Há menos de um ano, a presidente Dilma Rousseff classificou como um “verdadeiro escândalo” o que agora chama de medida necessária para tornar “mais eficiente” o gasto público: a redução no número de ministérios. Em 15 de setembro de 2014, quando caminhava para a reta final do primeiro turno, Dilma rechaçou qualquer possibilidade de enxugar a Esplanada dos Ministérios, como defendiam seus principais adversários, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e a ex-senadora Marina Silva (PSB). Ela acusou seus opositores de tentarem enfraquecer importantes áreas sociais do governo.
“Tem gente, inclusive, querendo reduzir ministérios. Vocês podem saber os ministérios que eles querem reduzir. Um deles é o da Igualdade Racial, o outro é o que luta em defesa da mulher. O outro é de Direitos Humanos. E tem um ministério que eu criei e eles estão querendo acabar, que é o da Micro e Pequena Empresa”, disse a presidente, citando secretarias que têm status de ministério, durante discurso na Central Única das Favelas (Cufa) no Rio.
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“Acho um verdadeiro escândalo querer acabar (com ministérios). Criei dois ministérios. O da Aviação Civil criei pela consciência absoluta de que havia uma verdadeira revolução no transporte por aviões no Brasil. Para se ter uma ideia, em 2003 eram 33 milhões de passageiros por ano e agora é de 111 milhões de passageiros por ano. A ampliação de aeroporto no Brasil é uma exigência desse processo de inclusão social”, continuou a então candidata à reeleição.
Em agosto do ano passado, ainda no início da campanha eleitoral, Dilma disse que a proposta de Aécio para reduzir o número de pastas refletia sua “cegueira tecnocrática”. “Quero saber qual (ministério) e quem vai fechar! Essas secretarias poderiam ter outro status, poderia ser apenas uma secretaria? Poderia. Não perceber (a importância) do status é uma cegueira tecnocrática”, afirmou.
Ainda em novembro do ano passado, Dilma chamou de “outra lorota”, em entrevista à Folha de S.Paulo, o corte de ministérios. Segundo ela, uma redução no número de pastas não traria economia real e ainda afetaria áreas envolvidas no plano de concessões, como portos e aeroportos. “Não tiro o ministério da Micro e Pequena Empresa nem que a vaca tussa. Já a Pesca não saiu do chão ainda. Ela vai decolar”, emendou.
Na última segunda-feira (24), o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, anunciou que o governo vai reduzir de 39 para 29 o total de ministérios. A medida faz parte de um pacote de reforma administrativa apresentado a ministros durante a reunião de coordenação política com Dilma. O governo definirá, até setembro, quais ministérios serão extintos.
Em entrevista aos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O Globo, publicada nessa terça-feira (25), a presidente afirmou que o principal objetivo do enxugamento é tornar os gastos mais eficientes. “Quero tornar eficiente o gasto. E tenho, ao mesmo tempo, de fazer a composição política”, declarou.
A petista também admitiu que errou ao demorar a reconhecer a gravidade da crise econômica. Segundo ela, medidas para corrigir os rumos da economia deveriam ter sido adotadas ainda no ano passado, quando se reelegeu. “Vocês sempre me perguntam: em que você errou? Eu fico pensando. Em ter demorado tanto para perceber que a situação podia ser mais grave do que imaginávamos.”