O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), encerrou há pouco (16h22) o pronunciamento em que deu sua versão sobre a denúncia da revista Veja de que recebeu recursos de um lobista da Construtora Mendes Júnior, Cláudio Gontijo, para pagar contas pessoais. O dinheiro, conforme a revista, foi utilizado para o pagamento de pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem o senador teve uma filha, fruto de um relacionamento extraconjugal.
No discurso, que ele fez da cadeira de presidente e não da tribuna, Renan desqualificou o aspecto mais explosivo da denúncia – suas eventuais relações com uma empreiteira que executa diversas obras federais – para enfatizar o lado pessoal da questão. “É com sentimento de indignação e constrangimento que venho defender-me de uma infâmia, de um pseudo-escândalo sobre minha vida pessoal. Estou aqui para provar, demonstrar, exibir e reiterar que se trata de uma questão pessoal. Ninguém teria outro sentimento se não este, ao ver sua privacidade violada”, afirmou.
Ele pediu desculpas à sua mulher, Verônica, que acompanhou o pronunciamento do plenário do Senado; a todos os seus familiares; aos senadores; e ao próprio Gontijo, pela exposição do seu nome. Renan disse que Gontijo lhe fez um favor, na condição de amigo, ao repassar o dinheiro a Mônica, mas os recursos lhe pertenciam.
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Ao longo do pronunciamento, de pouco mais de 20 minutos, Renan também apelou ao espírito de corpo dos seus colegas ao afirmar que a denúncia atinge todo o Senado: "Quando me agridem, ferem também uma das mais altas instituições nacionais".
"Vou confessar um pecado"
Lamentando o "constrangimento" ao qual submetia sua mulher e os demais senadores, Renan anunciou: "Vou confessar um pecado, quando somente deveria fazê-lo no confessionário. Infelizmente, minha confissão será aqui". E prosseguiu: "Não quero misturar essa tentativa de escândalo aos casos de corrupção. Não quero debitar a uma parte da imprensa. Confesso que tive uma relação que me deu uma filha. Eu não fugi a esse calvário. Assumi como pai as minhas responsabilidades".
Ele disse que tinha tudo "registrado minuciosamente" para demonstrar que os recursos usados para pagar a Mônica Veloso eram deles, e não da Mendes Júnior ou de quem quer que seja.
"A partir de janeiro de 2006, os recursos passaram a ser deduzidos do meu rendimento de senador. Estes documentos comprovam o que eu estou dizendo. Anteriormente a essas datas, prestei assistência à gestante até o reconhecimento da paternidade. Honrei com meus próprios recursos um aluguel de uma casa de março de 2004 a março de 2005", relatou. "Nunca misturei o o público com o privado. Os recursos estão todos declarados em meu Imposto de Renda. Além de assumir minhas obrigações financeiras, fiz muito mais. Disponibilizei de minhas reservas um fundo de R$ 100 mil para garantir o futuro da criança".
"Não tenho relação com a Mendes Júnior"
Renan destacou que Cláudio Gontijo o ajudou como amigo, não como executivo da Mendes Junior: "Sou amigo de Cláudio Gontijo há mais de 20 anos. Ele era a pessoa para fazer a interlocução entre as partes, uma vez que tinha amizade com a mãe de criança. Eu não nego e nem renego as minhas amizades. Todos os recursos foram pagos por mim, são recursos meus. A declaração de imposto de renda está à disposição dos senadores".
De acordo com o presidente do Senado, tal intermediação ocorreu depois que Mônica Veloso pediu aumento da pensão paga pelo senador. "Reconheci a paternidade e o fiz por iniciativa minha", completou, mostrando a certidão de nascimento da criança. "Ao Cláudio, peço desculpas pela exposição do seu nome. Na audiência do último dia 25, acertamos a pensão".
Os fatos relatados, continuou, apontam para um "falso escândalo", derivado de "denúncias sórdidas": "Não tenho nenhuma relação com a construtora Mendes Júnior. Não tenho relação com os administradores desta empresa. Eu lamento novamente o constagimento que lhes estou causando".
Renan Calheiros condendou ainda a apresentação de "pseudofatos como verdades definitivas" e a "invasão daquilo que é mais sagrado na construção da sociedade, que é a família" em razão de "infâmias provincianas", que incluiriam a suspeita de que ele – com sua remuneração mensal de senador, da ordem de R$ 12 mil – não lhe asseguraria recursos próprios para pagar uma pensão mensal que, segundo a Veja, chegou a ser de R$ 16,5 mil mensais, embora o senador não tenha confirmado esse valor em seu discurso.
No dia em que foram publicadas as denúncias, havia uma audiência de conciliação marcada na 4ª Vara de Família do Distrito Federal para acertar o valor da pensão. No final, ficou decidido que o senador deveria pagar R$ 7 mil.
O parlamentar também negou que omite em suas declarações de renda os rendimentos que obtém como produtor rural. "A Fazenda Novo Largo está em meu Imposto de Renda", garantiu. (leia mais)
E finalizou: "Continuarei fazendo o que fiz em todos os meus mandatos. Trabalhar por Alagoas e trabalhar pelo Brasil. Vou até os últimos dias do meu mandato trabalhando por mais investimentos para meu estado. Não adianta, não me intimidarei. Trabalhar para conseguir investimentos públicos ou privados é dever de todo parlamentar. Regredimos. Há 2 mil anos, a política era feita de casos pessoais. Era só vida pessoal. Ressucitamos, infelizmente. estes tempos e os seus terríveis métodos".
Renan concluiu o discurso aplaudido pelos senadores. Na seqüência, a sessão foi interrompida por poucos minutos para que ele recebesse os cumprimentos dos parlamentares.
Confira a íntegra do pronunciamento de Renan Calheiros
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