Alex Canziani*
Diante de desafios monumentais e com pouco tempo disponível, o governo tomou duas iniciativas para tirar a educação brasileira da UTI: enfrentar a crise do setor pelo seu maior gargalo – o ensino médio, e agilizar a aprovação de uma reforma por meio de medida provisória. Se a necessidade de mudar o ciclo final da educação básica é consenso, o caminho legislativo adotado tem sido alvo de resistências. Acusam a estratégia do governo de restringir o debate e forçar uma decisão sem o respaldo dos principais setores interessados. Pior, ingressaram com ações de inconstitucionalidade da medida no STF por entender que ela não atende a pressupostos de urgência e relevância. Os argumentos não procedem.
A reforma do ensino médio é um debate atual, mas não é novo. Tem início ainda em meados dos anos 90 durante a discussão e aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Com a LDB, o ensino médio deixou de ser considerado apenas como meio de acesso ao Ensino Superior, para ser a etapa final da Educação Básica. A discussão prosseguiu com diretrizes curriculares nacionais em 1998 e com os debates sobre a reforma do Ensino Médio na Comissão de Educação em 2002, que evoluiu para a criação do Fundeb.
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A criação do novo Enem, em 2009, no entanto, acabou por reforçar o Ensino Médio como preparatório para o vestibular, aprofundando o seu caráter excludente e engessado. De 2010 a 2014, intensos debates antecederam a aprovação do Plano Nacional de Educação, que, entre outras diretrizes, preconiza a universalização do Ensino Médio, a melhoria da qualidade e a flexibilização do sistema e dos currículos, para atender melhor às necessidades e demandas da juventude.
O redesenho curricular já vinha sendo perseguido em ações articuladas do Programa Ensino Médio Inovador com a formação continuada de professores, que materializavam as diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Médio definidas pelo Conselho Nacional de Educação em 2012. Lançado no ano seguinte, o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio procurou coordenar as ações e estratégias entre União e os governos estaduais e distrital na formulação e implantação de políticas para elevar o padrão de qualidade do Ensino Médio. Mas todas essas iniciativas não foram suficientes para deslanchar a reforma desejada.
Como se evidencia, não há açodamento e nem falta de canais de diálogo. O que há é falta de decisão. O Brasil começou os debates muito antes de outras nações que já promoveram suas mudanças curriculares.
PublicidadeO Congresso tenta cumprir o seu papel, mas o sistema bicameral e um processo legislativo extremamente favorável às obstruções das minorias dificultam, quando não inviabilizam, o processo decisório.
A Câmara tem uma proposta de reforma do Ensino Médio pronta para a pauta do plenário. Ela consolida 17 meses de debates na comissão especial, que ouviu especialistas e interessados no assunto entre 2013 e 2014.
A proposta enviada pelo governo reproduz em grande parte o projeto aprovado na Câmara e a criação, agora, de uma comissão mista para decidir sobre ela restaura, e não restringe, o debate. Melhor. Permite que as discussões sejam retomadas com a participação de todos os atores interessados – professores, alunos, gestores e pesquisadores, diante de um colegiado formado por deputados e senadores, o que facilita a negociação e viabiliza sua aprovação na urgência que a matéria requer.
Estudo mostra que 1,3 milhão de jovens de 15 a 17 anos abandonam escola todos os anos, elevando a evasão nessa fase de 5% em 2004 para 19% em 2014. O Ideb divulgado recentemente indica que o nosso ensino médio está estagnado desde 2011, quando, 5,2 milhões de jovens de 15 a 24 anos estavam fora da escola e 58% estavam abaixo do nível de proficiência esperado. O quadro indica que essa é, sim, uma matéria relevante e urgente.
Precisamos aproveitar esta grande oportunidade – a disposição política do governo, o conhecimento acumulado e a mobilização de alunos e professores Brasil afora – para fazer escolhas que não podemos mais adiar. Vamos juntos construir a educação que país sonha e os brasileiros merecem.
*Alex Canziani é deputado federal pelo PTB do PR, presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação e Quarto Secretário da Câmara dos Deputados