Época
Acuados pela revelação do esquema da babá, João Carlos e Denise Zoghbi dizem que um enorme esquema de corrupção controla os contratos do Senado
Todas as acusações do casal Zoghbi
Na noite da quinta-feira 23, ÉPOCA manteve duas conversas com o casal João Carlos e Denise Zoghbi na mansão em que eles moram no Lago Sul, área mais nobre de Brasília. No primeiro encontro, a revista mostrou ao casal o resultado de três meses de apuração sobre as empresas de fachada em nome da ex-babá de João Carlos, Maria Izabel Gomes. A babá é uma senhora de 83 anos que não tinha renda até 2006. ÉPOCA mostrou que a família Zoghbi usou o nome de Maria Izabel para ocultar quantias milionárias recebidas de bancos que tinham autorização para fazer operações de empréstimos consignados com os funcionários do Senado. Diante das evidências, João Carlos e Denise confirmaram a história. No primeiro momento, atribuíram a fraude aos filhos, demitidos do Senado após o Supremo Tribunal Federal vetar o nepotismo. No primeiro encontro, o casal Zoghbi parecia desesperado. Repetiam que a divulgação da história da babá acabaria com eles.
Durante a conversa, a reportagem sugeriu que, se os Zoghbis revelassem um escândalo ainda maior, com potencial para ser capa da revista, o caso da babá não seria o destaque principal da edição. Meia hora após o fim da primeira conversa, João Carlos ligou para o repórter Andrei Meireles e pediu um novo encontro. De volta à casa dos Zoghbis, ÉPOCA recebeu propostas de barganha. Denise ofereceu um carro para a reportagem não ser publicada (ÉPOCA apurou depois que se tratava de um Mercedes-Benz). Diante da recusa, passaram a oferecer denúncias sobre supostos esquemas de corrupção em todas as grandes compras, licitações e contratações no Senado.
João Carlos e Denise afirmaram que há corrupção nas contratações do Sistema de Processamento de Dados (Prodasen), na comunicação social, no transporte, na vigilância e no serviço de segurança. Ao falar da área de taquigrafia, são mais específicos: “A taquigrafia é um escândalo. O serviço público tem o órgão dele de taquigrafia e contrata uma empresa para taquigrafar e fazer o mesmo serviço”, diz ela.
Segundo o casal, a quadrilha que opera todos os negócios no Senado tem um chefe. Trata-se, segundo eles, de Agaciel Maia, que foi diretor-geral do Senado por 14 anos. Agaciel deixou o cargo há dois meses, depois da denúncia de que havia registrado uma mansão sua em nome do deputado federal João Maia (PR-RN), seu irmão. “Esses anos todos, o Senado tem dono. Um único dono”, diz Denise, sobre Agaciel. “Ele é sócio de todas as empresas terceirizadas (que têm contrato com o Senado)”.
Agaciel Maia nega as acusações e atribui as denúncias de Zoghbi a uma antiga rivalidade. “Ele (João Carlos) sempre teve diferenças comigo. Sempre sonhou em ser diretor-geral”, diz. Agaciel afirma que nem teria como manipular os milionários contratos com empresas terceirizadas que fornecem mão de obra ao Senado: “A comissão de licitação é formada por 13 integrantes de diversas áreas, que são nomeados pelo presidente do Senado. Não havia como eu interferir”. Agaciel é investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal por suspeita de fraude em licitações. “Já me viraram do avesso e não encontraram nada. Nem vão encontrar”, diz.
O que Dilma pode aprender com Gleide
O Brasil não conhece Dilma Rousseff. Conhece apenas a imagem que ela criou. Sobre a ministra austera que aparece na TV – e não necessariamente sobre a mulher real –, a professora paulista Gleide Nogueira Baptista Galvão, de 54 anos, tem algumas impressões. Acha que a chefe da Casa Civil é fria. Excessivamente segura de si. Incapaz de expressar emoções. Até a semana passada, Gleide não tinha o menor interesse por Dilma. Não havia comunicação possível entre vidas tão diferentes. Nos últimos dias, surgiu um ponto de contato.
A professora e a ministra enfrentaram o mesmo diagnóstico: câncer linfático. Mais precisamente, linfoma Não-Hodgkin difuso de grandes células B, detectado em estágio inicial. A chance de cura é alta. Cinco anos depois do tratamento, 90% dos pacientes estão vivos. Mas não deixa de ser câncer – a doença insidiosa que abala todas as certezas. Assumidamente ou não, as duas mulheres compartilham a mesma insegurança.
Gleide já passou pelo pior. Concluiu o tratamento no ano passado. Está no período de vigilância. Acha que sua experiência pode ser útil à ministra e manda um recado: “Chorar e pedir colo faz muito bem”. Não se sabe se Dilma já teve a chance de pedir colo. Nas últimas semanas, ela enfrentou (sem a companhia de familiares) a rotina de exames, biópsia e consultas no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O câncer foi detectado por acaso. Segundo os médicos, Dilma, de 61 anos, não teve nenhum sintoma da doença.
A ministra passou por um check-up habitual e completo a pedido do cardiologista Roberto Kalil Filho, que também é médico do presidente Lula e do governador de São Paulo, José Serra. Uma tomografia do tórax revelou um gânglio aumentado na axila esquerda. Ele media 2,5 centímetros. Há cerca de um mês, Dilma internou-se para a extração do nódulo. Estava acompanhada apenas de um assessor. Foi sedada e dormiu profundamente. A cirurgia durou 45 minutos.
A ameaça da gripe suína
Esqueça as balas perdidas, sequestros relâmpagos, acidentes de carro, desastres aéreos, ameaças terroristas, o perigo da proliferação nuclear – ou qualquer outro dos grandes temores do mundo moderno. O maior inimigo da espécie humana, desde tempos imemoriais, são seres mil vezes menores que a espessura de um fio de cabelo: os vírus. Em especial, o vírus influenza, da gripe, em seus variados tipos. Só para ter uma ideia da proporção da ameaça, a Primeira Guerra Mundial, com algumas das mais sangrentas batalhas da história, matou 16 milhões de pessoas, entre soldados e civis, em quatro anos. No fim da guerra, em 1918, um desses vírus apareceu ninguém sabe de onde e matou, em apenas dois invernos, algo entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas (os estudiosos jamais chegaram a um consenso sobre o número correto).
Na semana passada, esse pavoroso inimigo tomou nova forma e ressurgiu. Sua voracidade – suspeita-se que ele tenha contaminado 2.600 pessoas e matado mais de 170, em apenas duas semanas – despertou temores de uma nova pandemia. Que, infelizmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmou, na quarta-feira, emitindo um alerta de nível 5 (o máximo é 6). Isso não significa que a catástrofe de 1918 vai se repetir. Mas significa que estamos em guerra de novo.
ISTOÉ
O esquema VIP no Judiciário
Na mesma semana em que a Câmara dos Deputados se viu pressionada pela opinião pública a acabar com a chamada “farra das passagens aéreas”, documentos obtidos com exclusividade por ISTOÉ demonstram que, na Esplanada dos Ministérios, a obtenção de privilégios pessoais ou para parentes, graças à função pública, não estava restrita ao Legislativo. Doze ofícios do Superior Tribunal de Justiça (STJ), emitidos entre fevereiro e dezembro de 2008, revelam que familiares e amigos do ministro Carlos Alberto Menezes Direito, do Supremo Tribunal Federal (STF), tinham acesso a um esquema VIP nos embarques e desembarques internacionais no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.
Assim, era possível ir a Paris numa classe superior à determinada pela passagem e voltar de Miami sem passar pelos trâmites impostos pela Receita Federal aos cidadãos comuns, que muitas vezes se veem obrigados a abrir as malas nos saguões de desembarque. Familiares e amigos do ministro também não ficavam nas filas que antecedem os equipamentos de raio X da Polícia Federal e tinham franqueado acesso a áreas restritas do aeroporto.
O Superior Tribunal de Justiça tem, no Rio de Janeiro e em São Paulo, representações destinadas a facilitar o deslocamento dos ministros quando estão a serviço da corte. Direito foi ministro do STJ durante 11 anos, mas em agosto de 2007 o presidente Lula o indicou para o Supremo Tribunal Federal. Direito, contudo, continuou a usar a estrutura do outro tribunal para facilitar o trânsito da mulher, dos filhos, da nora e de amigos no Aeroporto Internacional do Galeão.
Em 10 de fevereiro do ano passado, por exemplo, Carlos Gustavo Vianna Direito, juiz do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, e sua mulher, Theresa Direito, chegaram ao Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro, às 7h25. Viajaram no voo 0442 da Air France, procedente de Paris. Três dias antes, em 7 de fevereiro, o ofício 018/08 do Superior Tribunal de Justiça, informava ao inspetor-chefe da Receita Federal no aeroporto, Elis Marcio Rodrigues e Silva, que Carlos Gustavo é filho de Carlos Alberto Menezes Direito, ministro do Supremo Tribunal Federal, e solicitava que ele e a mulher recebessem “atendimento especial para o desembarque”.
Gay Talese por ele mesmo
O jornalista americano Gay Talese, cuja autobiografia A vida de um escritor (Companhia das Letras, 509 págs, preço a definir) está sendo lançada no Brasil nesta semana, é o autor do mais famoso perfil do cantor Frank Sinatra (escrito para a revista Esquire, em 1966). Avesso a entrevistas, um mal-humorado Sinatra se negou a conversar com o repórter que o perseguiu por dias e dias.
Foi ele, o repórter Gay Talese, quem saiu ganhando: imortalizou-se construindo o perfil através de entrevistas com pessoas do entorno de Sinatra e apenas observando- o de longe. Intitulou assim o seu texto: “Frank Sinatra está resfriado.” Era tudo que o cantor queria esconder do público. Esse texto se tornou um modelo de uma nova tendência da imprensa escrita que ficou conhecida como Novo Jornalismo.
Consistia em reportagens que retratavam com riqueza de detalhes um personagem ou um fato sem se prender aos cânones da concisão e da objetividade. O primeiro emprego de Talese foi no jornal The New York Times, que ele criticava pela exigência de informações sempre curtas e objetivas – isso limitava o espaço à imaginação e à construção de um perfil mais detalhado e elaborado de determinada história ou personagem.
Gay Talese, o mais esperado convidado da Festa Literária Internacional de Paraty, que acontecerá em julho na cidade fluminense, não foi aceito nas melhores faculdades americanas e cursou jornalismo em uma universidade do Alabama. Pouco depois de formado, na década de 60, foi contratado pelo The New York Times. Os seus artigos bastante moderados e conservadores sobre as manifestações pelos direitos civis e a questão racial nos EUA agradaram ao seu chefe, que, segundo o autor, era “um homem branco e sulista”. Mas ainda assim, bem acolhido no jornal, não conseguia se adaptar.
Ninguém será punido na farra das passagens
Na farra das passagens Emparedada pela opinião pública, a Câmara decidiu na terça-feira 28 restringir a farra das passagens aéreas – agora os bilhetes serão emitidos apenas em nome do parlamentar ou de seus assessores. Mas quem farreou dando passagens a familiares e amigos não será punido. A decisão foi tomada depois que os deputados do baixo clero desistiram da votação em plenário. O MP vai sugerir que os ganhos com passagens sejam incorporados aos salários. Assim, os deputados teriam de prestar contas ao Fisco.
O dono dos euros
Na madrugada de 6 de dezembro, Enivaldo Quadrado, sócio da corretora de valores Bônus- Banval e um dos 40 réus no processo do mensalão, foi preso em flagrante, no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP), com 361 mil euros (R$ 1,2 milhão), distribuídos em maços de notas colocados numa pasta de mão, nas meias, presos à cintura e até dentro da cueca. Na ocasião, alegou que a quantia, não declarada à Receita Federal, era de empréstimo recebido de um amigo em Portugal para investimentos em veículos. A origem do dinheiro está sendo apurada no processo que o doleiro, libertado em janeiro graças a uma liminar, responde por falsidade ideológica. Já o destino dos euros será alvo de outra investigação, pois há fortes indícios de que Quadrado teria mentido à Justiça para proteger um dileto amigo: o ex-deputado José Janene (PP-PR), que seria o verdadeiro dono dos euros
A denúncia chegou, há alguns dias, à bancada paranaense da Câmara dos Deputados. O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) vai mandar um ofício à Polícia Federal pedindo que o caso seja esclarecido. Há suspeita de lavagem de dinheiro. “A gente já estava apurando a ligação dele com Quadrado desde a CPI dos Correios. Agora surge essa nova denúncia. Vou solicitar à PF mais informações sobre o destino do dinheiro”, disse Fruet. Segundo apurou ISTOÉ, a acusação partiu de um parente (em primeiro grau) de Janene que está protegido pelo sigilo. Pela denúncia, o dinheiro trazido por Quadrado chegaria às mãos de Janene numa operação que envolveria a locadora de veículos Renacar, de propriedade de seu irmão Assad Jannani, investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal na Operação Gafanhoto, na qual deputados ficavam com parte de salários de funcionários.
“O que vocês vão fazer?”
A ensolarada ilha de Comandatuba, no litoral baia no, pode parecer distante das crises financeira e política que sacodem o País, mas para a empresária Luiza Helena Trajano, que comanda a rede varejista Magazine Luiza, com faturamento de R$ 3,5 bilhões, foi o cenário ideal para vocalizar uma indignação que está na boca de dez entre dez brasileiros – e, em especial, na dos mais de 300 executivos e presidentes de corporações ali presentes, que empreendem e pagam gordas faturas de impostos. “O que vocês estão fazendo para evitar os gastos desastrosos com o dinheiro do povo?”, perguntou ela, sem rodeios, a uma mesa composta por quase 40 participantes do Fórum Empresarial de Comandatuba, realizado na semana passada, na sua oitava edição. “Não somos contra o Congresso, mas queremos que o dinheiro do povo seja bem gasto.” Aplaudida efusivamente, Luiza convertia-se naquele local e instante em uma líder natural do pensamento que dominava a plateia. Àquela altura, já chovia lá fora e o tempo fechou também na arena de debates.
Definitivamente, era outro o clima daqueles dias na ilha. “Acreditamos em vocês, tanto é que votamos em vocês, mas, nesse momento em que se fala em mudar paradigmas, não vemos nada efetivo para mudar.” A bancada principal, formada em boa parte por políticos – parlamentares, governadores e até ministros -, contava com a presença do presidente da Câmara, Michel Temer, que assumiu a tarefa de dar a resposta. “A questão do gasto comportaria uma longa conferência, mas a pergunta revela a importância que o Legislativo tem para a democracia. Os equívocos são 10, 12, 15 casos entre 513 deputados e 81 senadores. Não podem ser levados como regra.”
Cientistas em débito com o país
Criado para estimular a ciência no Brasil, o programa de bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) coleciona casos de pesquisadores que recebem ajuda financeira para estudar no Exterior com o compromisso de voltar, mas não cumprem o combinado. No caso das pesquisadoras Claudine Viegas Conrado e Ana Maria dos Santos Carmo, elas terão de pagar por seus atos. As duas foram condenadas pelo Tribunal de Contas da União a ressarcir os cofres públicos em R$ 303 mil e R$ 489 mil, respectivamente. As ex-bolsistas receberam para estudar fora do País e, ao fim do curso, não voltaram para o Brasil nem devolveram o dinheiro, como prevê o programa. Como elas, mais pesquisadores também engrossam a lista da Controladoria-Geral da União (CGU), cujos técnicos flagraram em 2008 um total de 64 bolsistas em situação irregular, que deveriam restituir um total de R$ 22 milhões. “É um desrespeito não devolver esse dinheiro à sociedade”, critica o cientista Marcos Figueiredo, que na década de 70 estudou com bolsa do CNPq e 30 anos depois atuou como consultor da instituição.
O mundo em alerta
Com 11 países pintados de vermelho no mapa-múndi que cobre uma das paredes de sua diretoria e contabilizando 150 casos de hospitalização com oito óbitos em todo o planeta, a Organização Mundial de Saúde convocou na noite da terça-feira 28 todas as nações para uma empreita- C da de vida ou morte no campo da saúde pública: “Preparem-se para uma pandemia global.” Poucas horas depois os EUA anunciavam a primeira morte de uma de suas vítimas contaminadas pelo novo vírus de gripe que ameaça o planeta: um garoto mexicano de um ano e 11 meses que estava internado no Texas. Ao mesmo tempo, a Alemanha confirmava três casos de pacientes sob suspeição de contágio, a Costa Rica registrava seus primeiros dois doentes e a Áustria avisava a OMS que, também lá, um caso havia surgido. Nos próprios EUA, o número de acometidos pela enfermidade subia de 65 para 91. No Brasil 30 pacientes estavam sendo monitorados em 13 Estados, numa escalada assustadora: 48 horas antes eram apenas dois casos em São Paulo. Na verdade, em termos mundiais, essa escalada começara no sábado 25 quando a OMS declarou estado de “emergência internacional” para sinalizar aos governos a sua preocupação com a disseminação de uma variante jamais vista do Influenza, o vírus causador da gripe humana. Mas, o que era até então “estado de emergência”, em quatro dias se transformou em “nível quatro de alerta” – a pontuação máxima dessa escala de alto risco é seis. Se o termômetro bater nessa casa, a pandemia está instalada.
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