A reforma política se resumirá, no máximo, a alterações nas regras de fidelidade partidária, pois é o único ponto sobre o qual há consenso entre os parlamentares. Mesmo assim, a forma como será garantida essa fidelidade ainda é uma grande dúvida. A análise é do mais jovem parlamentar do Congresso Nacional, o deputado Fernando Coelho Filho (PSB-PE), hoje com 23 anos e eleito e empossado aos 22.
Na opinião dele, as reformas política e tributária deveriam ser as prioridades do Congresso empossado em fevereiro de 2007. Mas ele tem pouca esperança de que elas saiam do papel. “Dessa reforma política aí eu não vejo mais que dois pontos a serem votados. Acho que a fidelidade partidária é um deles. Mas ainda assim não estou convencido”, afirma, referindo-se ao Projeto de Lei 1210/2007, que está na pauta de votação da Câmara. Ele ele lembra que ambos os temas já eram discutidos em 1992, quando seu pai, Fernando Bezerra, era deputado federal. "E até hoje nada mudou", diz.
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Fernando Coelho Filho chegou ao Parlamento com a idéia de que o Legislativo poderia ser mais rápido, mas mostra-se pessimista quanto a perspectivas de mudanças. Após um semestre de trabalho, o deputado afirma que passou “a primeira fase de euforia, passou aquela parte da insatisfação de que nada acontece” e agora ele está começando a entender "como as coisas funcionam na Casa".
Diz que pretende seguir carreira como político e que vê a função de deputado como a uma profissão. Apesar de jovem, garante que não se arrepende de ter de abrir mão da companhia dos amigos para cumprir sua agenda, pois tem “um objetivo maior”. Entre suas metas estão a reeleição e a possibilidade de conquistar cargos no Executivo, como prefeito e até governador.
Mesmo acreditando que a renovação nos quadros políticos contribui para oxigenar as idéias da Câmara, ele admite que os novatos não têm experiência e nem poder suficientes para conseguir mudanças significativas. “Nós estamos mais com a cabeça de quem estava lá fora e achando que aqui podia ser diferente”, diz. “Concordo que as coisas deveriam ser mais rápidas, mas a medida em que vamos fazendo esse tipo de comentário a gente vai vendo que as coisas não são tão simples assim. E pra quem está de fora é mais complicado para entender”, argumenta.
O deputado cita o excesso de medidas provisórias como um dos motivos pela demora na aprovação das leis, mas, ao mesmo tempo, garante que se estivesse no Executivo não abriria mão desse elemento. “Eles [o Executivo] precisam de certas medidas num timing que a Câmara do jeito que está e o Congresso do jeito que está não conseguem entregar nesse tempo. Então eles usam esse artifício, e eu acho que se estivesse no Executivo também usaria esse instrumento”, diz.
A solução, segundo Fernando Coelho Filho, é encontrar um meio termo. “Tem que chegar a um meio termo. Não sei se é limitar a medida provisória, ou é tornar os passos dos projetos de lei mais curtos para que eles possam de fato ir para plenário e serem apreciados em um menor espaço de tempo, mas a gente vai tentando, pelo menos no meu caso, se adequar ao trabalho que está sendo feito há muito tempo. E não é a gente que acabou de chegar que em pouco tempo e com pouca experiência vai mudar essa realidade”.
Adaptação
Apesar de sempre ter convivido com a política e de ter acompanhado seu pai em diversas campanhas e compromissos, Fernando Coelho Filho admite que optar por concorrer a deputado federal foi uma decisão difícil. Ele conta que mesmo antes de terminar a faculdade de Administração de Empresas já havia decidido ser político, mas sua idéia inicial era concorrer a deputado estadual.
O pai, no entanto, que já foi deputado federal, prefeito e governador, o convenceu a tentar dar um passo maior, confiando na estrutura partidária que estava à disposição dele. A estratégia deu certo e Fernando Coelho Filho foi eleito com 118 mil votos, cerca de 50 mil a menos que o quociente eleitoral do estado.
O deputado conta que ainda está em uma rotina de trânsito constante para seu estado, que não conheceu amigos e nem teve oportunidade para sair em Brasília, mas afirma que solicitou um apartamento funcional para tentar passar mais tempo na cidade.
“Aqui só conheço a turma da Câmara e se me perguntarem o que você gosta de fazer aqui [em Brasília] eu não sei, porque ainda não conheço a cidade. Minha agenda é terça-feira evento, quarta-feira jantar e quinta-feira aeroporto”, diz.
Mesmo em seu estado natal, no entanto, o jovem deputado, agora com 23 anos, diz que não tem tido tempo livre. “Me chamam para ir para a praia, mas aí tem um evento com a presença do governador lá na minha cidade, ou tem uma festa em uma cidade em que fui bem votado. Então são eventos que não posso deixar de estar. Acabo condicionando essa outra parte social e pessoal ao que sobrou de brecha da outra agenda”, diz.
Mas essa rotina não é estranha a ele. O deputado lembra que desde os 15 anos já acompanhava o pai em suas campanhas e visitas ao estado. “Deixei de viajar com meus amigos para Porto Seguro no 3° ano do Ensino Médio para acompanhar meu pai em campanha”.
Apesar de ter tido o apoio do pai desde o primeiro momento, o deputado conta que a notícia de que concorreria à eleição chocou sua mãe no início. “Ela me disse para pensar bem, porque sabe como é difícil a vida de um político, mas depois apoiou. Agora ela está até fazendo um livro com os recortes das reportagens nas quais eu apareço”, destaca Fernando Coelho Filho.
O deputado é o mais velho de três irmãos e conta que um deles já demonstra vontade de entrar para a política também. “Quando não posso ir em algum evento ele diz que vai em meu lugar, me representando”.
Veja os principais trechos da entrevista com Fernando Coelho Filho:
Quais foram suas primeiras impressões aqui na Câmara? Era o que você esperava, sentiu alguma dificuldade?
Primeiro eu fiquei surpreso com o companheirismo dos meus pares, achei que ia encontrar alguma resistência pela questão da idade e não encontrei nada disso. Não sei se foi por causa do número considerável de deputados com menos de 30 anos que entraram nessa Legislatura – foram cerca de 17 deputados –, mas acho que isso pode ter ajudado. Mesmo assim a receptividade aqui me causou uma certa surpresa porque eu achei que não ia ser tão fácil. Não sei também se tem a ver com o fato de eu pertencer a uma família que já faz política há muitos anos e as pessoas já conhecem meus tios, meu pai, meus avôs e isso pode ter facilitado, mas o fato é que eu me surpreendi com a forma amistosa que a gente foi recebido. Os deputados se colocando à disposição para ajudar e orientar e isso foi uma boa surpresa. E é claro que quando a gente chega aqui passa a conhecer o funcionamento da Casa, e nem tudo anda na velocidade e acontece da forma que a gente gostaria que acontecesse ou achava que devia acontecer. Aqui as coisas de fato demoram e isso poderia ser enquadrado, não sei se a palavra é frustração, mas a gente percebeu a velocidade com que as coisas andam aqui e isso deixou a gente um pouco assim.
Mas você está gostando?
As pessoas que me perguntam o que eu estou achando eu digo que passou a primeira fase de euforia, passou aquela parte, pelo menos para mim, da insatisfação de que nada acontece e aí você começa a entender como é que as coisas funcionam e acho que é mais o menos no pé que eu estou agora. É obvio que ainda vai levar um tempo para entrar no ritmo e pegar o funcionamento das coisas, mas a gente já tem feito algumas ações, alguns trabalhos, tentando dar uma resposta ao nosso público ao nosso eleitorado dentro do que aprendemos nesses poucos meses que estamos aqui. E eu particularmente estou gostando e sei que é só o começo, que muitas coisas ainda vão acontecer. Sei também que esse começo está sendo um pouco conturbado por tudo isso que está acontecendo na Casa, mas acho que serve também como um ensinamento para a gente porque se não fosse agora em algum momento a gente ia se deparar com situações assim.
Ao falar em momento conturbardo se refere especificamente a que?
Às crises. Esse ambiente que não é o ambiente normal do Congresso. Apesar de nos últimos anos ter sido muito carregado, mas a gente sabe que pelo menos não era para ser assim. Mas acho que isso serve para nós que estamos chegando agora como um aprendizado. Então eu tenho gostado, concordo que as coisas deveriam ser mais rápidas, mas a medida em que vamos fazendo esse tipo de comentário de que as coisas deviam ser mais rápidas a gente vai vendo que as coisas não são tão simples assim. E pra quem está de fora é mais complicado para entender.
Qual a dificuldade?
Por exemplo, muitas pessoas falam, e é muito fácil falar: “ah, é muita medida provisória”. Eu até concordo que é muita medida provisória, mas me coloco também pelo lado do Executivo, apesar de ser da base do governo, mas eu me coloco. Eles precisam de certas medidas num timing que a Câmara do jeito que está e o Congresso do jeito que está não conseguem entregar. Então eles usam esse artifício, e eu acho que se estivesse no Executivo também usaria esse instrumento. E aí você ouve de tudo aqui na Câmara, como: “vamos tirar a terça-feira só para projeto de lei e deixar a quarta-feira só para a medida provisória”. Você falar assim soa bastante tentador, porque prestigiaria os dois lados. Mas acho que não é fácil assim que você faz essa divisão. Tem que chegar a um meio termo. Não sei se é limitar a medida provisória, ou é tornar os passos dos projetos de lei mais curtos para que eles possam de fato ir para plenário e serem apreciados em um menor espaço de tempo, mas a gente vai tentando, pelo menos no meu caso, se adequar ao trabalho que está sendo feito há muito tempo. E não é a gente que acabou de chegar que em pouco tempo e com pouca experiência vai mudar toda essa realidade. E a gente vivendo agora esse outro momento, ou pelo menos é o que eles estão querendo aí, dessas reformas, principalmente da reforma política. Eu acho que isso também para nós que estamos chegando agora é importante como aprendizado para a nossa formação política, para a nossa carreira. Eu particularmente tenho me colocado no meu papel dentro do partido e do bloco de me colocar a par de todas discussões, mas muito mais com aquela história de dois ouvidos e uma boca, procurando ouvir as opiniões. E graças a Deus tenho conseguido fazer amizade e relacionamento com todo mundo aqui desde Democratas a PT, desde PSDB a PCdoB e acho que isso é importante e foi uma coisa que percebi, que independentemente do lado partidário, que também é importante pois não estou dizendo que as pessoas não tenham que ter a sua ideologia, mas o relacionamento é que é o fundamental, o primordial. É você conseguir transitar por todos os lados e se dar bem com todo mundo. E na medida do possível, é o que estou tentando fazer.
Qual a sua opinião sobre a reforma política?
O povo fala de reforma política e a gente sabe que são vários pontos. E a gente sabe que não há consenso entre eles. No meu partido também não tem e é um partido que não pequeno, mas também não é grande, são 29 deputados. Mas, por exemplo, a questão da fidelidade partidária, eu sou a favor. A questão do financiamento público de campanha, todo mundo fala, mas até onde eu sei ninguém veio explicar para a gente como vai ser feito esse financiamento. Lista fechada acho que pode ser interessante. Mas aí você vai fazer uma lista fechada com financiamento público de campanha e vai dizer para o eleitor que quem vai financiar as campanhas são eles. Eu não sei como é que a população vai reagir a isso. Nosso partido fez uma reunião para debater isso e não foi fácil. Dentro de um partido de 29 já teve muita divergência imagina em 513. Então eu estou naquela: tenho a minha opinião, a questão da fidelidade partidária, do voto em lista, mas tenho procurado ouvir muito. Mas eu vou te falar que dessa reforma política aí eu não vejo mais que dois a serem votados. Acho que a fidelidade partidária seria um deles, mas ainda assim não estou convencido.
Quais são os principais argumentos contra e a favor a essa proposta da reforma política?
O voto em lista o pessoal fala muito que o mandato passa a ser do partido e que aí as pessoas iriam procurar exercer mais a vida partidária para poder se cacifar dentro do partido. E não vai ter mais aquela imagem da pessoa dona do mandato. No meu estado eu precisava de 170 mil votos para me eleger e eu me elegi com 118 mil. Eu sei que não me elegeria sem o partido, mas também sei que não foi só o partido que me elegeu nesse tipo de eleição que a gente passou. E acho que é válida essa questão das pessoas defenderem mais o partido e isso o voto em lista facilita. Mas de outra forma se tira da população a prerrogativa de poder escolher, de votar no candidato. Quer dizer, eu vou pedir para não votarem mais em mim, votarem no partido, mas quem vai determinar essa ordem não é mais a população é o partido. Por mais que você esteja fazendo um trabalho dentro do partido vai sempre sobrar para um grupo, que não é a população, dizer quem vai em tal ordem. E aí falo com toda a sinceridade, ainda não está muito claro para mim qual é o certo.
Além da reforma política que outros temas você considera essenciais para serem votados com rapidez?
Sinceridade? Essenciais, bom, todo mundo fala em reforma tributária. E eu também acho que reforma tributária é essencial, mas eu tive um pai que saiu daqui em 1992 e já naquele ano ele trabalhava na reforma tributária, e até hoje a reforma não saiu. E eu acho que tem que sair, mas se você me pergunta se eu acredito que vai sair, eu acho muito difícil. Até porque o país está vivendo um momento em que as receitas dos estados e da União estão crescendo e ninguém vai querer mexer em algo que está ascendente. Mas por outro lado acho que é uma oportunidade de já que o cenário é favorável de fazer mudança, mas isso é opinião exclusiva minha. Mas tem vários outros temas, a questão da reforma política, da reeleição. Acho que é importante definir logo a regra do jogo. Porque fica a cada eleição todo mundo falando de coincidência de mandato, reeleição ou não reeleição. Então chego uma hora em que temos que definir quais serão as regras do jogo e pronto. É claro que isso tem muito do imediatismo de quem está chegando agora. Talvez se fosse uma entrevista com um deputado que está aí a três ou quatro mandatos ele certamente vai ter outra opinião até pelo tempo, pela experiência e pela vivência. Essa é a minha concepção de quem vê e pensa: “poxa, podia ser tudo tão mais simples e não é”, mas também sei que as coisas não são assim tão fáceis. Enfim, eu acho que é essa, dentro do que for plausível, a contribuição que nós novatos podemos dar, mostrando nossas decepções, nossas angustias de pessoas que chegaram aqui a menos tempo e de que estavam mais tempo fora daqui. Nós estamos mais com a cabeça de quem estava lá fora e achando que aqui podia ser diferente. Então é isso que a gente tenta colocar nas reuniões do partido e às vezes a gente consegue convencer as pessoas, outras vezes acabamos convencidos de que o melhor era do outro jeito mesmo. Mas a idéia é essa mesma, tem que aprender a negociar e a ceder.
Qual foi a sua maior dificuldade até agora? Teve alguma?
Eu diria que foi no começo, porque você chega em um ambiente novo, ainda mais sendo o mais novo, e sente uma insegurança, fica sem saber como agir, onde está pisando, ou como é que tem de ser. Apesar de saber que mesmo sendo o mais novo estou aqui igual a todo mundo, sou apenas um dos 513, mas no começo essa falta de conhecimento do terreno me deixou um pouco inseguro. Aí na medida em que fui me relacionando e conhecendo as pessoas e a forma como as pessoas foram me recebendo, foi quebrando essa resistência. Mas no primeiro mês fiquei meio assim, olhando para um lado e para o outro, me perguntando o que foi que vim fazer aqui.
Sua família tem uma longa tradição na política e você é novo e está aprendendo agora. Na sua opinião, é melhor para o funcionamento do Parlamento ter a reeleição, ou ter sempre a renovação?
Tem a questão do Legislativo e do Executivo. Pelo Legislativo acho que não tem problema ter reeleição até porque aqui as pessoas vão aprimorando ao longo do tempo e acho que na hora de elaborar as leis a experiência ajuda. Agora no Executivo, eu não sou contrário à reeleição, por mim do jeito que está, está bom. Agora para terminar com a reeleição tem que ter uma mudança nos mandatos, porque quatro anos só é muito pouco. Teria que ser um mandato maior.
Você vê algum tipo de vício em políticos mais antigos?
Eu acho que é natural, é diferente o tipo de atitude de pessoas que estão aqui há quatro, cinco mandatos. Mas aí tem a oportunidade da renovação a cada quatro anos.
Mas que tipos de vícios seriam esses?
Bom, primeiro eu não conheço esses tipos de vícios, depois não me sinto à vontade para falar. Mas assim, eu conheço deputados que estão aqui há muito tempo e que têm a mesma vontade, a mesma efusividade de ir atrás e de falar que um deputado novo. E tem outras pessoas que estão aqui há muito tempo e que a gente nem vê em plenário. E já me falaram que vai ter gente aqui que eu nem vou chegar a ver, mas talvez essas pessoas logo que chegaram aqui também não aparecessem. Então para mim não é uma questão de mais mandatos ou menos mandatos, vai muito do comportamento. Mas acredito que a renovação faz bem, até porque sou fruto disso. Mas não só na política como no meio empresarial e religioso e em todo canto essa renovação faz bem e por isso acredito que a eleição a cada quatro anos faz bem, pois a pessoa pode escolher se vai mandar de volta ou não aquele representante. Mas não vejo que uma pessoa ficar aqui muito tempo seja um fato negativo para a Casa, apesar de achar que a Casa, e é com todo respeito que eu digo, ainda é uma Casa muito velha, muito conservadora. Os jovens aqui são minoria. Ter 17 no meio de 513 com menos de 30 anos é muito pouco. Acho que esse número tinha que crescer.
Que tipo de contribuição os jovens podem trazer para o Congresso?
Eu acho que é essa percepção de estar recém-chegado, essa percepção de quem está fora. Não estou dizendo que nós estamos certos e quem está aqui está errado, mas a gente traz alguns sentimentos, que obvio quando a gente chega aqui percebe que não vai ser tão rápido quanto gostaríamos.
Mas você está falando da renovação como um tudo. E em questão de idade?
Aí vai muito da área que cada um atua. Alguns estão na área de esportes, outros trabalham com políticas para a juventude. E cada um tem seu ramo. Tem muitos que são jovens ainda, mas já atuam na área empresarial. Então não julgo pela questão da idade, porque apesar de jovens cada um já tem seu nome. Não é por ser novo que tem que atuar com juventude. Até porque tem a juventude empresarial e tem a juventude em cada ramo de segmentos. Eu mesmo sou novo e estou na Comissão de Agricultura e eu nem sei qual a idade do segundo mais novo, mas lá no meu estado, no meu dia-a-dia é o importante. Dentro da minha realidade é a agricultura. Então vai muito da pessoa, da formação e da realidade do lugar que ela representa. Eu venho de um lugar que é o maior pólo de fruticultura irrigada do país, então acho que tem a ver. A base da economia de lá é a agricultura irrigada então acho importante fazer parte dessa comissão.
E antes de ser deputado o que você fazia?
Eu me formei em junho de 2006 em Administração de Empresas. Estudei em São Paulo e já acompanhava a política há um tempo, porque venho de uma família de políticos. Acompanhava de perto as caminhadas políticas do meu pai. Nunca tive um mandato, esse é meu primeiro, mas participava de campanhas políticas indiretamente. E já antes de me formar eu já estava trabalhando essa candidatura. Fiz meu estágio na época da faculdade, mas já no final da faculdade eu saí do estágio para poder conciliar os estudos em São Paulo, durante a semana, e nos finais de semana eu ia para Pernambuco, porque era um nome novo e já no início de 2005 comecei a parte de visitas àquelas pessoas que sempre acompanham nosso grupo político. Comecei a rodar o estado, conhecer as regiões, as cidades. Então esse dever de casa eu fiz. Durante o final da minha preparação acadêmica eu já estava com isso muito bem definido, muito focado. E depois se intensificou durante a campanha e deu certo.
E quando começou essa vontade de ser político?
Desde muito cedo eu já acompanhava meu pai. Quando ele se elegeu a primeira vez em 1982 eu nem era nascido, na época ele tinha 23 anos. Depois ele se elegeu estadual eu ainda não era nascido, aí depois ele se elegeu federal em 1986 e eu já era nascido, mas aí eu comecei a acompanhar mesmo ele durante o primeiro mandato dele de prefeito de 1993 a 1996. Eu era muito pequeno, mas ia com ele nas visitas aos municípios. Aí em 1996 teve a eleição do sucessor dele, que perdeu. E você imagina para um menino isso, porque é claro que todo mundo quer vencer. E a eleição naquela época era muito traumatizante porque a apuração durava uns quatro dias. Aí aquilo passou, foi uma fase. Depois ele foi ser secretário de estado e eu acompanhei bem ele. Foi a primeira vez que eu tive oportunidade de rodar o estado. Eu tinha uns 14 ou 15 anos e foi a primeira vez que tive uma noção do estado como um todo. Depois em 1998 ele disputou eleição majoritária no estado, foi candidato a governador e perdeu. Então eu conheci derrotas também. Apesar de em 2000 ele ter voltado para a prefeitura, mas um tio meu perdeu a eleição em 2002. Em 2004 meu pai se reelegeu. Então eu vi dentro desse meu aprendizado político muita vitória, mas também muita derrota. Então isso foi importante até para eu tomar essa decisão.
E quando foi que você tomou essa decisão de ser deputado?
Foi em 2004, quando meu pai era prefeito e eu já tinha aquele desejo de disputar em 2006, mas estava condicionado à vitória dele, porque se ele perdesse o candidato natural seria ele. Terminou a eleição, ele se reelegeu e eu tive uma conversa com ele. Eu tomei a iniciativa e falei que poderia ser candidato a deputado estadual e foi quando ele colocou para mim que seria para candidato a deputado federal e expôs as razões dele. E tem uma até que eu gosto. Ele disse assim: “Olha, meu filho, em 82 quando eu me elegi eu só tive um voto, que foi o meu. O resto foi da estrutura, da família que já fazia política há muito tempo. Mas coube a mim manter esses votos que me foram confiados e eu consegui manter garças a Deus até agora. E se você quiser ser candidato ou a deputado estadual ou a federal você vai ter três votos, o meu, o seu e o da sua mãe. O resto vai ser da estrutura porque a gente vem trabalhando há muito tempo e caberá a você manter”. Mas teve outra coisa que ele falou também: “Não adianta você querer me agradar, vai ter que ser uma decisão sua, porque só vai ser bom mesmo se você quiser, se você estiver feliz”. E eu não tomei a decisão na hora, passou um tempo, foi difícil tomar essa decisão, mas tomei e quis ser deputado. Porque eu gostava, sempre gostei de acompanhar e me apareceu a oportunidade de começar a construir minha vida política. Eu não quero dissociar hora nenhuma do meu pai, até porque eu cresci sendo o filho de Fernando. Mas agora tem Fernando e tem Fernando Filho também. Não quer dizer que a gente vá caminhar por lados opostos, mas são duas carreiras distintas agora, e eu tive essa oportunidade que me aconteceu. E facilitou para eu ter esse mandato de federal logo de cara, porque começou a acontecer muita coisa aqui no Congresso Nacional. Então teve aquela questão da renovação, nome novo e com tudo aquilo que estava acontecendo isso facilitou a minha eleição. E também particularmente Pernambuco passava por um momento desse de renovação dos quadros políticos do estado. Tivemos uma eleição para governador que os três candidatos não tinham mais que 43 anos de idade. E depois a gente viu que teve um número considerável de deputados novos e que entraram na atual legislatura. Foi mais assim, fruto de muita conversa e decisão pessoal minha. Porque às vezes tem gente que pode achar que por ser filho de político me empurraram aqui para ocupar um espaço e tenho noção do papel que ocupo não só como deputado federal, mas também dentro do nosso grupo político, da importância que tem, mas não estou aqui ocupando o lugar de ninguém. To ocupando um lugar que é meu e dentro do grupo exerço um papel que é importante para o que a gente pretende mais para frente. Meu pai tem as aspirações dele, outras pessoas do grupo tem também e eu tenho as minhas.
E quais são as suas aspirações?
Eu quero agora, sinceramente, não sei se é consolidar a palavra, mas fazer um primeiro bom mandato. Claro que está muito longe, não adianta falar, mas não penso em sair daqui agora para disputar nenhum outro tipo de mandato, apesar de querer passar por uma experiência no Executivo, que eu acho que é importante, a nível de prefeitura, mas não é agora. Quero fazer um bom mandato, aprender, me relacionar aqui bem e se já fosse daqui a três anos eu diria que ia disputar uma reeleição, mas ainda está muito cedo, falta muito ainda.
Para você um bom mandato é feito de quê?
Para mim um bom mandato é feito, primeiro, da gente conseguir estar traduzindo aqui a demanda que a gente recebe lá na base. Claro que não é automático, não é fácil, volta para a vagareza das coisas. Muitas vezes as pessoas te chamam, te puxam lá na esquina, te pedem alguma coisa e você sabe que é importante, se sensibiliza, mas não adianta a gente chegar aqui, fazer um ofício ou pedir uma audiência com o ministro para resolver o problema. Mas acho que cabe à gente esse meio de campo, então se eu conseguir, ao longo dos quatro anos, manter essa proximidade com a minha base, no caso a população que votou em mim, conseguir estar dando satisfação das nossas atitudes aqui e conseguir estar me realizando pessoalmente e profissionalmente, eu acho que não sei se vai ser o melhor mandato da Casa, mas para mim pelo menos vai ser um bom mandato. Isso daí vai ser todo dia, não vou começar e parar.
Então você pretende seguir mesmo uma carreira política?
Pretendo. Chegar a prefeito, quem sabe governador. Quem sabe. Eu gosto. É claro que tem momentos em que você está estourado, mas tenho aqui como qualquer outro trabalho, como quando eu trabalhava no banco. E eu gosto de fazer o que eu faço. As pessoas me perguntam como eu estou conciliando com a minha vida pessoal. Quando saí da minha cidade tive a oportunidade de ver um mundo diferente, conhecer novas pessoas, mas ainda não tenho essa sensação de que mudou tanto assim.
O que mais mudou?
Eu diria que a agenda, a companhia, a responsabilidade. Eu tava até discutindo com o meu chefe de gabinete que vou ter que rever minha agenda, porque estou em um ritmo em que acabo focando só nisso e deixando o lado pessoal de lado por ser novo, não ter mulher e nem filhos, e nem aquela cobrança em casa. Isso é bom nesse início, mas eu fico imaginando para os meus pares que têm mulher e filhos e ainda têm que conciliar. Mas eu sinto falta, não do ritmo de vida que levava, mas dos momentos mais livres. É claro que se você quiser ter momentos mais livres você tem.
E o que você gostava de fazer nesses momentos mais livres?
Sair com o pessoal, desde festas e baladas até sair para jantar, passar um final de semana com a turma. Porque o que acontece é que me chamam para ir para a praia, mas aí tem um evento com a presença do governador lá na minha cidade, ou tem uma festa em uma cidade em que fui bem votado. Então são eventos que não posso deixar de estar. Então acabo condicionando essa outra parte social e pessoal ao que sobrou de brecha da outra agenda. E se a pessoa não tiver muito bem definido o que quer da vida, acaba fazendo confusão e atropelando. E tem horas que você sente falta. Pelo menos até agora não é algo que está dando vontade de jogar tudo para o alto, sair correndo, mas você começa a abrir mão de algumas coisas. Mas no final das contas estou investindo em um outro propósito que para mim é muito maior.
Você gosta de ler e ouvir música?
Música eu gosto de tudo e livros eu gosto de ler, mas não tenho um preferido. Gosto muito de ficção. Estou lendo uma série de livros sobre os reis da França. São sete volumes, terminei o quarto e agora estou lendo um livro em inglês porque tem um irmão meu na Inglaterra que me deu e é sobre a ascensão do império britânico. Não tem nada a ver uma coisa com a outra, mas eu leio. Também gosto de ler Sidney Sheldon de vez em quando, essas ficções. Ainda mais agora nesse ritmo de avião que tem aumentado meu tempo de leitura.