O depoimento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, previsto para as 15h, não deve ser mais no plenário do Senado, mas no auditório da própria Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), responsável pelo requerimento de convocação.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), havia acertado ontem com o ministro que a audiência seria realizada no plenário da Casa, mas mudou de idéia após conversar com o presidente da comissão, Luiz Otávio (PMDB-PA).
Oficialmente, Palocci irá ao plenário do Senado para falar sobre temas como a autonomia do Banco Central, a taxa básica de juros e a privatização do Banco do Estado do Ceará, conforme o requerimento aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Mas os senadores querem ouvir o ministro mesmo é sobre a série de denúncias de irregularidades envolvendo o seu nome.
A oposição chegou a discutir a possibilidade de boicotar a audiência com Palocci, alegando ter sido pega de surpresa com a antecipação do depoimento. O PSDB, no entanto, rejeitou a proposta do PFL de esvaziar a reunião. Pefelistas e tucanos acertaram que vão insistir para que o ministro seja convocado a depor na CPI dos Bingos por causa da denúncia de que o comitê eleitoral de Lula teria recebido dinheiro de Cuba em 2002.
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A denúncia foi confirmada à revista Veja por dois ex-assessores de Palocci, o advogado Rogério Buratti e o economista Vladimir Poleto. O montante teria sido entregue ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares por Ralf Barquete, ex-assessor do ministro morto em 2004.
A CPI dos Bingos pretende ouvir o secretário particular do ministro, Ademirson Ariovaldo da Silva, sobre o elevado número de ligações telefônicas trocadas, entre março de 2003 e agosto deste ano, com Poleto: 1.434.
O inferno astral do ministro da Fazenda começou em agosto, quando foi acusado por Buratti de receber uma mesada de R$ 50 mil da empresa Leão e Leão em troca da manutenção do contrato de serviços de coleta de lixo e varrição de rua em Ribeirão Preto. O dinheiro, segundo o ex-secretário de Palocci, teria como destino o caixa dois eleitoral do PT.
De acordo com o Ministério Público, há indícios de que a prefeitura superfaturou os serviços de coleta de lixo, favorecendo a Leão e Leão. Os responsáveis serão denunciados até o final do mês. Segundo o promotor Aroldo Costa Filho, o ministro poderá até ter seu indiciamento solicitado pelo MP ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas, por enquanto, ressaltou, ainda não existem provas sobre a participação do ministro no caso.
Em depoimento ao Ministério Público, Buratti também contou que Palocci teria participado de uma reunião com dois angolanos proprietários de casas de bingo em São Paulo. Em troca da promessa de legalizar a jogatina, eles teriam injetado R$ 1 milhão na campanha de Lula em 2002, coordenada pelo ministro.
Há dois meses, outra denúncia causou constrangimento a Palocci: a de que o irmão dele, Adhemar Palocci, teria feito tráfico de influência em favor de uma seguradora chamada Interbrazil. Em troca, a empresa teria doado dinheiro para a campanha do PT nas últimas eleições municipais em Goiânia, onde Adhemar foi secretário de Finanças e coordenou a campanha do ex-prefeito Pedro Wilson (PT) à reeleição.
A série de denúncias envolvendo o ministro e ex-assessores já derrubou o seu chefe de gabinete. Juscelino Dourado deixou o cargo a Fazenda após admitir ter recebido Buratti várias vezes no ministério e ter trocado telefonemas freqüentes com o advogado, acusado de cobrar propina da multinacional Gtech para facilitar os negócios da empresa na Caixa Econômica Federal (CEF).
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