ISTOÉ
Conexão hawala
Este é o nome do esquema clandestino que o bicheiro Carlinhos Cachoeira utilizava para lavar milhões de dólares do seu grupo criminoso. O método é usado por grupos terroristas como a Al-Qaeda de Bin Laden. Saiba como ele funciona.
Nos próximos dias, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários receberá do Supremo Tribunal Federal (STF) os dados da Operação Monte Carlo, desencadeada pela Polícia Federal, que apurou a jogatina no Brasil e seus tentáculos com o poder. Os parlamentares terão acesso a informações que revelam como o contraventor operava para lavar o dinheiro sujo do jogo do bicho e da corrupção. Segundo o inquérito da PF, Cachoeira utiliza um dos mais sofisticados e eficientes modelos de lavagem de dinheiro do mundo, conhecido como Operação Hawala. Trata-se, segundo a PF, do mesmo esquema utilizado pela rede terrorista Al-Qaeda, criada por Osama bin Laden para financiar atentados. Documentos que fazem parte do inquérito mostram que, a partir da Operação Hawala, o grupo de Cachoeira conseguiu movimentar mais de US$ 400 milhões em três continentes e oito países – Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Antilhas Holandesas, China, Coreia do Sul, Irlanda e Reino Unido.
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A grande artimanha do sistema adotado por Cachoeira e terroristas internacionais é que ele não envolve remessas físicas de capital, tampouco documentos escritos. O que existem são trocas de créditos lastreadas na palavra – no estilo “eu confio em você”, o popular “fio do bigode”. O objetivo é não deixar rastros. Por isso ele é considerado um inferno para quem investiga crimes de lavagem e evasão de divisas. Com base nos preceitos da Hawala, que em árabe significa “transferência de significados”, o esquema de Cachoeira de lavagem de dinheiro, segundo as interceptações da PF, funcionava da seguinte maneira: os operadores do bicheiro, incluindo um doleiro, pediam verbalmente para outro doleiro no Exterior que determinado pagamento fosse efetuado. No Exterior, o doleiro pagava o receptor. Para receber o dinheiro, no entanto, o receptor era obrigado a dizer uma senha, previamente combinada com o grupo de Cachoeira. O operador Hawala no Exterior ficava com o crédito no Brasil que poderia ser pago não só em espécie, mas em imóveis, carros, entre outros bens (ver quadro).
Inimigos na trincheira
Metade dos parlamentares indicados para a CPI do Cachoeira está interessada em salvar a própria pele ou em proteger aliados.
Logo que saiu o acordo no Congresso para a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar a rede de relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira, uma guerra foi travada por políticos de diferentes partidos por uma vaga no colegiado. Ao contrário do que possa parecer, o movimento não foi motivado apenas pela disposição dos parlamentares de apurar denúncias e vencer a queda-de-braço entre governo e oposição. Teve origem também nos interesses pessoais e nas relações umbilicais que esses políticos e seus aliados mantêm com a empresa Delta e com o próprio contraventor. ISTOÉ mapeou as ligações dos parlamentares que compõem a CPI com quem deve ser alvo das investigações. Descobriu que quase a metade dos 32 membros da CPI está interessada em salvar a própria pele ou interferir nas apurações para distanciar aliados dos escândalos.
Um dos parlamentares que vai usar a comissão para se proteger das suspeitas que recaem sobre ele é o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP). Apesar de se dizer disposto a colaborar com as investigações, o delegado tem motivos para se preocupar com os rumos da CPI. Protógenes aparece em gravações telefônicas feitas em 2009 por Carlos Cachoeira em que o então delegado da PF combinava um encontro com o então diretor da Delta Claudio Abreu, preso na quarta-feira 25. Em outra ligação, Protógenes conversava com o araponga Adalberto Matias, o Dadá, sobre estratégias para atrapalhar o processo aberto na corregedoria contra ele por suspeitas de irregularidades durante as investigações da Operação Satiagraha.
Veta, Dilma
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Sem chefe ficou melhor
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O resultado das cotas
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ÉPOCA
O homem de Cachoeira na Justiça
Como a organização de Carlinhos Cachoeira aproveitou-se do prestígio do senador Demóstenes Torres para tentar influenciar decisões judiciais
A organização criminosa comandada pelo bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, ficou conhecida até agora por sua atuação em jogos ilegais, corrupção de agentes públicos e políticos e contrabando. A intensa atividade fica clara no extenso material obtido pela polícia na investigação que resultou na Operação Monte Carlo, em 29 de fevereiro. Gravações obtidas por ÉPOCA mostram, agora, uma nova faceta da atuação da turma. Para isso, a organização aproveitou-se da projeção e da boa imagem sustentada até então por seu integrante mais conhecido, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). O objetivo era tentar influenciar decisões do Sistema Judiciário.
Em fevereiro do ano passado, a Polícia Federal (PF) prendeu 19 policiais militares em Goiás durante a operação Sexto Mandamento – na Bíblia, “Não matarás” é o sexto dos dez mandamentos. De acordo com a investigação da PF, os policiais faziam parte de um grupo de extermínio acusado de matar inclusive crianças, adolescentes e mulheres sem envolvimento com práticas criminosas. Alguns assassinatos foram cometidos no horário de expediente dos policiais. Os suspeitos foram levados para o presídio federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.
Dias depois, em 3 de março, a situação dos policiais foi tema de uma das centenas de conversas entre Cachoeira e Demóstenes. Cachoeira pede a Demóstenes que converse com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), para tentar transferir os policiais para um presídio goiano. As gravações mostram que o senador da República orientou o bicheiro no procedimento para ajudar os PMs acusados de assassinato.
Amapá: O governador afirma ter oito, e não 35 contas bancárias
Na semana passada, o governador do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB), esteve em Brasília para falar por 20 minutos. Capiberibe fez a longa viagem para prestar um curto depoimento ao ministro João Otávio Noronha, no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Capiberibe é investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal por uso irregular do dinheiro público. Ao lado de outros políticos de seu Estado, Capiberibe é acusado de apresentar notas fiscais frias para justificar o recebimento de verbas para viagens durante o exercício do mandato de deputado estadual, entre 2007 e 2010.
A investigação foi tema de uma reportagem de ÉPOCA três semanas atrás. O texto afirmava que a Polícia Federal descobrira que Capiberibe aparecia como titular de 35 contas bancárias – informação baseada em documentos oficiais, entre eles um relatório do Banco Central (BC). Capiberibe contestou os dados da reportagem. O governador pediu informações sobre si mesmo a três bancos e forneceu a ÉPOCA um documento elaborado por um advogado a partir dos mesmos dados do Banco Central. Os papéis dizem que Capiberibe tem oito contas ativas – outras 17 já foram encerradas.
Na semana passada, o governador do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB), esteve em Brasília para falar por 20 minutos. Capiberibe fez a longa viagem para prestar um curto depoimento ao ministro João Otávio Noronha, no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Capiberibe é investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal por uso irregular do dinheiro público. Ao lado de outros políticos de seu Estado, Capiberibe é acusado de apresentar notas fiscais frias para justificar o recebimento de verbas para viagens durante o exercício do mandato de deputado estadual, entre 2007 e 2010.
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