Reeleito presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), critica em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo os líderes do seu partido na Câmara. "Se houve derrota foi do PMDB na Câmara. O PMDB ganhou no Senado, mas perdeu na Câmara porque abriu mão do direito de indicar o presidente da Casa, conquistado nas urnas. Assistiu à derrota do líder da bancada para a primeira secretaria e trocou a relação direta com o presidente Lula, pela interlocução intermediária", disse Renan em entrevista a repórter Christiane Samarco.
Leia a entrevista:
Medidas Provisórias
"A avalanche de MPs amplia a insegurança jurídica, atrapalha o funcionamento do Legislativo e contribui para ampliar esse amontoado de leis. Mas, apesar disso, mostramos que é possível votar, e votamos muito. Pela primeira vez desde a Constituinte de 1988 aprovamos mais leis originárias do Congresso que do Executivo. Foi isto que garantiu a independência do Senado e desfez, aqui, a falsa disputa entre governo e oposição."
Coalização
"Antes de saber como montar a coalizão, é preciso dar um fundamento, um objetivo a ela. Em vez de listar ministros, temos de estabelecer uma agenda para o País. Ainda em meio à crise, levei ao presidente uma agenda de crescimento. Alguns pontos dessa agenda foram adotados. Faltam ainda as reformas estruturais e medidas de impacto, como a desburocratização."
Leia também
Votação do PAC
"A correlação de forças no Senado é muito apertada. A governabilidade exige que, além da coalizão, a gente mantenha entendimento permanente com a oposição em torno da agenda que não é de governo, é de País. O PAC vai ser aperfeiçoado no Legislativo. Compreendo melhor a prorrogação da DRU e da CPMF no contexto da reforma tributária, para que a gente não fique vivendo com uma carga tributária que prejudica a competitividade da economia."
Crise na base aliada
"A crise não é da base. É dos partidos, que estão todos divididos em correntes, e é anterior à eleição. O que está apodrecido é o sistema político-partidário que precisa ser revisto rapidamente. Votamos no Senado a reforma política, com o fim da coligação proporcional, com lista partidária mista, fidelidade e forma clara de financiamento de campanha. E há 11 anos já tínhamos votado a cláusula de desempenho. Vamos refazê-la, corrigindo os aspectos considerados inconstitucionais."
Derrota de Aldo
"Se houve derrota foi do PMDB na Câmara. O PMDB ganhou no Senado, mas perdeu na Câmara porque abriu mão do direito de indicar o presidente da Casa, conquistado nas urnas. Assistiu à derrota do líder da bancada para a primeira secretaria e trocou a relação direta com o presidente Lula, pela interlocução intermediária. Aldo Rebelo é um grande amigo, que admiro muito. Tivemos sempre o mais fraterno relacionamento, as famílias são muito amigas. Mas isto não cria dificuldade na boa relação que certamente terei com Arlindo Chinaglia, que foi sempre uma das pessoas com quem melhor me relacionei."
Divisões do PMDB
"O que foi e é recomendável é a união do partido, na defesa do fortalecimento do seu papel como maior bancada nas duas Casas. Sempre cisquei para dentro. Trabalhei pela união. Tanto que os oráculos vaticinaram o fim do PMDB e o partido foi o que mais cresceu na eleição. Não tivemos candidato ao Planalto por conta da verticalização, da diversidade regional e por não ter um nome competitivo."
Apetite do PT
"Do ponto de vista do Parlamento, não é difícil administrar (o apetite do PT). Tanto que conseguimos fechar um acordo. O PT contou com a boa vontade da bancada do PMDB e dos demais partidos, principalmente os da oposição. Do ponto de vista do governo, caberá ao presidente Lula responder."
Relação com o governo
"Meu cargo é institucional. Não exerço função partidária. Não cabe a mim fazer a interlocução do PMDB com o governo. Se em alguns momentos fui chamado pelo presidente Lula na condição de peemedebista, é porque o partido estava equivocadamente dividido, o que enfraquece suas lideranças. Nunca exigi exclusividade. Sempre fiz força para integrar o presidente Michel Temer, os líderes da Câmara e outros setores do partido nas conversas com Lula. Isto não quer dizer que eu vá parar de conversar com o presidente Lula. Primeiro, pela obrigação institucional do diálogo. Segundo, pela relação de confiança que existe de parte a parte."