Em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo, o senador Renan Calheiros, líder da bancada do PMDB no Senado até o fim de junho e presidente da Casa até fevereiro, sedimentou sua oposição ao presidente Michel Temer em momento de turbulências para o chefe do Executivo, com o início da tramitação da denúncia da Procuradoria-Geral da República na Câmara dos Deputados. “O governo Temer já foi. Maia pode ser uma saída”, em referência ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (PMDB-RJ).
Como um dos principais críticos da reforma trabalhista, ele afirmou ter sido “o maior equívoco defender uma agenda unicamente do mercado”. Além disso, disse que Temer foi colocado na cadeira presidencial “sem ter um plano de voo, sem saber de onde estava vindo nem para onde estava indo”. Renan assumiu de vez a postura de opositor após deixar a liderança do PMDB, ao gravar mais um vídeo em que fez duras críticas ao governo.
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A posição política do líder Renan o afastou de seus principais aliados políticos dentro do PMDB e do próprio Senado: o atual presidente da Casa, Eunício Oliveira (CE), que também é o tesoureiro da legenda, e o presidente nacional do próprio partido e líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR). O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), anunciou a escolha de Lira em sua conta no Twitter. Nas postagens, Jucá afirmou que a reunião foi “positiva” e mostrou “a força e a união da bancada” peemedebista, que deu “um passo na direção de votarmos projetos.”
Na opinião de Renan, o PMDB está fragilizado no governo Temer. “Às vezes o presidente lida com o partido como se fosse uma imobiliária, como se pudesse ter dono. Eu jamais seria um líder de aluguel. Nunca tive e nunca terei senhorio. Por isso resolvi sair.” Para Renan, no entanto, “ninguém aguenta mais” o governo. “Não devemos descartar o Rodrigo Maia como alternativa constitucional e como primeiro e decisivo passo para essa inevitável travessia que nós deveremos ter de fazer.
Renan é um dos principais investigados entre os parlamentares em exercício. É o senador com mais procedimentos no STF, alvo de mais de dez investigações e uma denúncia na Lava Jato, além de ter renunciado em 2007 ao comando do Senado sob a suspeita de ter despesas privadas bancadas pela empreiteira Mendes Júnior.
Retratação
Renan voltou a cutucar Temer. Em abril, o senador havia comparado a gestão de Temer à seleção do treinador Dunga, que comandou a seleção brasileira de futebol durante a Copa do Mundo de 2014. “O Brasil está cobrando que o governo funcione. Reclama que o governo está mal escalado, jogando para trás. O governo, como está, parece a seleção de Dunga. Nós queremos a seleção de Tite para dar a orientação”, disse Renan à época.
Na entrevista de hoje, Renan afirmou que gostaria de se retratar. “Dunga foi um vencedor, não é oportunista, é sério, foi tetracampeão e, como treinador, conquistou vários títulos. Dunga não merecia, sinceramente, essa comparação”, disse o senador à reportagem da Folha.
Leia a íntegra da entrevista de Renan Calheiros à Folha de S. Paulo
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