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Pedagoga e sócia das agências de publicidade SMPB, DNA e Grafitti, a mulher de Marcos Valério, Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza, depõe hoje à CPI dos Correios como testemunha, mas carrega ares de investigada. Após pleitear por duas vezes um hábeas-corpus – que lhe garantia o direito de ficar calada durante o depoimento –, ela vai tentar explicar por que autorizou que o marido fizesse, entre 2003 e 2005, cinco empréstimos em nome das empresas nos bancos Rural e de Minas Gerais (BMG) para o PT, que somam mais de R$ 39 milhões. Valério, apontado como operador do mensalão, suposto pagamento de mesadas pelo PT a parlamentares, não aparece como sócio legal de suas empresas. Para tomar os empréstimos, Renilda assinou uma procuração em que autorizava o marido a fazer a transação em nome das agências SMPB e DNA. Ela alega não ter sido conivente com a operação e diz que deu o aval ao documento porque confiou no cônjuge. Leia também Segundo o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o dinheiro alimentava um caixa dois para pagar dívidas de campanhas do partido. Mas, de acordo com denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), Valério usava as contas das SMPB e da DNA para distribuir o mensalão. Compromisso com a verdade Os parlamentares desconfiam da versão de Renilda. Acreditam que ela pode abrir o jogo sobre as relações entre o PT e Valério. Para se prevenir de uma eventual prisão e de perguntas indelicadas, a esposa de Valério tentou na sexta-feira o recurso do hábeas-corpus, mas o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Nelson Jobim, negou o pedido ontem à tarde. Logo após a primeira negativa, os advogados dela tentaram reverter a decisão inicial do Supremo, novamente sem sucesso. Jobim alegou que a testemunha não pode deixar de depor e deve responder a todas as perguntas, embora não seja obrigada a assumir o compromisso de dizer a verdade. A oposição sinalizou que não vai partir para cima da esposa de Marcos Valério. O casamento da empresária não anda bem e os membros da CPI devem aproveitar esse fator para fazê-la falar tudo o que sabe. Há uma chance remota de a depoente, que teve seus sigilos fiscal, bancário e telefônico quebrados no final de junho, não falar em sessão aberta. “Se ela quer falar em sessão secreta, acho que vale a pena”, disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). O apelo, no entanto, pouco tem a ver com o fato de estar ou não à vontade para depor. A esposa de Marcos Valério fala à CPI dos Correios sob forte pressão. Mãe de uma filha do empresário, que há 14 dias insiste em não falar com o pai, Renilda não quer expor seu relacionamento com Valério e com as empresas envolvidas em escândalos de corrupção à opinião pública. Acordo Na semana passada, Marcos Valério tentou fazer um acordo com a comissão. Propôs colaborar com as investigações se os parlamentares desistissem de convocar sua esposa. O empresário defendera que ela pouco contribuiria com as investigações. O deputado Eduardo Paes pensa diferente. “Ela não parece uma pessoa inteirada dos negócios da empresa. Era sócia só pelo fato de ser mulher de Marcos Valério, mas pode trazer dados importantes e relevantes à comissão”, ressaltou. No último dia 20, o Conselho de Controle de Operações Financeiras (Coaf) recebeu um relatório no qual o BankBoston informava a tentativa de resgate de R$ 1,8 milhão da conta da DNA no banco. O Coaf encaminhou o documento ao Ministério Público, que atribuiu o saque à Renilda e imediatamente pediu ao STF o bloqueio de todas as contas bancárias dela. Nos corredores da CPI dos Correios, alguns parlamentares afirmavam que a empresária arquitetava uma fuga e já tinha, inclusive, passaporte. Tripudiar O sub-relator da CPI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) disse que os integrantes da comissão não vão expor nem tripudiar da depoente. Ele afirmou, no entanto, que essa é a oportunidade de a empresária comprovar, com declarações convincentes, que não há ligação entre ela e os negócios de Valério com o PT. Em caso contrário, “ela pode aprofundar as suspeitas sobre ela e a família”, ressalva o deputado. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que Renilda provavelmente está “revoltada” com toda a situação, o que pode pesar a favor da CPI. “Imagino que ela esteja revoltada, contrariada com tudo. Quem não idealiza, não aceita o fracasso. Há por isso a possibilidade de que ela traga verdades reveladoras. Ela foi usada, deve estar indignada”, analisou. |
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