganhará no 1º turno!”. Segundo Fabinho, Lins teria lhe garantido que conversou com Garotinho e obteve dele a promessa de reintegrar o grupo deles.
VEJA
Quão sustentável é Marina Silva?
A cena impressiona todos os que já a presenciaram. Sempre que Marina Silva é esperada em algum lugar, à sua chegada faz-se um silêncio reverente. Interrompem-se as conversas, suspendem-se as movimentações e ninguém sai correndo para falar com ela — até que, sentada, mãos cruzadas sobre o colo, tome a iniciativa de dizer a primeira palavra. O semblante severo e o olhar beatífico inspiram esse distanciamento meio fora de lugar em um mundo onde até o papa dispensa rapapés e se mistura alegremente às multidões. Mas esse é o estilo de Marina, reafirmado por sua figura frágil de 50 quilos e 1,65 metro de altura. O que ela diz, em um tom meio palanque, meio sacristia, completa a cena. Marina defende a preservação da Floresta Amazônica, o uso da tecnologia a serviço do meio ambiente, uma política livre de fisiologismos e um mundo sem corrupção. Quem há de ser contra? Se hoje são causas das quais ninguém discorda, é certo que Marina as abraçou antes e com mais afinco que a maioria dos políticos. Bastaria isso para Marina, feita candidata a presidente pela trágica morte de Eduardo Campos, amedrontar os outros concorrentes. Ela foi candidata a presidente em 2010, quando recebeu sólidos 20 milhões de votos.
Mas tem mais.
Perto de sua trajetória de vida empalidecem outras histórias, como a do retirante que foi para São Paulo de pau de arara, virou metalúrgico, sindicalista e presidente. Marina foi seringueira, trabalhou como empregada doméstica, só aos 16 anos aprendeu a ler. Venceu a miséria, a ignorância, a doença e tornou-se líder ambientalista mundialmente reconhecida. Foi deputada, senadora, ministra. Há uma semana ela apareceu tecnicamente empatada com o senador Aécio Neves, candidato do PSDB, segundo a última grande pesquisa do Datafolha. Agora pode até mesmo estar a menos de dois meses de se eleger presidente da República, segundo os dados parciais de pesquisas, sondagens de partidos e de instituições financeiras. Com tantos atributos, circunstâncias favoráveis e experiência política, Marina é, no essencial que se exige de um chefe de Estado, uma esfinge.
VEJA analisa aqui seus pontos fortes e suas fragilidades. Com base em situações vividas por ela, mostra como a candidata do PSB pensa, decide e se posiciona diante de encruzilhadas.
Na última segunda-feira, trinta integrantes da Rede Sustentabilidade, o grupo fundado por Marina Silva, reuniram-se em sua sede estadual — uma sala no centro de São Paulo decorada com bandeirolas e cortinas de chita estampada, terraço e vista para a cúpula da Catedral da Sé. Em uma grande roda, sentaram-se com o objetivo de falar sobre a morte do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, ocorrida cinco dias antes, e o que ela havia despertado em cada um. Depois das falas individuais, juntaram-se em trios para escrever o que sentiam, que desafios acreditavam ter de enfrentar a partir de agora e que palavras gostariam de dizer para confortar Marina Silva, então a vice na chapa encabeçada por Campos, do PSB, e apoiada pela Rede. A reunião durou duas horas e meia — rapidíssima para o padrão do grupo. Na Rede de Marina, não se tomam decisões com base em votação. Em vez disso, os participantes têm de chegar ao que chamam de “consenso progressivo” — o que significa que uma discussão só termina quando todos estiverem de acordo de que há um argumento vencedor. Um desses encontros, ocorrido em maio, bateu o recorde de dezoito horas de duração. Destinava-se a escolher a dupla de porta-vozes da Rede (no grupo, as funções não são exercidas por uma pessoa, mas por uma dupla, necessariamente formada por um homem e uma mulher, para contemplar as questões de gênero).
Os obstáculos no caminho da candidata do PSB
Novas pistas do acidente que matou Eduardo Campos
Graça Foster transfere bens aos flhos
Aprovada a cassação do deputado André Vargas
O Brasil vai pagar mais 1,2 bilhão de reais pelo Mais Médicos
Diminui a capacidade de guardar água para produzir eletricidade na estiagem
Os estímulos ao financiamento
CARTA CAPITAL
Aécio que se cuide – trecho de editorial
Há quem afirme que Marina Silva, ao adentrar a liça eleitoral, prejudica a candidatura à reeleição da presidenta Dilma. Às vezes, esperanças desbragadas obnubilam a razão. Transparece que veem na recém-chegada, lembrados da expressiva votação obtida por ela em 2010, um obstáculo maior à permanência no poder do odiado PT do que aquele representado por Aécio Neves. Algo está claro: Marina em lugar de Eduardo Campos cria um quadro novo, mas ainda é cedo para uma definição categórica. Os primeiros sinais da novidade indicam que quem haveria de se precaver contra surpresas desagradáveis é o candidato tucano. Diga-se que Marina já anunciou a decisão de não participar das campanhas de Geraldo Alckmin, Beto Richa e Paulo Bauer, como se as relações com o PSDB tivessem azedado de vez.
Vale renovar agora o apoio de CartaCapital à candidatura da presidenta que aos nossos olhos apresenta condições de dar prosseguimento às políticas sociais inauguradas por Lula e confirmadas no primeiro mandato, e as linhas mestras de uma política exterior independente das vontades de Washington. Quanto a Marina, é preciso reconhecer que ela não é Eduardo Campos. Talvez capaz de conseguir uma votação mais dilatada do que aquela do candidato tragicamente desaparecido, nem por isso o supera em carisma e nitidez de ideias e propósitos. Figura digna, porém confusa, amiúde equivocada e envolvida em questões de fé que prejudicam a razão, como se dá com aqueles que já a enxergam sentada no trono. Ouso definí-la como de tendência milenarista.
Marina me causa algumas perplexidades e mesmo dúvidas. Primeiro, em relação aos recursos que irrigam sua campanha. Segundo, com respeito a alguns personagens que a secundam. No que tange às contribuições, nem tudo é tão transparente assim, os florins, fartos segundo consta, saem de bolsos francamente conservadores. E quais são os senhores que a orientam em matéria de Economia? Eduardo Gianetti da Fonseca e André Lara Rezende, conhecidos por sua tendência a deixar as coisas como estão para ver como ficam.
Dizia um caro companheiro que, no caso de Lara Rezende, nada mudará, isto é certo com qualquer resultado das eleições, no transporte a jato dos seus cavalos para sair a galope em parques londrinos ou nos relvados de sua quinta portuguesa. Quem pode pode, e tanto mais pode se participou com destaque da privatização das comunicações à sombra de Fernando Henrique Cardoso.
A emoção e o sonho
Durante cinco dias, entre a manhã da quarta-feira 13 e o domingo 17, uma parte da população brasileira acompanhou, impactada, a cobertura do acidente que vitimou Eduardo Campos. O fim trágico do ex-governador de Pernambuco e, então, candidato a presidente da República foi narrado com emoção pelos apresentadores e repórteres de rádio e televisão. Eduardo tinha acabado de cumprir a jornada de entrevistas noturnas no Sistema Globo e, portanto, ampliado a divulgação maior do nome dele País afora. Ainda não era muito conhecido e, por isso, precisava projetar a candidatura.
Não era um líder político cuja morte pudesse, naturalmente, provocar comoção no País. Compare-se com os desaparecimentos trágicos de dois gigantes da política brasileira, Getúlio Vargas (1954) e Juscelino Kubitschek (1976). Eduardo, de vida ceifada aos 49 anos, estava apenas começando. Nesse sentido, a dimensão do acontecimento foi ampliada por interesses políticos. Era preciso evitar a vitória do PT no primeiro turno. Com Aécio Neves empacado em 20% das intenções de voto, foi multiplicada a tristeza natural que a tragédia provocou. Assim, a emoção virou comoção. Imediatamente, o nome de Marina Silva, vice de Eduardo Campos, virou protagonista do episódio. Ela seria a substituta.
André Vargas no cadafalso
O conselho de ética da Câmara dos Deputados aprovou a cassação de André Vargas por envolvimento com o doleiro Alberto Youssef. Onze deputados votaram a favor do relatório de Julio Delgado, do PSB, e três petistas integrantes do Conselho não participaram da votação. O parecer baseia-se em testemunhos colhidos pelo relator e nas investigações da Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato.
Ex-vice-presidente da Câmara e coordenador de comunicação do PT, Vargas foi flagrado em conversas telefônicas e mensagens trocadas com o doleiro acusado pelo Ministério Público de ser o líder de um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou cerca de 10 bilhões de reais nos últimos anos. Para o Conselho de Ética, a relação estreita entre eles resultou em quebra de decoro parlamentar em dois momentos: quando o deputado viajou em avião pago pelo doleiro e ao intermediar contratos de um laboratório de Youssef com o Ministério da Saúde.
Vargas ainda pode recorrer da decisão, mas, caso ela seja mantida, terá de convencer 257 deputados a votar contra sua cassação. É preciso maioria simples dos 513 deputados para aprovação. Em nota, Vargas afirma que o processo avança com açodamento e politização excessiva. “Todo o processo foi conduzido sem quórum e de forma autoritária, sem permitir o livre exercício da minha defesa. A instrução é nula e procuraremos demonstrar isso na CCJ e no Judiciário.”
JBS, negócio suspeito
Um acordo nunca revelado ao mercado mostra que as famílias Batista e Bertin, sócias na Friboi, enganaram os acionistas minoritários e a Receita Federal.