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Será que genro é parente?
Não são raros os casos de chefes de estado que, vez por outra, se encontram na constrangedora situação de administrar fanfarronadas de parentes, amigos ou pessoas próximas. O presidente Lula não escapa dessa maldição. Ele já passou por essa situação algumas vezes, uma delas quando seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, foi pilhado pedindo dinheiro (“dois pau”) a um empresário do ramo de jogos. Agora, um genro do presidente aparece como protagonista de atos ilegais em uma investigação da Polícia Federal. O genro é Marcelo Sato, casado com Lurian, filha mais velha de Lula. Sato foi flagrado pelos policiais negociando o recebimento de 10 000 reais de um empresário ligado a uma quadrilha investigada por lavagem de dinheiro, operações cambiais clandestinas, ocultação de bens e tráfico de influência. Equivaleria a um certificado de boa conduta se tudo o que esses parentes e meios-parentes de Lula tivessem obtido de benefícios próprios em sete anos de governo fossem os “dois pau” para Vavá e os 10 000 reais para Sato, que deveria repassá-los a Lurian, conforme as gravações da PF. Mas a questão não pode ser colocada em termos de valores absolutos. É grave o caso de Marcelo Sato, oficialmente empregado como assessor parlamentar.
O marido da filha do presidente prestava serviços a uma quadrilha, ora acompanhando processos em órgãos federais, ora usando sua condição de “genro” para agendar reuniões dos suspeitos com autoridades do governo.
É no terreno fértil das franjas do poder que florescem histórias desse tipo. VEJA teve acesso a relatórios policiais reservados da chamada Operação Influenza, que, durante dois anos, monitorou as atividades de uma quadrilha de empresários de Santa Catarina e de São Paulo apontados como responsáveis por desfalques milionários contra os cofres públicos. O genro do presidente, segundo a PF, funcionava como lobista do grupo.
“Triste e abatido”
A um mês da estréia de Lula, o Filho do Brasil, surge um depoimento que contrasta fortemente com o filme de contornos hagiográficos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na sexta-feira passada, o jornal Folha de S.Paulo publicou um artigo que deixou de olhos arregalados todos os que o leram. Intitulado “Os filhos do Brasil”, o texto é assinado por César Benjamin, um dos mais célebres militantes da esquerda brasileira. Entrou para o movimento estudantil ainda adolescente. Por sua militância política, ficou preso por cinco anos e foi expulso do Brasil em 1976. Quando voltou, empenhou-se na fundação do PT, do qual se desfiliou em 1995. Em 2006, foi candidato a vice-presidente pelo PSOL. Hoje, está sem partido. Cesinha, como é conhecido, relata o que teria sido uma revelação devastadora feita por Lula a ele em 1994.
Na ocasião, o petista iniciava sua segunda campanha a presidente. Benjamin estava na equipe de marketing do candidato. Ele relata: “Lula puxou conversa: ‘Você esteve preso, não é, Cesinha?’ ‘Estive.’ ‘Quanto tempo?’ ‘Alguns anos…’, desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: ‘Eu não aguentaria. Não vivo sem b…’. Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos trinta dias em que ficara detido. Chamava-o de ‘menino do MEP’, em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do ‘menino’, que frustrara a investida com cotoveladas e socos”. Segundo Benjamin, o diálogo foi presenciado pelo publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos. O publicitário, cujos contratos com o governo federal montam a 300 milhões de reais, negou em nota lembrar-se do episódio.
O mensalão de Brasília
José Roberto Arruda (DEM), governador do Distrito Federal, já conheceu o céu e o inferno na política. Há oito anos, ele era líder do governo Fernando Henrique Cardoso no Senado quando teve de renunciar ao mandato por ter participado da violação do sigilo do painel de votações. Arruda voltou por baixo, elegendo-se deputado em 2002. Quatro anos depois, conseguiu retornar aos holofotes ao eleger-se governador. Com uma gestão austera, marcada por políticas de corte de gasto e ajuste das contas, ele atingiu uma popularidade recorde na capital do país. Arruda tornou-se a maior expressão política do DEM, chegando a ponto de ser cotado como um dos principais candidatos a uma futura Vice-Presidência em uma chapa de oposição encabeçada pelo PSDB nas eleições de 2010. Na sexta-feira passada, a trajetória do governador girou 180 graus. Agentes da Polícia Federal realizaram buscas na residência oficial, na sede do governo, em gabinetes de secretários e deputados distritais, numa operação batizada com o sugestivo nome de Caixa de Pandora. Descobriu-se algo realmente terrível, embora nada surpreendente: a existência de um grande e milionário esquema de corrupção. O próprio Arruda foi gravado conversando sobre o destino de uma montanha de dinheiro recolhido junto a empresários que prestam serviços ao governo.
Derrota da diplomacia petista
Alguma coisa certa Barack Obama fez. E não estamos falando do garbo exibido na primeira recepção de gala de seu governo, visto na foto ao lado. A prova do acerto está nos ataques virulentos que recebeu de Marco Aurélio Garcia, o assessor do presidente Lula para assuntos internacionais. Tudo o que Garcia fala é errado, na forma e no conteúdo, além de prejudicial aos interesses nacionais. O presidente dos Estados Unidos foi alvo do novo surto de megalonanismo por defender o reconhecimento das eleições em Honduras, neste domingo. Desde que Manuel Zelaya tentou emplacar a própria reeleição e foi punido pela Suprema Corte com a perda do cargo, além de expulso manu militari do país, ao qual retornou com a patola chavista, instalando-se de bigode e chapelão na embaixada brasileira, a diplomacia petista trabalha com o objetivo de restaurá-lo no poder a qualquer preço. A saída pela via eleitoral, com a escolha de um novo presidente, virou um anátema para Garcia e sua turma. A proposta de solução apoiada por Obama parecia razoável: levar observadores internacionais para Honduras e, verificada a lisura da votação, chancelar o resultado, abrindo uma saída pacífica para o impasse. “Isso é muito ruim para os Estados Unidos e sua relação com a América Latina”, rugiu Garcia. “Todo aquele clima favorável que se criou com a eleição do presidente Obama começa a se desfazer um pouco.”
Época
O candidato sai da toca
O governador de São Paulo, José Serra, ficou mais perto de assumir sua candidatura ao Palácio do Planalto. Desde a semana passada, Serra age como candidato, fala como candidato, faz planos de candidato – mas insiste em dizer que só tomará a decisão em março do ano que vem. A nova postura de Serra é uma resposta aos senadores e deputados do PSDB, temerosos de que um silêncio muito demorado sobre seus planos para 2010 possa afastar aliados e levar o eleitorado a acreditar na imagem de político indeciso que os adversários começam a construir em torno de sua personalidade. Outro benefício esperado é estancar a hemorragia verificada pelas pesquisas nas intenções de voto de Serra.
A guerra de Mendes
A casa mais visitada do Acre fica na Rua Batista de Moraes, 487, em Xapuri, cidade de 14 mil habitantes a 180 quilômetros da capital, Rio Branco. Pequena, feita de madeira, foi nela que o sindicalista e ambientalista Chico Mendes foi morto a tiros por dois fazendeiros quando saía para tomar banho. Vinte anos depois do assassinato, a casa é mantida intacta, como estava no dia da morte, inclusive com a mancha do sangue de Chico Mendes na parede. Nela funciona uma espécie de museu, com guia e tudo, sustentado pelo Instituto Chico Mendes. Criado pelos herdeiros para manter viva a memória de Chico Mendes, o instituto enfrenta acusações sérias na Justiça. O Ministério Público do Acre denunciou seus administradores por desviar R$ 685 mil em recursos públicos.
Marina na alta-roda
Chovia muito na quinta-feira passada, em São Paulo, quando os convidados subiam a escada até um piso que parecia flutuar sobre um espelho-d’água. A eles foram servidos foie gras, carpaccio, carolinas com ovas de capelin preta, champanhe Veuve Clicquot e uísque 12 anos. Dois sofás grandes estavam um diante do outro, com duas poltronas na ponta, onde havia um microfone. Os convidados se reuniram na casa da socialite Ana Paula Junqueira, no bairro dos Jardins, em São Paulo, para conhecer a senadora Marina Silva (PV-AC), pré-candidata à Presidência.
Única mulher sem maquiagem na sala, ela estava num encontro que deverá se tornar rotina em 2010. A missão de Marina – que saiu aos 16 anos de um seringal no Acre, ainda analfabeta, e se transformou em senadora, ministra e símbolo da luta ambiental brasileira – era expor suas ideias, responder às perguntas e conversar mais de perto com potenciais simpatizantes e financiadores de sua provável campanha eleitoral. Entre os convidados, empresários como Daniel Feffer, herdeiro do grupo Suzano (do ramo de papel e celulose), e Meyer Joseph Nigri, da construtora Tecnisa. Separando Marina dos convidados, uma larga mesa de centro exibia livros de arte e uma revista Vogue autografada por Naomi Campbell. “É uma honra tê-la em minha casa, você é uma das mulheres que eu mais admiro neste mundo”, disse Ana Paula.
Carona VIP nas áreas da FAB
A primeira grande controvérsia em que o protagonista foi Fabio Luís da Silva, o Lulinha, um dos cinco filhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocorreu em 2005. Em meio ao escândalo do mensalão, descobriu-se que a Gamecorp, produtora de jogos de celular e programas de TV da qual ele é sócio, havia recebido R$ 5 milhões de investimento da Telemar (atual Oi), a maior empresa de telefonia do país. Lulinha embarcou agora em nova polêmica. Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo revelou que o filho do presidente usou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir a Brasília com mais 15 amigos, no dia 9 de outubro deste ano. O avião, um Boeing 737-200 usado pela Presidência e apelidado de Sucatinha, havia saído de São Paulo com militares para ir a Brasília. Ele já estava a dez minutos de seu destino quando recebeu ordem para voltar a São Paulo para embarcar autoridades.
Abriram a Caixa de Pandora
No último dia 21 de outubro, o secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal, Durval Barbosa, um ex-delegado da Polícia Civil, foi recebido pelo governador José Roberto Arruda na biblioteca da residência oficial. Durval chegou com uma mala que continha R$ 400 mil em dinheiro vivo. Durval estava equipado pela Polícia Federal com um aparelho de gravação para documentar a entrega do dinheiro. Assessores de Arruda confirmam o encontro, a oferta de Durval – e afirmam que o governador recusou o dinheiro. Na gravação, em poder do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), há registro de que Arruda teria dito a Durval para entregar o dinheiro a José Geraldo Maciel, chefe da Casa Civil do Distrito Federal. A PF afirma que Maciel usaria os R$ 400 mil, mais R$ 200 mil, para fazer pagamentos a políticos aliados de Arruda.
Com base nessa gravação – há dezenas de outras feitas por Durval com deputados, secretários de governo e empresários –, o STJ autorizou a PF a cumprir cerca de 16 mandados de busca e apreensão em gabinetes da presidência da Câmara Legislativa do Distrito Federal, de deputados distritais e de um conselheiro do Tribunal de Contas. Os agentes foram também à residência oficial de Arruda, no bairro de Águas Claras, onde recolheram papéis e arquivos do computador do secretário de Governo, Fábio Simão.
A bolha imobiliária no Planalto
O mercado imobiliário de Brasília atravessa uma fase de euforia. Os preços de casas, apartamentos, salas comerciais, terrenos e aluguéis dispararam nos últimos anos e, em 2009, alcançaram níveis comparáveis a alguns dos endereços mais valorizados do país. As propriedades mais caras ficam a 5 quilômetros do Palácio do Planalto, na Península dos Ministros, quadra conhecida pela sigla QL-12. Muitas autoridades e cidadãos endinheirados da capital vivem nessa área, que abriga as residências oficiais dos presidentes do Senado, da Câmara e de ministros de Estado.
O metro quadrado construído na QL-12 chega a custar R$ 12 mil, mesmo valor de muitos imóveis na orla de Leblon e Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, os mais caros do Brasil. Há quatro anos, as mansões da Península dos Ministros eram vendidas pela metade desse valor. Hoje, se transformaram num dos símbolos da explosão do setor de imóveis de Brasília, apesar das regras de tombamento que tentam preservar a originalidade do projeto da capital.
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