ÉPOCA
Exclusivo: o elo entre o ex-diretor da Petrobras preso e o esquema de Cachoeira
Documentos mostram que uma empresa investigada pela Polícia Federal no caso da refinaria Pasadena também apareceu na CPI do bicheiro Carlinhos Cachoeira
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, foi preso duas semanas atrás com o doleiro Alberto Youssef, por envolvimento num esquema bilionário de lavagem de dinheiro público. Na semana passada, Paulo Roberto foi alçado pela presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, à condição de alvo central de uma investigação interna sobre a aquisição suspeita da refinaria Pasadena, nos Estados Unidos. A Petrobras pagou US$ 1,2 bilhão pela refinaria que, sete anos antes, custara à empresa belga Astra US$ 42 milhões. Paulo Roberto se tornou protagonista no enredo dos negócios obscuros da Petrobras. Surge agora uma nova e estranha revelação. Ao cruzar documentos de investigações diversas, ÉPOCA descobriu um elo entre o esquema usado pelo doleiro Youssef para atender Paulo Roberto e as operações do bicheiro Carlinhos Cachoeira, envolvido em 2012 numa rede de pagamentos de propina da Construtora Delta.
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Na investigação sobre lavagem de dinheiro, a Polícia Federal levantou indícios de que Paulo Roberto mantém uma conta fora do país com Youssef. A rota do dinheiro de ambos, segundo a PF, envolve empresas de fachada, como a MO Consultoria Comercial e Laudos Estatísticos, sediada em São Paulo. Essa empresa movimentou R$ 90 milhões entre 2009 e 2013 e tem como sócio Edilson Fernandes Ribeiro, de 40 anos. Edilson aparece na composição do quadro de outra empresa de fachada, a RCI Software e Hardware, também sediada em São Paulo. Eis a estranheza. A RCI aparece noutro documento, o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou os negócios de Cachoeira. Os documentos sugerem que o mesmo esquema usado por Cachoeira foi usado por Youssef para atender Paulo Roberto.
Edilson deixou a MO Consultoria em junho de 2012. Naquele mês, ele já era alvo da CPI do Cachoeira – em suas investigações, ela esquadrinhou os negócios da Construtora Delta, cuja filial em Goiás era ligada a Cachoeira. Descobriu-se que a Delta repassara R$ 300 milhões a um grupo de empresas-fantasmas, de fachada ou abertas em nome de laranjas. Essas firmas pulverizaram o dinheiro. Até hoje os destinatários das quantias não foram identificados. Em meio ao laranjal, estava a RCI Software, de Edilson Ribeiro. Apresentada nos documentos como empresa de informática, ela não tinha um único funcionário e recebeu R$ 950 mil entre outubro e novembro de 2010. Nesse período, Edilson Ribeiro era o sócio majoritário, com 95% das ações.
PublicidadeO caminho para chegar a Paulo Roberto Costa via MO Consultoria é mais complexo. Em outubro de 2013, a PF gravou com autorização judicial uma conversa por telefone entre Youssef e o empresário Marcio Bonilho, dono da Sanko Sider Comércio, do ramo exportações e importações de produtos siderúrgicos. Ao que tudo indica, os dois falavam de divisão de propina. “Recebi 9 milhões brutos, 20% eu paguei, (ficaram) 7 e pouco. Faz a conta dos 7 e pouco”, disse Youssef. Em seguida, ele afirma que houve partilha do dinheiro e que “Paulo Roberto levou” uma parte. A PF suspeita que Youssef se referia ao ex-diretor da Petrobras.
1964, o ano que não terminou
Por que, 50 anos depois, o golpe militar ainda desperta paixões
13 questões que dividem os historiadores. Os avanços e os desafios das democracias no mundo.
Em 15 de novembro de 1939, 50 anos após a quartelada que derrubou o Império, a primeira página do então principal jornal do país, O Estado de S.Paulo, não publicou uma única linha a respeito das cinco décadas da República proclamada pelo marechal Deodoro da Fonseca, em 1889. No Rio de Janeiro, a capital da República, a primeira página de O Globo estampou uma foto do ditador Getúlio Vargas num ato alusivo ao cinquentenário, com uma manchete anódina: “Honra aos ideaes de 1889”. Em outubro de 1980, mês do cinquentenário da revolução que pôs fim à República Velha, os editores de O Globo avaliaram que o assunto não merecia espaço em suas páginas. O Estadão publicou uma série de reportagens, com entrevistas de revolucionários de 1930 que continuavam vivos. Em 3 de outubro de 1980, a Folha de S. Paulo fez uma menção ao cinquentenário na primeira página, deu um editorial, um artigo na seção “Tendências e Debates” e promoveu um evento sobre a data. Nada transpirava polêmica.
Cinquenta anos depois que as tropas comandadas pelo general Olympio Mourão Filho deixaram Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro para apear o presidente João Goulart do poder, o golpe de 1964 continua a ser divisivo. A observação foi feita pelo jornalista Elio Gaspari, autor de As ilusões armadas (editora Intrínseca), série de livros sobre a ditadura que traz a melhor reconstituição histórica do regime autoritário instaurado em 1964. Desde o último fim de semana, os jornais vêm publicando caudalosas edições especiais sobre a data, com minuciosas rememorações do período, entrevistas e artigos com as mais variadas versões. Novos livros sobre o golpe, sobre Jango, sobre militares no poder e sobre as arbitrariedades da ditadura contam-se às dezenas. Há espaço até para revelações sobre as circunstâncias em que personagens perseguidos pela ditadura desapareceram ou foram torturados. O assunto transbordou para as ruas. Houve marcha de defensores do golpe, que atribuem aos militares as virtude de ter nos livrado do comunismo – e outras marchas de caráter antagônico, formadas por gente que repudia o golpe e as ideias de quem caminhava do outro lado da rua.
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Exclusivo: o golpe destruiu minha família
Aos 73 anos, a viúva do ex-presidente João Goulart fala dos dias que antecederam o golpe militar, revela como era a vida do casal e lembra a angústia dos anos de exílio.
Viúva do ex-presidente João Goulart (1919/1976), Maria Thereza Goulart tem planos frugais para a segunda-feira 31 de março, data da efeméride dos 50 anos do golpe militar que depôs seu marido: viajará para Porto Alegre (RS) com a filha, Denise, e desfrutará do descanso com a família. Há quase meio século, em 1º de abril de 1964, ela, o marido e os dois filhos tiveram de sair às pressas do País em direção ao Uruguai, onde iriam se exilar. Antes de partirem de Porto Alegre, o então governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola (1922/2004) sugeriu um movimento de resistência ao golpe, mas Jango não consentiu por, entre outras coisas, temer um derramamento de sangue. São momentos tensos que voltam à memória de Maria Thereza, hoje com 73 anos, e provocam tristeza, embora ela lute contra a melancolia que este passado evoca. Arredia a entrevistas, a ex-primeira-dama conversou com ISTOÉ com exclusividade. Contou que escreveu um diário no exílio e que esse material vai virar um livro. Mas só após sua morte. “Antes, não. Acho que há pessoas que não vão gostar. Não tenho coragem de enfrentar isso agora.”
À ISTOÉ, Maria Thereza disse ainda que a famosa foto em que ela aparece ao lado do marido no palanque do histórico comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, não revela seu verdadeiro estado íntimo. A imagem da mulher apontada como uma das dez mais lindas do mundo pela revista “Time” não exprime a apreensão que sentia. “Estava gelada, dura por dentro”, conta. Poucos minutos antes, Jango havia tido queda de pressão. Muitos amigos e correligionários tentaram dissuadi-lo de ir ao comício, mas “ele estava com ideia fixa” e “preparado para o que ia acontecer”, declara ela.
Para a jovem primeira-dama que nunca tinha pisado em um palanque, saber que eles poderiam ser alvo de um atentado a era atemorizante. De fato, houve esse temor, fazendo com que Jango aumentasse o aparato de segurança do evento. Segundo ela, a pouca idade – 24 anos em 64 – ajudou-a a superar as angústias dos momentos que antecederam o golpe. Mesmo assim, desabafou: “Para mim foi tudo muito tenso. O golpe de 64 destruiu a minha família. Tivemos que sair correndo, deixar nossa vida, tudo nosso para trás. Destruiu porque tirou tudo da gente. A gente passou a viver com sofrimento”.
lpe Os 20 dias que mudaram o Brasil As radicalizações das forças políticas de direita e esquerda, a atuação dos conspiradores civis e militares e os equívocos políticos do governo João Goulart contribuíram para que, entre os dias 13 de março e 1º de abril de 1964, o golpe fosse consumado
Mais juntos e afinados do que nunca
Além de se falarem a cada dois dias, os presidenciáveis Aécio Neves e Eduardo Campos trocam diariamente mensagens pelo celular, nas quais afinam o tom dos ataques ao governo. Ambos, no entanto, tinham estratégias distintas. O tucano ocuparia a trincheira de ataque feroz ao governo e o socialista, governador de Pernambuco, se apresentaria como o candidato da continuidade, mas sem o continuísmo. O acordo entre eles simplesmente rezava que um não se voltaria contra o outro. Do início do ano para cá, o tal pacto de não agressão ganhou novos contornos e resultou em uma sintonia fina poucas vezes vista em período pré-eleitoral. Analisando as últimas pesquisas de intenções de voto, as equipes de Aécio e de Campos chegaram a uma mesma conclusão: os dois precisam tirar votos da presidenta Dilma para que haja a possibilidade de um segundo turno. E, para tanto, os dois candidatos nunca estiveram tão juntos e tão afinados. Suas conversas são muito mais frequentes do que sugerem as últimas cenas públicas de um jantar em Ipanema, no Rio de Janeiro, ou o ocasional encontro na festa de debutante da filha do ex-diretor da Caixa, Geddel Vieira Lima. Interlocutores dos dois presidenciáveis disseram à ISTOÉ que Aécio e Campos conversam no mínimo a cada dois dias e trocam diariamente mensagens pelo celular.
Nas últimas semanas, ficou visível uma nova estratégia de Campos. Ele passou a bater com força no governo Dilma. Todos os seus movimentos foram precedidos de um acerto com o senador tucano. No bate-papo, segundo disseram assessores dos dois, Aécio e Campos chegam a debater inclusive as palavras que serão usadas com o intuito de carimbar a gestão petista de Dilma Rousseff. A sintonia fina é absolutamente combinada. Recentemente, ao falarem sobre a desvalorização da Petrobras, produziram frases quase idênticas. “A grande verdade é que o PT nos acusou durante décadas de querer privatizar a Petrobras. Quem privatizou foi o PT, levando a empresa a ter um prejuízo de R$ 200 bilhões”, acusou Aécio Neves. “Em 2010, a presidenta acusou o candidato com o qual disputava a eleição (José Serra) de querer privatizar a Petrobras. Três anos depois, a estatal vale a metade do que valia”, disparou Campos.
Na semana passada, com a CPI da Petrobras batendo à porta do Congresso e uma pesquisa desfavorável a Dilma saindo do forno, os presidenciáveis decidiram que era o melhor momento para tentar aprofundar o desgaste da imagem de Dilma como gerente. “A presidenta foi eleita com base em duas premissas: a de que daria continuidade aos resultados da economia e a de que era uma boa gestora. A economia está aí, todo mundo vê e a inflação voltou”, disse Aécio. Campos bateu no mesmo tom: “A verdade é que a presidenta não soube tocar o Brasil”.
Conspiração americana
Os Estados Unidos agiram ativamente para derrubar João Goulart da Presidência e cogitaram até mesmo invadir o país caso o golpe fracassasse
Todos queriam um golpe
Não foram só os militares que desprezaram as regras democráticas em 1964. Havia conspiradores na direita, na esquerda e nas entranhas do próprio governo João Goulart
Insegurança não escolhe partido
Lista divulgada por ONG que colocou 16 cidades brasileiras entre as 50 mais violentas do mundo mostra que o problema da violência no País está longe de ser uma questão partidária.
“Os generais eram leões, hoje são ratos”
Em sítio na Baixada Fluminense, no Rio, coronel Paulo Malhães, que admitiu ter torturado, matado e ocultado cadáveres durante a ditadura militar, mantém perfil violento e diz que era apaixonado pelo seu trabalho.
Planalto sob pressão
Provável instalação de CPI no Congresso para investigar Petrobras e queda na aprovação do governo Dilma Rousseff nas pesquisas acendem luz amarela no PT no ano eleitoral.
Ciência no lixo
Interdição de campus da USP por solo contaminado atrasa pesquisas, prejudica o trabalho dos cientistas e torna inúteis os R$ 18 milhões investidos na unidade pelas agências de fomento.
Até quando os preços baixos vão durar?
Recém-chegada ao Brasil, a loja americana tem fila de até cinco horas. A dúvida é se essa gigante do varejo continuará a cobrar pouco por seus produtos.
Comportamento
Um país machista Pesquisa do Ipea revela como os brasileiros têm uma visão preconceituosa, recusam a igualdade de gêneros e até justificam a violência sexual.
Quando a pílula anticoncepcional foi lançada, em 1960, a mulher se viu livre para separar a reprodução do desejo sexual. Quando a Lei Maria da Penha entrou em vigor, em 2006, ela viu seus direitos serem aumentados para protegê-la da violência. Estamos em 2014, e não há remédio nem lei para dar fim a valores morais tão opressores quanto os mostrados pela pesquisa “Tolerância Social à Violência contra as Mulheres”, divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na quinta-feira 27. Os números denunciam uma sociedade que ainda submete o sexo feminino a um papel menor e limitado. Segundo o estudo, 65% dos entrevistados concordam que a mulher que usa roupas que mostram o corpo merece ser atacada – como se fosse uma punição por não seguir um padrão. Além disso, 58% acreditam que, se elas soubessem se comportar, haveria menos estupros. São dados que mostram que, apesar de todas as conquistas dos últimos anos, o sexo feminino ainda é oprimido por um modelo de comportamento. Essa mentalidade medieval é o maior entrave para o enfrentamento da violência sexual e, pior, dá margem para que crimes continuem a ser cometidos – vide a onda de ataques de encoxadores nos metrôs brasileiros nas últimas semanas.
Vale apontar que o machismo gritante mostrado na pesquisa não é uma característica majoritariamente masculina. Para o levantamento, foram ouvidas 3.810 pessoas em todas as partes do Brasil. Entre elas, 66,5% eram mulheres, muitas delas mães que estão educando seus filhos, reproduzindo o discurso que denigre sua própria condição. “No fundo, muitas assumem essa ideologia machista de que precisamos estar presas, contidas. É uma mentalidade de colonizado”, afirma a advogada Leila Linhares Barsted, coordenadora executiva da ONG feminista Cepia. Para Leila, os resultados evidenciam outros dois grandes problemas. Primeiro em relação ao preconceito. “A mulher não é livre, não pode vestir o que quer e nem ir aonde quiser. Precisa estar em casa, ao lado de um marido ou de um pai”, diz. “Caso contrário, é julgada, ou pior, atacada.” Segundo, porque é um sinal de que também a conduta masculina é estigmatizada. Como se os homens, por natureza, não conseguissem se controlar.
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Os escândalos da Petrobras anteciparam o julgamento pelos investidores da capacidade de governar de Dilma Rousseff. A sentença se traduz pela seguinte equação: basta Dilma cair nas pesquisas para que aumente a disposição do mercado de investir no Brasil. Uma pesquisa CNI/Ibope mostrou uma queda de 7 pontos percentuais na aprovação do governo. O resultado imediato foi um dia de forte alta da Bovespa. O recado do mercado foi inequívoco: o governo é o problema
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