A maioria dos senadores se considerou satisfeita com as explicações dada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no discurso (veja a íntegra) que ele fez na tarde de ontem (28). Mas o fato é que os documentos apresentados por ele em plenário (leia aqui sobre o discurso) ainda deixam margem para dúvidas com relação às denúncias feitas pela revista Veja (leia mais).
Isso porque as acusações de que o executivo Cláudio Gontijo, que trabalha para a empreiteira Mendes Júnior, custeava as despesas da filha do senador – nascida em julho de 2004, fruto de um relacionamento extraconjugal com a jornalista Mônica Veloso – referiam-se ao período de janeiro de 2004 a dezembro do ano passado.
Os comprovantes de pagamento de pensão alimentícia apresentados por Renan, no entanto, tratam apenas do período a partir do reconhecimento da paternidade, ocorrido em dezembro de 2005. No pronunciamento, o senador afirmou que vinha cumprindo com suas obrigações de pai desde a gestação e que, antes mesmo do reconhecimento oficial da paternidade – que só ocorreu um ano e meio após o nascimento da criança – ajudava financeiramente Mônica Veloso.
“Anteriormente a essas datas, prestei assistência à gestante em valor maior, em torno de R$ 8 mil, até o reconhecimento da paternidade, conforme os repasses para a beneficiária. Além disso, honrei com meus próprios recursos o aluguel de uma casa, entre 15 de março de 2004 e 14 de março de 2005. Posteriormente, arquei com o aluguel de um apartamento, entre março e novembro de 2005, para a gestante”, relatou o senador em plenário. Ele, contudo, não apresentou nenhum documento comprovando esses pagamentos.
Renan Calheiros também contou, sem mostrar provas, ter reservado R$ 100 mil, retirados de suas recursos financeiros pessoais, para arcar com as despesas futuras com a educação de sua filha.
De acordo com a reportagem da Veja, Mônica recebia mensalmente das mãos de Cláudio Gontijo, R$ 16,5 mil, sendo R$ 12 mil na forma de pensão alimentícia e R$ 4,5 mil do aluguel de um apartamento em área nobre de Brasília. O senador não confirmou nem citou o valor divulgado pela revista.
No dia em que foi publicada a reportagem, o presidente do Senado (e, por extensão, do Congresso) disse que todas as despesas da filha foram pagas por ele. Como parlamentar, Renan recebia salário bruto R$ 12.720. Ele afirmou ter rendimentos provenientes de atividades agropecuárias, mas não apresentou documentos comprovando o valor dessas rendas.
Documentos
Entre as provas apresentadas pelo senador estão seus contracheques de fevereiro a dezembro de 2006, comprovando que a pensão alimentícia de pouco mais de R$ 3 mil foi descontada em folha e depositada na conta de Mônica Veloso. Também há dois comprovantes de depósitos com os fac-símiles de cheques do senador no valor de R$ 3 mil e em nome da jornalista, depositados em dezembro de 2005 e janeiro de 2006.
Ele apresentou também a escritura pública de reconhecimento de paternidade e parte das declarações de Imposto de Renda de 2005, 2006 e 2007. Nenhuma, contudo, traz a relação de bens declarados ou os comprovantes de rendimento do senador.
Renan Calheiros mostrou, ainda, a capa do processo que tramita em segredo de Justiça na 4ª Vara de Família do Tribunal de Justiça do Distrito Federal para definir a pensão de sua filha. Na última sexta-feira (25), dia em que a matéria sobre o caso foi publicada pela revista Veja, uma audiência entre a jornalista e o senador definiu que a pensão alimentícia será de R$ 7 mil. Esse valor já incluiria o aluguel do apartamento onde Mônica Veloso mora com a filha.
Renan confirmou que, até dezembro de 2005, pediu a um amigo que intermediasse as negociações com a mãe da menina. Apesar de não ter citado o nome de Cláudio Gontijo nesse momento do pronunciamento, ele admitiu, em seguida, que o lobista era responsável pela interlocução com Mônica Veloso.
“Poucas pessoas de minha estrita relação pessoal compartilhavam dessas agruras. Uma delas era Cláudio Gontijo, de quem sou amigo há mais de 20 anos, quando ele nem sequer cogitava trabalhar na empresa que trabalha. O fato de trabalhar para a empresa Mendes Júnior não tem nenhuma relação. Ele era a pessoa para fazer a interlocução entre as partes, uma vez que tinha amizade com a mãe da criança”, disse durante o discurso.
Contradição
O advogado da jornalista Mônica Veloso, Pedro Calmon Mendes, disse ao Jornal Nacional, ontem à noite, que os R$ 100 mil referidos pelo senador, que estariam, de acordo com Renan, em um fundo destinado à educação da criança, foram repassados por ele para complementar a queda no valor da pensão.
“Não existe um fundo”, afirmou o advogado. Ele também disse que o pagamento de pensão era em dinheiro vivo, “rigorosamente da forma relatada pela revista Veja”.
O advogado disse que só tinha uma correção a fazer: Segundo ele, o acertado entre sua cliente e Renan era o pagamento de R$ 8 mil de pensão e o aluguel, em torno de R$ 4 mil.” O total, no caso, seria de R$ 12 mil, e não de R$ 16,5 mil, como informou a revista.
Pedro Calmon Filho declarou ainda que a sua cliente não tinha relação de amizade com Cláudio Gontijo, conforme afirmou o parlamentar em seu pronunciamento. Segundo o advogado da jornalista, Mônica Veloso foi apresentada ao lobista pelo próprio senador.
Apoio no plenário
Apesar de não ter comprovado a origem do dinheiro, o discurso de Renan foi muito elogiado pelos senadores. “As declarações foram convincentes. Ele conseguiu desmontar as acusações. Se não surgir nenhum fato novo, considero que o assunto está encerrado”, disse o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO).
"Antes eu disse que ele precisava ser rápido e convincente. Ele foi rápido, pois hoje é segunda-feira e ele já deu sua resposta, e eu não tenho o direito de não acreditar nele", declarou o senador José Agripino Maia (RN), líder do DEM no Senado.
O senador
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