Veja
Congresso: documentos e imagens comprometem parlamentares
Preso há dois meses, o doleiro Alberto Youssef ainda não pronunciou uma única palavra sobre seus negócios escusos, muito menos sobre os parceiros influentes que o ajudaram a montar o império que movimentou bilhões de dólares no Brasil e no exterior. Na hora em que ele resolver falar — se é que isso um dia vai acontecer —, um pedaço do Congresso Nacional certamente vai ruir. No mensalão, o esquema de corrupção montado pelo governo petista para comprar apoio político, parlamentares e assessores formavam fila no caixa de uma discreta agência do Banco Rural situada em um shopping de Brasília. O suborno era pago ali, sem muita cerimônia. Os políticos ou seus assessores chegavam, identificavam-se, recebiam o dinheiro e saíam tranquilamente. Foram descobertos porque deixaram suas assinaturas em recibos e pelos registros do sistema de segurança do prédio. O escândalo, como se sabe, levou os principais personagens à prisão — mas a experiência não impediu mais uma surpreendente parceria, inclusive financeira, entre um criminoso conhecido e respeitáveis congressistas.
O escritório de Alberto Youssef, que funcionava numa área nobre na Zona Oeste de São Paulo, era, digamos assim, uma espécie de versão recente da então discreta agência brasiliense do Banco Rural. A base de operação do doleiro era também ponto de peregrinação de políticos de partidos sabidamente envolvidos em tramoias financeiras. As investigações já revelaram que empresas-fantasma controladas por Youssef recebiam em suas contas inexplicáveis depósitos milionários de algumas das mais importantes empreiteiras do país. O dinheiro que entrava de um lado, por meio de contratos simulados de consultoria, saía por outro na forma de repasses a políticos e partidos. Os mesmos políticos e partidos que indicavam os apadrinhados que contratavam as empreiteiras pagadoras. É desse triângulo equilátero da corrupção que emergem os clientes mais vistosos do doleiro. Veja obteve os registros do prédio que durante anos abrigou o escritório de Youssef. A lista tem mensaleiro preso, assessor de ministro e deputados — vários deputados.
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Época
As revelações do arquivo secreto de Paulo Roberto Costa
No dia 20 de março, a Polícia Federal apreendeu dezenas de papéis e 36 pen drives no apartamento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, no Rio de Janeiro. Ele fora o mais poderoso executivo da estatal no governo Lula. Ocupara, com o aval de Lula e de um consórcio partidário entre PP, PMDB e PT, a Diretoria de Abastecimento, entre 2004 e 2012. Naquele dia, a PF buscava provas da relação de Paulo Roberto com o doleiro Alberto Youssef, investigado na Operação Lava Jato. Assim que os policiais encontraram os documentos e os pen drives, Paulo Roberto entrou em pânico. Quando Youssef fora preso, dias antes, ele determinara a familiares que sumissem com documentos, computadores, outros pen drives – qualquer prova que pudesse incriminá-los. Por tentar obstruir a investigação da PF, Paulo Roberto permanecia preso até a semana passada.
Sobravam razões para o pânico de Paulo Roberto. Elas estão na íntegra do material apreendido pela PF naquele dia. O que já veio a público sobre ele é devastador: tabelas de propina, pagamentos suspeitos de empreiteiras e multinacionais com negócios na Petrobras, contas secretas em paraísos fiscais. Os pen drives e os demais arquivos digitais de Paulo Roberto apreendidos pela PF, contudo, permanecem inéditos. Época obteve acesso à íntegra desse material – e aos milhares de arquivos da investigação da Lava Jato. São cerca de 4 terabytes. Equivalem a 1 milhão de músicas ou 4 mil horas de vídeo. Há toda sorte de documento. A maioria converge para o mesmo tema: corrupção na Petrobras e em suas subsidiárias. O exame desse acervo demonstra que o esquema era mais amplo, mais rico e envolvia mais empresas – brasileiras e estrangeiras – do que se imaginava.
Nesta edição, Época conta um dos casos inéditos de suspeita de corrupção. Ele está fartamente detalhado, em dezenas de planilhas, contratos de gaveta e notas fiscais, num dos pen drives apreendidos pela PF. Expõe os métodos empregados por Paulo Roberto e sua turma para ganhar dinheiro na Petrobras. O caso envolve a gigante dinamarquesa Maersk, dona de uma frota com mais de 600 navios e faturamento anual de US$ 27 bilhões. É a maior empresa de transporte de petróleo do mundo. A Maersk atende a Petrobras há muito tempo. Recentemente, fechou um contrato de US$ 300 milhões para fornecer quatro navios. Outros 12 navios servem à Petrobras atualmente. De acordo com os documentos apreendidos, a Maersk pagou ao menos R$ 6,2 milhões de “comissão”, entre 2006 e 2010, para alugar navios à Petrobras. A área era então comandada por Paulo Roberto. O valor da comissão equivale a 1,25% de cada carga da Petrobras transportada nos navios da Maersk. De cada pagamento feito pela Petrobras à Maersk, segundo a PF, 1,25% era devolvido a Paulo Roberto na forma de propina.
Para receber a comissão, Paulo Roberto fechou, em 2006, um contrato secreto com a Maersk. Como fazia em outros negócios, colocou na transação um parceiro: Wanderley Gandra. Não era apenas um parceiro de negócios. Gandra jogava buraco em mesas organizadas por Paulo Roberto. Eram amigos. Pelo contrato, uma empresa ligada à Maersk se comprometia a pagar a comissão de 1,25% a Gandra, por carga transportada no navio DS Performer. Outros 1,25% deveriam ser pagos à Maersk do Brasil, subsidiária da empresa dinamarquesa. Nos anos seguintes, contratos semelhantes foram fechados.
O dinheiro da comissão, segundo os documentos, era transferido da Dinamarca para uma conta no Brasil de uma empresa de Gandra. Houve pagamentos no afretamento de, ao menos, 11 navios da Maersk. Na contabilidade prestada por Gandra a Paulo Roberto, todos os valores eram sacados “como lucro”. “Importante frisar que 100% das receitas (da empresa de Gandra) tiveram origem na cobrança de comissões de 1,25% sobre afretamento de navios, indicando que a Gandra Brokerage foi criada somente para receber essas comissões”, diz o relatório da PF.
A investigação desse caso, assim como de todos os demais que envolvem a Petrobras, está suspensa desde domingo passado. Naquele dia, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), ordenou que a Justiça Federal do Paraná parasse imediatamente as oito ações penais da Lava Jato e enviasse todos os processos ao STF.
Como será o Brasil em 2030
Para celebrar seu 16º aniversário, Época convida você a entrar na máquina do tempo. Ao completarmos 16 anos, enviamos nossos repórteres 16 anos no futuro, para 2030. De lá, eles relatam, com base nos melhores exemplos internacionais disponíveis em 2014, como será o Brasil às vésperas da 11a eleição presidencial desde a redemocratização. Será o país dos nossos sonhos.
A educação básica no Brasil de 2030 se parecerá com a da Finlândia, país onde todos os professores de primeiro grau têm mestrado e recebem salários iniciais de R$ 10 mil. Na saúde, contamos como ficará o Sistema Unificado de Saúde, o SUS, depois de ser redesenhado nos moldes do National Health Service, o celebrado serviço de saúde pública do Reino Unido. Uma dica: em 2030, apenas 10% dos brasileiros ainda usarão planos de saúde privados. No futuro, andaremos tão seguros pelas ruas das metrópoles quanto cidadãos japoneses, que gozam os menores índices de criminalidade do planeta. O segredo: polícia comunitária, a mesma introduzida no Rio de Janeiro pela pacificação das favelas.
Além de contar como será o país do futuro – no futebol, na moda, na vida cultural –, tentamos explicar como chegamos lá. Não foi fácil. Entre o Brasil real de 2014 e aquele em que sonhamos viver, existe um fosso estatístico que precisa ser transposto com imaginação e esperança. A vida nas grandes cidades, hoje caótica, poderia ser organizada por soluções de transporte e urbanismo já praticadas na China e na Coreia. A criação de negócios, amarrada pela burocracia, poderia florescer como em Israel. O meio ambiente, ameaçado por nossos hábitos de consumo e pelo mau uso da energia, ganharia com o exemplo de suecos e alemães, que cuidam bem da natureza. As melhores ideias não são mirabolantes. Apenas exigem esforço.
A vida no Brasil de 2030, naturalmente, será melhor também em seus aspectos públicos. A política, de padrão nórdico, envolverá mais cidadãos e menos dinheiro. A corrupção existirá – como sempre, em toda parte – mas será identificada e coibida. No Brasil que desejamos, não existe mais impunidade.
IstoÉ
Ameaça vermelha
O rol de preocupações do governo federal com a miríade de grupos dispostos a usar a Copa do Mundo para transformar em realidade as mais variadas demandas sociais e trabalhistas ganhou um protagonista de peso na quinta-feira 22. Com mais de 20 mil pessoas a travar as principais avenidas de São Paulo em uma noite chuvosa, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) deu uma demonstração de força e de mobilização popular rara. Ao contrário das manifestações de junho, que levaram milhões de pessoas às ruas há um ano, o MTST tem uma pauta clara e definida – moradia para as populações de baixa renda – e um controle absoluto sobre seus integrantes. Demandas difusas e ausência de liderança, marcas registradas da onda de protestos que tomou conta do País nos últimos 12 meses, não fazem parte do cardápio do movimento dos sem-teto. O que pode ser bom e ao mesmo tempo ruim para o governo, às vésperas da Copa do Mundo.
O golpe das refinarias do Dr. Costa
Dois meses antes de ser preso pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa articulava um golpe para captar mais de R$ 1 bilhão num prazo de dois anos. O plano era criativo. Vendendo sua afamada influência na Petrobras, Costa alardeava em reuniões com políticos e empresários do setor que criaria quatro pequenas refinarias de petróleo em posições estratégicas ao lado de campos de exploração da estatal no continente. Ele dizia se tratar de um negócio bom para ambas as partes. Sem precisar transportar o óleo desses campos de baixa produção para refinarias distantes, a Petrobras economizaria em logística. Costa, com seus eventuais parceiros, além de embolsar bilhões de reais, entraria num nicho de mercado restrito com possibilidade de revender o combustível refinado de volta a Petrobras.
Ao investigar o caso, porém, a Polícia Federal passou a desconfiar que tudo nessa operação seria um teatro. Primeiro porque os investigadores descobriram que um dos parceiros de Paulo Roberto Costa na empreitada era dono de uma empresa de energia que aplicou golpe semelhante, criando usinas eólicas de fachada, depois de captar recursos públicos e privados. Além disso, a PF afirma não ter encontrado indícios de que a presidente da Petrobras, Graça Foster, tivesse demonstrado qualquer intenção de dar aval à parceria acalentada por Costa. Com isso, a PF suspeita que as refinarias de Costa serviriam de fachada para o esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef.
A intocável Camargo Corrêa
Nove em cada dez escândalos de corrupção no Brasil têm a participação de empreiteiras. Nos inquéritos, elas sempre aparecem despejando dinheiro nas campanhas eleitorais, emprestando jatinhos e outras benesses aos poderosos. Nos últimos anos, algumas delas foram pegas em operações da Polícia Federal e acabaram banidas do mercado. Isso ocorreu com companhias pequenas como a Gautama, mas também com grandes como a Delta.
Uma delas, porém, permanece intocável. Toda vez que uma investigação da Polícia Federal ou do Ministério Público ameaça a gigante Camargo Corrêa, provas são anuladas, delegados são removidos de função e inquéritos acabam engavetados.
Maconha medicinal no Brasil
Era 1997 quando a Justiça do Canadá autorizou Terrence Parker, 42 anos, a plantar e consumir maconha para tratar sua epilepsia. Quatro anos depois, o governo canadense foi o primeiro do mundo a regulamentar o uso medicinal da cannabis. O exemplo foi seguido pelo mundo. Nos Estados Unidos, já são 22 os Estados que permitem a produção e comercialização da erva para tratar doenças. No Reino Unido, um laboratório fabrica um medicamento em forma de spray com os dois componentes mais conhecidos da planta: o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). Recentemente, a França aprovou a venda desse mesmo remédio, assim como outros países europeus. Em Israel, também é possível adquirir a droga mediante autorização do governo. Na Holanda, compra-se a erva na farmácia. E no Brasil? Na quinta-feira 29, quando a diretoria da Anvisa aprovar a reclassificação do CBD, que deve ser liberado com uso controlado, será iniciado um novo marco na relação do País com a droga. IstoÉ apurou que não há nenhuma resistência por parte dos cinco membros da diretoria técnica da Anvisa em votar pela mudança que autorizará a importação do medicamento. “Há uma tendência bastante grande em se aprovar, caso haja segurança nas informações”, afirmou à ISTOÉ o presidente da entidade, Dirceu Barbano. Ele e outros quatro diretores se encontram para discutir a alteração em reunião aberta ao público. “Aparentemente, são todos favoráveis”, disse o presidente. Com a reformulação, a substância passará a integrar a lista de classificação C1, que permitirá a prescrição e a importação do composto em forma de medicamento.
Carta Capital
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Protestos – Diante da perplexidade dos governos, as greves se alastram