Irmãos do presidente do Senado, os deputados federais Olavo (PMDB-AL) e Renildo Calheiros (PCdoB-PE) não têm a mesma força política que Renan (PMDB-AL) no Congresso. Mas Olavo parece ter o mesmo talento para os negócios.
Renan, conforme os documentos apresentados por sua defesa ao Conselho de Ética do Senado – que o investiga por suspeitas de ter aceitado que o lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior, pagasse a pensão de sua filha com a jornalista Mônica Veloso – vendeu gado bastante acima do preço de mercado e garante ter lucrado R$ 1,9 milhão nos últimos quatro anos. Já Olavo, segundo a revista Veja, conseguiu vender à Schincariol, pelo dobro do preço avaliado, uma fábrica falida.
Olavo abriu a Conny Indústria e Comércio de Sucos e Refrigerantes em 2003, na cidade natal dos Calheiros, Murici (AL). Ganhou da prefeitura, na época comandanda por Remi Calheiros, seu irmão, um terreno de 45 mil metros quadrados, avaliado em R$ 750 mil. Remi também garantiu abastecimento de água gratuito por três anos.
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No Banco do Nordeste, o gerente José Expedto Neiva Santos, mais tarde promovido a superintendente estadual, lhe conseguiu R$ 6 milhões de empréstimo. A quantia deveria ser paga em 20 anos e a garantia da transação foi uma escritura de fazenda que, segundo o Ministério Público, pode ser falsa.
Mas a Conny foi um fracasso. Três anos depois de aberta tinha apenas 0,1% do mercado nordestino, devia R$ 150 mil em contas de luz e R$ 9,9 milhões ao Banco do Nordeste. Ainda assim, Olavo Calheiros conseguiu vender a fábrica por R$ 27 milhões à Schincariol. Segundo especialista ouvido pela revista Veja, o empreendimento mal valia R$ 10 milhões.
A Schin afirma que o objetivo do negócio era expandir mercado no Nordeste. Mas, conforme aponta a reportagem, desde então Renan tem atuado em favor da empresa. Um ano antes da venda, os cinco donos da Schincariol foram presos por sonegação fiscal na Operação Cevada da Polícia Federal.
"O senador esteve pelo menos três vezes no Ministério da Justiça para saber dos desdobramentos da Operação Cevada. Também andou visitando a cúpula do INSS, que planejava executar dívidas previdenciárias de cerca de 100 milhões de reais da Schincariol. As dívidas, como que por mistério, não foram executadas até hoje. Ou melhor: o INSS executou, sim, mas apenas uma dívida de 49.700 reais. Renan Calheiros andou, também, pela Receita Federal, onde chegou a falar sobre uma multa milionária que o órgão aplicaria à Schincariol. Sabe-se lá por quê, até hoje a empresa não sofreu multa milionária nem a cobrança do 1 bilhão de reais sob suspeita de sonegação. Melhor que isso: a Receita, em vez de manter a contabilidade da dívida centralizada, pulverizou-a pelos seis estados onde a Schincariol tinha fábrica na época. Isso complica e retarda uma cobrança de dívida", diz a Veja. (Carol Ferrare)
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