O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), corre contra o tempo para convencer os colegas de que não teve as despesas pessoais pagas pelo lobista da empreiteira Mendes Júnior, Cláudio Gontijo. Neste domingo, Renan passou o dia na residência oficial preparando sua defesa e o discurso que promete fazer na tribuna do plenário nesta segunda-feira (28).
Renan pretende usar suas declarações do Imposto de Renda (IR) de anos anteriores para demonstrar que tem renda suficiente para pagar a pensão sem a ajuda de terceiros.
O senador quer evitar a todo custo que a denúncia, apresentada pela revista Veja, seja alvo do Conselho de Ética do Senado, que se reúne pela primeira vez este ano nesta quarta-feira. Na pauta oficial está apenas a eleição do presidente e do vice-presidente do Conselho. Segundo o líder do PDT na Casa, Jefferson Peres (AM), é "fundamental que antes dessa reunião Renan se explique sobre as denúncias de que teria recebido ajuda da empreiteira Mendes Júnior para pagar contas particulares."
O presidente do Senado divulgou uma nota pública, na noite de sexta-feira, negando ter recebido os favores. "Mas não convenceu os senadores. Eles cobram provas de sua inocência. A vários colegas, com quem falou por telefone, ele garantiu ter como afirmar que a denúncia é falsa", diz reportagem deste domingo do jornal Correio Braziliense.
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“Ele tem como comprovar. Vai complementar a informação com a declaração de Imposto de Renda, de bens, pagamentos e investimentos que possui”, conta o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Os peemedebistas insistem, de acordo com a matéria, que a nota de Renan bastou para encerrar o caso, mas vários líderes partidários vêem o texto como uma resposta emocional à acusação.
Entre as perguntas não respondidas, a reportagem de Helayne Boaventura destaca a de como Renan pagou por vários meses uma pensão informal de R$ 16.500 à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha de três anos, se recebe como parlamentar R$ 12.700. O senador deve alegar que os pagamentos são compatíveis com a renda declarada por ele nos últimos anos: R$ 201 mil, em 2005, e R$ 435 mil, em 2006. Parte dos recursoss seria proveniente de "rendimentos agropecuários".
O presidente do Congresso ainda não explicou o nível de suas relações com Gontijo, e se esse contato teria favorecido a empreiteira Mendes Júnior em contratos com o governo. “Está em jogo a credibilidade da revista (Veja, que publicou a denúncia) e a palavra de Renan. Agora é a fase da exibição de provas”, cobra o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN). “Está na hora desse fato ser esclarecido porque é grave o envolvimento do presidente do Congresso”, acrescentou.
Renan, segundo o Correio, partiu para o ataque e passou a mandar recados para os políticos. “Se os parlamentares querem discutir a relação entre os políticos e as empreiteiras, acho um ótimo debate! Mas será com todos os empreiteiros e com todos os políticos”, teria dito a um amigo o presidente do Senado. (Lúcio Lambranho)
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Corrupção provoca perdas indiretas de R$ 1,5 bi por ano no Brasil
Além de uma soma incalculável desviada dos cofres públicos e consumida em propinas todos os anos, a corrupção custa ao Brasil cerca de R$ 1,5 bilhão por ano em perdas indiretas, segundo reportagem de Patrícia Campos Mello publicada neste domingo (27) no jornal O Estado de S.Paulo.
Segundo a matéria, esse valor é o total de recursos que deixam de ser gerados por causa dos efeitos da corrupção sobre os investimentos, os gastos do governo, a inflação, a educação e a credibilidade do país. Os cálculos do rombo são do especialista Axel Dreher, professor do Centro de Pesquisas de Conjuntura do Instituto Econômico Suíço. "Com esse dinheiro, o governo federal poderia tapar os buracos de 4 mil quilômetros de estradas", explica o texto.
Nas contas do especialista, o Brasil perde por ano, em média, 0,08% do PIB por causa de custos indiretos da corrupção (em valores de 2006, US$ 715 milhões). E segundo a mesma pesquisa, em PIB per capita, o Brasil deixa de ganhar US$ 270 todos os anos.
“A corrupção leva à queda do investimento estrangeiro direto, as elites cleptocratas ganham renda à custa de uma possível redução da pobreza, e enquanto os efeitos no volume de investimentos do governo não são claros, há uma evidente perda de qualidade nesses investimentos”, diz Dreher. Ele e é autor de vários estudos em que calcula o impacto da corrupção sobre expectativa de vida, escolaridade, investimento, gastos do governo e inflação. (Lúcio Lambranho)