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Está nas mãos, ou melhor, na boca do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), a senha para a retomada dos trabalhos na Casa, segundo o vice-líder do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP). Na avaliação dele, a emenda da reeleição da mesa-diretora é o principal motivo da insatisfação que tomou conta dos parlamentares e mergulhou a Câmara em uma de suas maiores crises com o Executivo. Em entrevista ao Congresso em Foco, Cardozo cobra de João Paulo e do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), uma declaração pública de que não ambicionam mais a reeleição. “Seria um gesto de grandiosidade dos presidentes da Câmara e do Senado se eles afirmassem publicamente que não querem mais a reeleição”, afirma. O assunto, segundo o deputado, não incomoda apenas o PMDB, mas todos os partidos. “Enquanto não se abandonar esse projeto (emenda da reeleição), dificilmente o equilíbrio e a recomposição voltarão a existir na base governista”, avalia. Leia também Na semana passada, João Paulo deu mostras de que já desistiu da idéia de permanecer no cargo por mais dois anos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também teria admitido a senadores peemedebistas que a operação havia sido abortada. Mas a falta de uma declaração mais incisiva do presidente da Câmara ainda gera desconfiança entre os demais parlamentares. O vice-líder foi um dos sete deputados do partido que ajudaram a derrubar o substitutivo da emenda da reeleição em maio. Além dele, os deputados Chico Alencar (RJ), Henrique Fontana (RS), Ivan Valente (SP), Paulo Delgado (MG), Nazareno Fonteles (PI) e Walter Pinheiro (BA) votaram contra a proposição. Ainda assim, o PT foi a legenda que mais se empenhou na aprovação da proposta, com 78 favoráveis. Para Cardozo, a emenda é casuística e inaceitável. O deputado entende que a mudança na regra só poderia ser discutida para a próxima mesa-diretora. “É incorreto politicamente dizer mais uma vez que as pessoas valem mais do que as instituições”, avalia. Uma dos principais constitucionalistas do PT, Cardozo chegou ao seu primeiro mandato depois de se destacar na presidência da Câmara Municipal de São Paulo e na condução da CPI da Máfia dos Fiscais. Desembarcou em Brasília, há menos de dois anos, como o terceiro deputado mais bem votado de seu estado, atrás apenas de José Dirceu (PT), atual ministro da Casa Civil, e do fenômeno eleitoral Dr. Enéas (Prona). De lá pra cá, notabilizou-se como um dos maiores defensores da reforma política na Câmara. O deputado integrou a comissão especial que analisou o tema e é membro da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, que deve votar o parecer do relator nas próximas semanas. Para ele, só com o financiamento público de campanha e o voto em lista fechada, e não mais no candidato, o governo deixará de ser refém da negociação pulverizada com os parlamentares e passará a tratar diretamente com os partidos políticos. Em relação ao cenário eleitoral, o deputado critica o que chama de “tucano-estrelo-centrismo”, para se referir às avaliações que prevêem uma disputa restrita a PT e PSDB em 2006. Segundo ele, o partido pode tropeçar, caso leve adiante a visão maniqueísta assumida por parte da bancada. “É um equívoco o PT eleger o PSDB como seu único adversário, como se outras forças políticas não existissem no cenário brasileiro. Isso é subestimar a existência de outras forças, que podem ser nossas aliadas ou adversárias, até com maior ferocidade do que o PSDB”, adverte. |