Após cinco meses de tensão, Renan Calheiros (PMDB-AL) resolve deixar a presidência da Casa por 45 dias. E o motivo é a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Renan anunciou seu “adeus” às 19h de hoje (11). Agora, quem assume os trabalhos de condução da Casa – principalmente a CPMF – é Tião Viana (PT-AC).
O presidente Lula ajudou a costurar um acordo pela saída de Renan. O objetivo era garantir a renovação da CPMF, tributo que rende R$ 40 bilhões por ano ao governo.
No pronunciamento, Renan disse que deixa o cargo porque não precisa dele para se defender dos processos a que responde no Conselho de Ética. Ele disse que as recentes acusações de espionagem serviram de “pretexto para dar corpo” às três representações a que responde.
Renan afirmou que sai para retomar a “harmonia” no Senado – em referência ao fato de que a maioria dos senadores não o aceitariam mais no cargo – e em homenagem às “altas responsabilidades” que tem – um recado claro sobre a tramitação da CPMF. Também quer evitar a “repetição dos constragimentos” como o da sessão de terça-feira passada. Na ocasião, colegas de vários partidos cobraram a saída de Renan, que, irritado, deixou o plenário.
No discurso, o alagoano não admitiu qualquer deslize ético nas acusações a que responde. “A minha trincheira de luta sempre foi a inflexível certeza de minha inocência.” Ele disse crer que a verdade vai prevalecer, como no dia da absolvição de seu primeiro processo, em setembro.
Renan é acusado em quatro representações – sendo três em curso. As denúncias são de fazer lobby para uma cervejaria, usar “laranjas” para comprar rádios, comandar um esquema de desvio de dinheiro em ministérios e mandar espionar senadores favoráveis à sua cassação.
Aliados
Renan passou o dia reunido com aliados na residência oficial do Lago Sul e voltou ao Senado no início da noite desta quinta-feira. Antes disso, até peemedebistas graduados, além de petistas e integrantes da oposição, já previam que ele não resistiria ao desejo da maioria dos colegas, de vê-lo sair da cadeira de presidente o mais rápido possível para acabar com o desgaste da Casa.
O senador Pedro Simon (PMDB-RS), que, pela manhã, disse crer na saída de Renan, garantiu que ignora qualquer tipo de negociação que possa ter sido urdida para levar à licença assumida. “Não tenho idéia nenhuma se houve qualquer tipo de negociação. Agora o Senado vai ficar mais tranqüilo. Os processos continuam”, lembrou o peeemedebista
Até graduados peemedebistas já defendiam a saída de Renan da presidência. A avaliação é de que ninguém queria a cassação do alagoano. Entretanto, como ele insistia em ficar no cargo, contra a vontade dos colegas, a solução para a crise seria derrubá-lo de vez de seu mandato. O líder do PSB, Renato Casagrande (ES), ressaltou que a permanência do presidente em sua cadeira não ajudava “nem as representações contra ele”.
Petistas apostavam que 2 de novembro era o prazo para o presidente da Casa conseguir sair ileso dessa situação. Para Casagrande, relator do primeiro processo contra Renan, se o pedido de cassação apresentado por ele e Maria Serrano (PSDB-MS) fosse submetido hoje ao plenário, o resultado seria diferente da absolvição, que aconteceu no mês passado.
O líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), destacou que o problema não se restringe à sessão de terça-feira passada, quando diversos representantes de partidos imploraram em uníssono para que o presidente da Casa deixasse seu cargo. “Se fosse só a sessão de terça-feira, seria bom. A cautela é boa para se encontrar uma solução. De que forma, eu não sei,” comentou Raupp hoje pela manhã. (Fábio Góis, Lúcio Lambranho, Rodolfo Torres e Eduardo Militão)
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Atualizada às 20h46